Procura-se colaborador engajado
07/01/2014 - por Silvia Noara Paladino
   Custos com falta de adesão a recomendações e tratamentos médicos podem significar mais da metade dos gastos totais de uma empresa com saúde; especialistas contam como reduzir este impacto

   Considere uma empresa de grande porte que soma gastos totais com saúde na ordem de R$ 52 milhões. Esta organização enfrenta um problema critico e dispendioso: mais da metade desse montante corresponde a custos indiretos, causados por perda de produtividade, absenteísmo, processos judiciais, entre outros fatores difíceis de se mensurar. Tais sintomas têm uma origem comum: a falta que engajamento dos colaboradores nos programas de benefício em saúde e a não adesão dos mesmos a recomendações e tratamentos médicos.

   Esta companhia não só existe, de fato, como também ilustra o cenário com que a médica Ana Cláudia Pinto lida todos os dias. No comando da área de clientes da AxisMed, empresa de gestão de saúde do Grupo Telefônica, ela trabalha junto ao corporativo dentro de um contexto desafiador. "A maior dificuldade é o gasto crescente com saúde. Em 1998, ele representava 4% da folha de pagamento de uma organização; hoje, corresponde a 11% diz a especialista, que acrescenta: "Dependendo da empresa, só perde para a folha de pagamento, e isso porque saúde nem é o negócio dela".

   existe uma dificuldade generalizada entre corporações de todos os setores no sentido de avaliar os benefícios disponíveis aos funcionários, se esses incentivos têm sido utilizados pelo público certo e, ainda, se endereçam os principais problemas internos. "Elas não conseguem avaliar os resultados do conjunto de investimentos que fazem, e isso cria um ciclo negativo, pois um mau diagnóstico levará a outra decisão ruim", explica o diretor técnico da Funcional, Gustavo Loubet Guimarães. 

   De acordo com ele, em geral, o custo de uma grande empresa com a falta de adesão dos colaboradores a ações de prevenção e diagnóstico , bem como tratamento médicos,equivale a 40% até 50% dos gastos totais com saúde. "Mas já vi casos desse número chegar a 65% de carga global, somando planos, custo-medicamento e outro programas, "conta o especialista, lembrando que o ideal é manter essa proporção na casa dos 30%.

   Gerenciar a engrenagem da saúde corporativa minimizar esse índice depende de tecnologia, metodologia, integração de informações e gestão dos dados. Desse encargo, nenhuma companhia deverá mais se isentar. "Durante certo tempo, as empresas delegaram a responsabilidade pelo desempenho desses programas aos planos de saúde ou corretoras com que trabalham. Mas cada vez mais as organizações têm um papel fundamental na gestão da saúde e de seus colaboradores ", alerta Guimarães. Parece um consenso entre os especialistas da área que as discussões em torno do tema beiram o estágio inicial. A boa notícia é que esse movimento está em franco crescimento, começando por negócios de grande porte e que têm uma maior necessidade de retenção de talentos , como industrias químicas, farmacêuticas e tecnológicas. "Aqueles que trabalham com profissionais mais qualificados estão mais atentos a saúde e investem mais nisso", complementa o diretor.

CULTURA DA SAÚDE 
   Para interromper o ciclo de ações mal planejadas e que geram pouco ou nenhum resultado para o negócio, Ana Cláudia ressalta, em primeiro lugar, a necessidade de interligar os benefícios oferecidos e as informações relacionadas a eles. A visão global e conectada de todas as ações, a partir do cruzamento e da análise de dados, é o que vai permitir uma boa gestão dos programas e ganhos concretos de eficiência e produtividade.

   Tudo isso esbarra, no entanto, em limitações da tecnologia disponível atualmente, na opinião da médica. " Já vi empresas investirem em sistemas de BI e depois não saberem o que fazer com elas. Não só porque não existe uma ferramenta completa, mas porque os dados não estão disponíveis ", ela afirma. Além dos fatores tecnológicos e metodológicos que podem reduzir o descuido dos funcionários em relação aos compromissos com a saúde, os especialistas acreditam na conscientização das pessoas quanto à responsabilidade de seguir as orientações médicas. Uma questão tão humana quanto problemática. Prova disso é que, segundo a médica, uma das maiores causas de insucesso terapêutico na especialidade em que atua - endocrinologia - é a falta de adesão ao medicamento. 
   "É preciso fazer um trabalho junto ao paciente para que ele adquira hábitos mais saudáveis, tenha um médico de confiança e siga o tratamento indicado. Não existe milagre, mas ficando próximo dele, dá para conseguir uma melhora", explica a executiva. E quanto maior a qualidade de vida dos participantes dos programas, menor a ocorrência de internações e uso de pronto-socorro. Por fim, menor será o indicador de afastamentos e o custo da empresa com gestão de saúde.

   Com todas essas perspectivas combinadas, a Natura colocou em prática um plano de formação de uma cultura em saúde entre seus colaboradores. Em parceria com a Funcional, o projeto teve início em 2009 com os objetivos de implementar ações mais certeiras, ampliar o conhecimento e a consciência da população interna quanto aos cuidados com a saúde e, ainda, aumentar a sinergia entre os serviços oferecidos.

   "A partir do momento que se investe em informação e acesso para que o colaborador possa praticar o que é recomendado, a adesão melhora", conta o gerente médico da Natura, Patrick Makhlouf. A empresa notava a fragilidade das ações pontuais, que muitas vezes aconteciam recorrentemente e sem uma medida clara do resultado que elas traziam.

   o programa principal ficou conhecido como "Quero estar bem". Dentro dele, a companhia desenvolveu ações baseadas em temas como utilização consciente do plano de saúde e realização de exames para prevenção de doenças como câncer de mama, próstata e ginecológico. Os resultados dessas iniciativas passaram a ser medidos a partir da integração das informações: dados de utilização do plano de assistência médica , ambulatórios internos, atendimentos assistenciais e ocupacionais, realização de exames de check-up, entre outros. 

   A funcional entrou com a infraestrutura de TI para receber esse montante de dados e gerar as análises. Com elas, um comitê de saúde da Natura se reúne mensalmente e, a quatro meses, é feita uma macro integração de todas as informações a fim de identificar se alguma adequação é necessária ao programa para atingir os objetivos.Observamos quais patologias aparecem, quem já tem um diagnóstico estabelecido e quem está cumprindo um protocolo mínimo de cuidados", detalhe o Markhlouf.

   O médico reporta o aumento significativo de exames preventivos após o início do projeto e a comunicação periódica e constante junto aos colaboradores. Além disso, as ações já existentes foram revisitadas, como o intuito de atingir as pessoas certas e obter resultados efetivos.

Ele menciona o caso do programa de pré-natal para gestantes . A campanha premiava as grávidas que faziam o exame internamente com um "upgrade" de acomodação. No entanto, a companhia começou a notar a repetição da realização de pré-natal para garantia do prêmio. " Por isso, reformulamos o programa, para não gerar duplicidade de custos", explica o Markhlouf.

   A Natura não revela a variação do índice de não adesão ás recomendações e tratamentos médicos após o desenvolvimento do projeto, apenas que ele propiciou o mais engajamento dos funcionários e a criação de uma cultura da saúde. 



   

 




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