Expansão de genéricos perde fôlego
Valor Econômico
09/05/2013

Expansão de genéricos perde fôlego

Por Mônica Scaramuzzo | De São Paulo
 
Ana Paula Paiva/Valor / Ana Paula Paiva/Valor
Telma Salles, presidente da Pró Genéricos: "Apesar da desaceleração, os genéricos têm forte potencial de expansão"

 

Arquirrivais no segmento de genéricos, a brasileira EMS e a Medley, controlada pela francesa Sanofi, disputam palmo a palmo cada espaço nas prateleiras das farmácias do país. A estratégia adotada por essas empresas e concorrentes - a política agressiva de descontos - até então era a principal arma para avançar em participação de mercado. Essa prática, contudo, chegou ao seu limite, segundo especialistas ouvidos pelo Valor. "A farra dos descontos está acabando", disse uma fonte.

Por lei, os medicamentos genéricos são 35% mais baratos que os de referência. Mas, na prática, a média de descontos sobre esses produtos chega a 50%. "No mercado, muitas companhias concediam 90% de desconto para determinados produtos para ganhar mercado", disse a mesma fonte.

As vendas de medicamentos no país estão perdendo fôlego nesses últimos meses, o que para as indústrias já é considerado um fator de alerta. No caso dos genéricos, que registram um crescimento acima da média dos produtos de referência, as farmacêuticas já sinalizam rever a rota de expansão do setor.

No primeiro trimestre, a participação dos medicamentos genéricos no mercado nacional ficou em 27,3%. No mesmo período do ano passado, a fatia era de 25,8%, de acordo com a Associação Brasileira de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos). "A nossa meta é encerrar este ano com 30% de participação e, em 2015, com 35%. Mas vamos fazer uma revisão", afirmou ao Valor a presidente da Pró Genéricos, Telma Salles.

As vendas de medicamentos genéricos no período totalizaram 176,5 milhões de unidades, aumento de 15,5% sobre o primeiro trimestre de 2012. Em receita, o setor movimentou R$ 2,9 bilhões, alta de 21% sobre o mesmo período do ano passado. O mercado farmacêutico total, que inclui todas as categorias de medicamentos, somou 657,8 milhões de unidades no período, alta de 9,8% em relação ao registrado nos primeiro três meses de 2012. Ao excluir os genéricos das vendas totais, o crescimento do setor foi menor: 8,4% em unidades. Em valores, o desempenho chega a ser negativo em 2,8% sem contabilizar os genéricos, segundo a consultoria IMS Health.

O mercado de genéricos continua impulsionando as indústrias, mas as vendas estão bem abaixo da média observada há dois anos, disse Telma Salles. Entre 2010 e 2011, o setor viveu uma fase de ouro, com a queda de importantes patentes, como o Lipitor (combate colesterol elevado), o Viagra (disfunção erétil), ambos da Pfizer, e o Crestor (doenças cardíacas), da AstraZeneca, considerados "blockbusters" (campeões de venda). A era das famosas moléculas está se esgotando. Para este ano, entre os principais produtos que devem perder a patente estão o Ezetimiba (MSD), para tratar colesterol; Neofinavir (Roche), utilizado no coquetel da Aids; e o Sirolimus (Wyeth), imunossupressor para evitar rejeição e órgãos transplantados. "Apesar da desaceleração das vendas, o mercado de genéricos tem forte potencial de expansão."

Uma pesquisa feita pelo Instituto de Pós-Graduação para Farmacêuticos (ICTQ) mostra que 68% dos brasileiros declaram consumir genéricos. Esse consumo, contudo, está concentrado nas capitais do Sudeste e Sul do país - o Estado de São Paulo está em primeiro lugar. De acordo com a mesma pesquisa, 70% dos brasileiros declaram confiar na eficácia desses medicamentos. Os laboratórios Medley, Neo Química, Eurofarma, Aché, EMS e Teuto são apontados, nessa sequência, como os mais confiáveis.

Ao Valor, o presidente da Sanofi para América Latina, Heraldo Marchezini, afirmou que o ano de 2012 foi de ajustes e a concorrência no setor é um movimento natural de mercado. Em 2009, ao comprar a nacional Medley, líder em genéricos no país, a Sanofi desencadeou um forte movimento de consolidação, impulsionado por margens gordas.

A Medley e a gigante nacional EMS são concorrentes nesse segmento. Nos últimos 12 meses até março, a Medley comercializou 175 milhões de unidades de medicamentos. A EMS, no mesmo período, 161 milhões de unidades. Mas se considerar as vendas das empresas controladas pelo grupo - Legrand e Germed - a companhia nacional ultrapassa a Medley, com 230,5 milhões de unidades.

A EMS vê com naturalidade as mudanças de comportamento e ajustes pontuais do setor. "Estamos em um segmento [genéricos] que foi extremamente impulsionado nos últimos anos no Brasil, atraindo grande diversidade de 'players' e um alto nível de competitividade. E que tende a continuar em crescimento orgânico acima dos níveis do mercado total, vivendo períodos de ajustes de estoques e eventuais realizações decorrentes de gestão de liquidez da cadeia de distribuição", informou a companhia por meio de um comunicado. "A EMS aposta na evolução permanente de seu portfólio, no seu pioneirismo e na agilidade que caracterizam sua cultura de gestão, o que a coloca na posição de liderança há sete anos consecutivos." De janeiro a março, a empresa ampliou em cerca de 20% o seu faturamento na comparação com o mesmo período de 2012. No mercado de genéricos, o crescimento em reais foi de 23%.

Segundo Nelson Mussolini, presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), as margens das farmacêuticas têm sido afetadas pelo aumento dos custos, entre eles o de mão de obra e câmbio. "O dissídio foi de 8,5%, sem contar o câmbio." As indústrias farmacêuticas são fortemente dependente das importações de insumos para produção de medicamentos.

 

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