Doenças crônicas exigem políticas de prevenção
Valor Econômico
26/06/2013

Doenças crônicas exigem políticas de prevenção

Por Gleise de Castro | Para o Valor, de São Paulo
 
Katia Lombardi/Valor / Katia Lombardi/Valor
Vilaça: doenças crônicas são responsáveis por 35 milhões de óbitos no mundo, o dobro das causadas por infecciosas

 

Graças aos avanços da medicina, a expectativa de vida da população brasileira aumentou para 73,4 anos, ante 70,4 anos em 2000, mas, embora vivendo mais os idosos têm menor qualidade de vida. Ao chegar a essa fase, que começa entre 60 e 65 anos, as pessoas passam a enfrentar as chamadas doenças crônicas não transmissíveis, a maioria resultante de fatores de risco que podem ser evitados ou controlados ao longo da vida.

Enfermidades como doenças mentais (depressão e demências), doenças cardíacas, pulmonares (asma, bronquite crônica, enfisema) e cânceres diversos predominam entre idosos e têm como causas principais a alimentação inadequada, sedentarismo, obesidade, tabagismo e consumo excessivo de álcool. Parte do problema deve-se à falta de políticas de prevenção eficientes para a população idosa, aponta o geriatra Alessandro Gonçalves Campolina, pesquisador do Projeto Sabe (Saúde, bem-estar e envelhecimento), realizado no Brasil e outros seis países da América Latina, sob coordenação da Organização Pan-Americana de Saúde.

A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD), do IBGE, de 2008, mostrou que 71,9% dos brasileiros de 65 anos ou mais declararam ter pelo menos um dos 12 tipos de doenças crônicas selecionados. Os dados são citados no livro "As Redes de Atenção à Saúde", do consultor Eugênio Vilaça Mendes, que aponta essas doenças como responsáveis, em 2005, por 35 milhões de óbitos no mundo todo, o dobro do das mortes causadas por doenças infecciosas, incluindo Aids, tuberculose e malária. O número de diabéticos, de 135 milhões em 1995, deve atingir 300 milhões de pessoas em 2025.

Medidas preventivas podem reduzir as mortes por doenças crônicas e melhorar a qualidade de vida dos idosos. A primeira coisa a fazer é reconhecer que elas são altamente influenciáveis pelo modo de vida das pessoas, propõe Campolina. "Elas têm características genéticas, mas o fator comportamental e o estilo de vida preponderam, se não na manifestação, no grau de gravidade com que a doença vai comprometer a saúde das pessoas. Elas têm de ter informação sobre isso ao longo da vida e mudar os seus hábitos", diz Campolina.

Um dos principais fatores de risco é a obesidade, que está relacionada à hipertensão, artrites, demência e câncer. A primeira constatação de que uma dieta com menos calorias leva à longevidade veio de estudos sobre a restrição calórica, ou seja, diminuição de carboidratos.

"Em termos de longevidade, não se fala mais em restrição, mas em otimização calórica ou alimentar, que significa diminuir a quantidade de calorias e selecionar alimentos de boa qualidade, menos industrializados, menos gordurosos e mais saudáveis", afirma o geriatra.

Outra medida de prevenção é a atividade física, classificada como multifatorial, pois melhora vários aspectos da vida das pessoas, como qualidade do sono e autoestima, além de preservar as massas óssea e muscular ao longo da velhice. O tabagismo é outro fator de risco, reconhecido pelo Ministério da Saúde como uma das principais causas de mortes evitáveis.

Além de doenças pulmonares, o tabaco causa doenças cardíacas e neurológicas, câncer de boca, língua, esôfago e bexiga, entre outras. O consumo de bebidas alcoolicas também deve ser reduzido. "Não se trata de abstinência, mas de redução do excesso", explica Campolina.

E nunca é tarde para trocar velhos hábitos. Segundo o geriatra, o estudo Sabe mostrou que há uma compreensão equivocada de que prevenção só vale a pena para pessoas mais jovens. "Uma pessoa de 70 anos que nunca fez atividades físicas terá os mesmos benefícios, cinco anos depois de ter começado, que aqueles que fizeram exercícios a vida toda", diz. O mesmo acontece com o cigarro. Depois de dez anos sem fumar, o risco de câncer será o mesmo que o daqueles que nunca fumaram. Outra mudança de hábito é começar a usar os serviços de saúde de forma preventiva e não deixar para fazer isso só quando a doença se manifestar ou se agravar. "Isso é fundamental para as doenças crônicas", afirma Campolina.

Para o consultor Eugenio Vilaça Mendes, o que torna as doenças crônicas responsáveis pelo quadro de mortes prematuras e perda de qualidade de vida dos idosos é o modelo de atenção à saúde usado na maioria dos países desde meados do século passado, quando o que prevalecia eram doenças agudas.

Segundo ele, esse modelo fragmentado é da época em que as doenças infecciosas eram responsáveis por 40% das mortes. Hoje, esse percentual está em 4%. No Brasil, 23% das doenças são agudas e 11% têm causas externas, como acidentes e homicídios, enquanto as doenças crônicas chegam a 66%. "Não nos demos conta da revolução demográfica. A cada dez anos, dobra o número de idosos e uma população mais idosa significa uma população com mais doenças crônicas", diz Mendes.

Ele propõe a adoção de um modelo centrado nas doenças crônicas, em forma de rede, com base na atenção primária de saúde prestada por uma equipe multidisciplinar, formada por médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, nutricionistas e outros profissionais.

 

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