Centro expandido
20/03/2018
Em 1994, a Embratel, ainda sob comando estatal, conectou o Brasil à internet comercial. Na época, a empresa não podia prever como a rede mundial mudaria os rumos dos seus negócios. Quatro anos mais tarde, foi leiloada na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em um dos pregões mais aguardados na privatização do Sistema Telebrás.

Nos anos seguintes, assistiu aos avanços da mobilidade e das conversas pela web e registrou, em seus balanços, o derretimento das margens de lucro com telefonia de longa distância. A crescente digitalização da economia acionou, na ocasião, a chave das mudanças. De operadora "puro sangue", a Embratel tornou-se provedora de tecnologia da informação e comunicação (TIC), tirando da manga soluções digitais voltadas para sua carteira de clientes corporativos. Entre os segmentos que escolheu para apostar pesado, está o de datacenter.

A Embratel não seguiu sozinha. Enxergou no filão do armazenamento e processamento de dados o mesmo potencial observado por gigantes como a Microsoft - que redesenhou as estratégias de venda e entrega de seus softwares com uso de computação em nuvem - e a Amazon.

Nascida para explorar o comércio eletrônico, a Amazon entrou no ramo de datacenter para dar vazão à capacidade excedente de poder computacional adquirida para sustentar períodos sazonais de alta nas vendas como a black friday e o Natal. Com elas, o mercado - dominado por empresas especialistas na terceirização de infraestrutura, conectividade de softwares - recebeu adição de capacidade computacional, partindo para a popularização de soluções como a computação em nuvem pública.
"O segmento é competitivo e exige investimentos contínuos para manter serviços de padrão internacional, com tecnologia atualizada", alerta Mario Rachid, diretor executivo de soluções digitais da Embratel. Nos últimos cinco anos, a companhia destinou investimentos de R$ 400 milhões para a construção e ampliação dos cinco centros de dados que gerencia no Brasil. As unidades estão no Rio de Janeiro (2), São Paulo (2) e Brasília (1). "No ano passado, as receitas com serviços de datacenter cresceram 30%", informa Rachid.

O aumento das receitas e dos investimentos é registrado em todo o país. Bruno Bortolato, gerente da área de computação em nuvem da Logicalis, explica que os centros de dados ocupam papel fundamental na transformação digital. "Basicamente é a estrutura que processa e armazena as informações." As tecnologias emergentes como internet das coisas, inteligência artificial e soluções para análise de grandes conjuntos de dados (analytics e big data) estão no escopo dos projetos tecnológicos e estratégias de inovação das empresas. Essas soluções puxam a demanda. "Elas dependem de datacenters eficientes e robustos, onde seja possível guardar e, principalmente, transformar dados em informação relevante para o negócio", afirma Bortolato.

Segundo estimativas do Gartner, as receitas com serviços de datacenter no Brasil devem saltar de US$ 1,7 bilhão (2015) para US$ 3,1 bilhões (2021). Segundo Henrique Cecci, diretor de pesquisas do Gartner, a adoção de computação em nuvem na América Latina ainda é baixa. Por isso, ainda há um grande mercado para soluções tradicionais como a terceirização de datacenter e a hospedagem de servidores ("colocation"). "Apesar do apelo comercial, nem todas as empresas estão dispostas a migrar a operação de tecnologia para um datacenter ou para a nuvem", afirma Cecci.

Ele prevê a convivência de diferentes infraestruturas - o que envolve a integração de centros próprios (instalados e gerenciados pelas empresas), serviços tradicionais de datacenter e soluções rodando em nuvem pública e privada. "É um filão para quem está disposto a entender as necessidades de negócio dos clientes", diz Cecci. Rachid, da Embratel, concorda. "As demandas que chegam são muito diferentes e temos de respeitar o momento e o estágio da transformação digital de quem nos procura", diz.

Outra questão apontada por Rachid é a cultural. "O empresário brasileiro visita o datacenter. Mesmo quando contrata computação em nuvem, quer ter um endereço físico como referência."

Tradicional no ramo, a Tivit, com 18 anos de mercado, iniciou suas operações quando projetos para construção de centros de dados terceirizados pipocaram no Brasil. No início deste século, a grande meta do setor era atender a demanda do nascente comércio eletrônico e convencer grandes grupos empresariais a terceirizar suas operações de TIC. "O mercado cresceu e trouxe com ele novos desafios", afirma Armando Amaral, diretor de serviços de computação em nuvem da Tivit.

A empresa possui dez centros de dados espalhados pela América Latina. As receitas somaram R$ 1,7 bilhão no ano passado e a expectativa para 2018 é crescer mais de 10%. Amaral revela que o Brasil é responsável por 82% da operação. Para manter a tecnologia atualizada, a Tivit mantém uma política de investimentos contínuos. "Nos últimos anos, aplicamos R$ 150 milhões", diz.

O executivo destaca a tendência de mudança na demanda por serviços. Na Tivit, as soluções de computação em nuvem respondem por 17% do faturamento, enquanto os serviços tradicionais de datacenter geram 36% da receita. Até 2022, a provedora estima reversão do quadro, quando a fatia da nuvem crescerá para 28% e a de serviços tradicionais cairá para 24%. "Haverá substituição gradativa de serviços. Mas ainda vamos conviver em ambiente misto", diz.

O planejamento estratégico da Tivit está em linha com o observado pelo IDC, que prevê digitalização de, pelo menos, 40% do PIB latino-americano até 2021. Segundo o instituto de pesquisa, haverá migração de aplicações empresariais da região para centros de dados mais ágeis. Até 2019, 50% do desenvolvimento de aplicativos ocorrerão em plataforma de nuvem na América Latina.

André França, vice-presidente da unidade de negócios e infraestrutura da Capgemini, lembra que os clientes buscam serviços sob demanda. Por isso, a computação em nuvem - que permite o pagamento apenas dos recursos computacionais consumidos, como na conta de luz - tem feito sucesso. "A infraestrutura tornou-se componente para acelerar o desenvolvimento das empresas."

Fonte: Valor




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