Para medir o retorno sobre o investimento na gestão de pessoas
Por Letícia Arcoverde | De São Paulo
24/07/2013

O termo "retorno sobre investimento" está na boca de executivos de todo o mundo quando se fala de um assunto delicado: quais programas e práticas devem ter prioridade no orçamento da empresa. Desde a década de 1970, o criador da metodologia ROI (Return On Investment), Jack Phillips, acompanha práticas de avaliação e medição de resultados em companhias por meio do trabalho como presidente do conselho do ROI Institute - que certifica profissionais para implementar a metodologia e faz serviços de consultoria. Seu próximo passo é expandir os negócios no Brasil.

Para isso, o ROI Institute firmou uma parceria com a empresa brasileira de educação Affero, que no segundo semestre vai começar a oferecer os mesmos serviços do instituto no país, como o curso de cinco dias que certifica especialistas na metodologia, consultorias em empresas e workshops mais curtos. Segundo Phillips, a metodologia é usada atualmente em pelo menos cinco mil organizações, em mais de 60 países. Nos Estados Unidos, mais da metade das empresas da Fortune 500 implementaram o método de Phillips, que também é adotado por quase 20 agências da ONU.

O engenheiro, que também é formado em física e matemática e possui doutorado em gestão de RH, conversou com o Valor em recente visita ao país. Seus planos são ambiciosos. Segundo Phillips, o instituto, que já trabalhou com cerca de dez empresas do Brasil ao longo dos anos, quer chegar a cem clientes até o fim de 2014. Ele também quer certificar mais 50 profissionais na metodologia - atualmente há cerca de 20 no país, além de lançar uma edição em português do livro "The Value of Learning", escrito por Phillips e sua esposa Patricia, atual presidente do instituto. A versão vai incluir casos de empresas brasileiras.

"Sabemos que há interesse, porque ROI é uma 'buzzword' boa", diz. Daniel Orleans, diretor de desenvolvimento de negócios da Affero, espera que o uso da metodologia do instituto contribua para deixar os produtos da empresa ainda mais próximos de um padrão global de qualidade. "Atualmente o Brasil é o país que mais demanda treinamento. O CEO quer medir o impacto desse tipo de investimento e é isso o que o ROI mostra", diz.

Phillips vê como tendência para os próximos anos gastos mais robustos nesse sentido. No orçamento de talento e desenvolvimento das empresas, por exemplo, a parcela que costuma ir para a avaliação do retorno dos programas implementados é tipicamente de 1%. "Hoje, vemos que as empresas com melhores práticas estão aumentando esses gastos para entre 3% e 5%".

Além disso, se antes havia uma única equipe especializada no assunto que atuava em todos os departamentos, agora é mais comum espalhar essa responsabilidade por todas as áreas - o que significa a necessidade de mais profissionais capacitados a implementar a metodologia.

Para Phillips, a perspectiva de a economia brasileira seguir a passos lentos é uma oportunidade. "Quando há desaceleração, é preciso enxugar custos. Se o gestor não quer cortar algo, ele precisa de números para comprovar que aquilo é essencial para o negócio", explica. Ele dá como exemplo a empresa parceira do instituto na Grécia, que quase foi a falência com a crise econômica. Agora, no entanto, os serviços estão sendo vendidos para o governo grego - que precisa fazer milhares de cortes de empregos a mando da União Europeia.

O ROI Institute também busca mais diversidade na aplicação da metodologia, que é tradicionalmente usada para medir o impacto de programas de treinamento e gestão de talentos, que costumam gerar resultados mais intangíveis. No entanto, além da expansão para outros países, Phillips quer promover o ROI em outras áreas. Segundo ele, RHs representam pouco mais da metade do uso da metodologia, que hoje cresce bastante também em controle de qualidade, TI e marketing.

A metodologia de Jack Phillips propõe um alinhamento entre cinco etapas de análise do projeto a ser implementado e cinco fases posteriores de avaliação e medição do impacto da prática no negócio da empresa - até chegar a identificação do retorno sobre o investimento.

A matemática não mudou desde seu desenvolvimento na década de 1970. No entanto, o processo para chegar até os cálculos passaram por algumas transformações, principalmente em função da evolução dos públicos atendidos pelo método. O desenvolvimento da tecnologia facilitou, por um lado, a coleta dos dados, que agora pode ser feita de forma automática. Por outro lado, aumentou também a resistência no fornecimento do material, já que há mais preocupação com a segurança da informação.

A metodologia atende a três públicos diferentes. Em primeiro lugar, precisa ser amigável aos usuários, que muitas vezes têm, nas palavras de Phillips, "medo de matemática". "Se for complexo demais, eles não vão usar". Por outro lado, é preciso gerar dados que convençam o CEO e o diretor financeiro a investir em processos que muitas vezes não trazem resultados tangíveis, o que exige uma linguagem conservadora e muito próxima de uma avaliação de negócios. O terceiro público são acadêmicos e pesquisadores que também estudam a área de avaliação. "Tentamos fazer com que todos vejam o ponto de vista um do outro", afirma.







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