ASCO 2018 aponta benefícios da análise genética para o tratamento de diferentes tipos de câncer
12/06/2018

Especialistas do Grupo Oncoclínicas comentam principais temas do maior evento da oncologia mundial

Durante cinco dias, o Encontro Anual da ASCO reuniu em Chicago, nos Estados Unidos, os principais nomes da oncologia  no mundo. Ao todo, o evento, considerado o maior e mais importante do calendário especializado, atraiu cerca de 40 mil pessoas que acompanharam uma série de apresentações, pesquisas inéditas e debates sobre as formas como especialistas de diferentes países podem transformar os principais avanços científicos e tecnológicos recentes em realidade para o tratamento do câncer.

Neste ano, o congresso – cujo encerramento aconteceu no último dia 5 – teve como tema “Entregando Descobertas: Ampliando o Alcance da Medicina de Precisão” e colocou no foco central das discussões a importância das análises genéticas  para a definição das melhores terapêuticas. Dentro desse conceito, um dos painéis mais impactantes da ASCO ocorreu durante a sessão plenária, a mais aguardada pelo público, que revelou um avanço significativo para pacientes diagnosticados com câncer de mama.

Nomeado como TAILORx, fase III, o estudo mostrou que para determinados tipos de tumores em estágio inicial a quimioterapia não é  necessária após a cirurgia em grande parte dos casos. A indicação dos médicos é que mulheres, a partir de um exame genético, poderão ser tratadas com terapia hormonal, mais amena e com menos efeitos colaterais.

De acordo com os autores, metade de todos os cânceres de mama são positivos para HR, negativos para HER2 e negativos para linfonodos axilares. O ensaio mostrou que a quimioterapia pode ser evitada em cerca de 70% dessas mulheres quando seu uso é guiado por uma análise de 21 genes do tumor (Oncotype DX® Breast Recurrence Score).

Para o Dr. Mario Alberto Costa, do Grupo Oncoclínicas no Rio de Janeiro, esse resultado foi um dos mais importantes para o segmento de câncer de mama, tipo mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma, respondendo por cerca de 28% dos novos casos registrados no país a cada ano. “Na análise geral, ficou evidente que algumas mulheres podem abrir mão da quimioterapia, que, como se sabe, é um tratamento mais agressivo. Acredito que essa é uma notícia muito boa para a maioria das pacientes. Com mais segurança e informação é possível oferecer um tratamento mais específico para cada pessoa”, comenta.

Como já se sabe, os efeitos colaterais de curto prazo que ocorrem durante a quimioterapia têm impacto direto no bem-estar dos pacientes. Entre eles estão náuseas, vômitos, perda de cabelo, fadiga e infecção, e, em mulheres mais jovens, menopausa precoce ou infertilidade. A neuropatia é outro efeito colateral comum, com sintomas que incluem dormência, formigamento ou dor nas mãos e nos pés, que às vezes podem ser permanentes.

A percepção é reforçada por Daniel Gimenes, oncologista do Grupo Oncoclínicas em São Paulo. Segundo ele, a indicação da quimioterapia para o câncer de mama sempre ocorreu por falta de outros recursos, mas esse cenário, agora, mudou. “As descobertas terão um impacto imediato na prática clínica, poupando milhares de mulheres dos efeitos colaterais da quimioterapia. O suporte do teste genético, que analisa 21 genes do tumor, fornece uma informação mais precisa a respeito da real necessidade do tratamento pós operatório. Hoje, mais do que nunca, a medicina de precisão é uma grande aliada das pessoas em tratamento”, diz.

Exame de sangue pode detectar câncer de pulmão precocemente

Outro painel bastante impactante foi liderado por pesquisadores do Dana-Farber Cancer Institute. A apresentação abordou um estudo baseado em um sofisticado exame de sangue capaz de identificar a presença de fragmentos de DNA do tumor de pulmão em fase inicial na corrente sanguínea.

Intitulado “Sequenciamento do Genoma Geral para Detecção do Câncer de Pulmão em Estágio Precoce de DNA Livre de Células Plasmáticas (cfDNA): O Atlas do Genoma do Câncer Circulante (CCGA)”, o ensaio revelou que a identificação do tumor pode ocorrer a partir de um exame de sangue, usando o sequenciamento do genoma.

“O que vimos hoje na ASCO representa um avanço impressionante no tocante à detecção precoce do câncer de pulmão. A identificação de fragmentos de DNA tumoral no sangue, além de não ser uma prática invasiva, é mais um exemplo de como a tecnologia está contribuindo para vencermos a doença”, comenta o Dr. Jacques Tabacof, oncologista-clínico e hematologista do Grupo Oncoclínicas em São Paulo.

Novos protocolos

A ASCO 2018  trouxe informações significativas para o avanço no tratamento do Mieloma Múltiplo, câncer sanguíneo que afeta a medula óssea. Alguns estudos expostos no Congresso indicaram que certas doses de medicamentos aumentadas com segurança podem proporcionar uma excelente resposta para os pacientes.

De acordo com o Dr. Bernardo Garicochea, onco-hematologista e especialista em genética do Grupo Oncoclínicas, esse tipo de câncer – que recebeu o aporte de cerca de oito drogas nos últimos anos capazes de modificar completamente o tratamento, a sobrevida do paciente e o controle da doença – não contava com um protocolo estabelecido. “Não se tinha clareza sobre qual era a melhor ordem de colocação desses medicamentos no tratamento do Mieloma, quem eram os pacientes que se beneficiariam mais com uma droga ou outra e se era possível combinar todas elas. Saio muito otimista desse congresso no quesito Mieloma Múltiplo, pois acredito que realmente essa doença hoje atinge um outro patamar em sua forma de tratamento e na expectativa de vida, talvez até de cura dos pacientes”, explica o oncologista.

Foram divulgadas ainda algumas análises relacionadas à melhora na qualidade de vida dos pacientes. Entre os destaques, um estudo apontou resultados animadores a partir do o uso da testosterona para pacientes com câncer de rim – um tipo de tumor que afeta 150 mil pessoas no mundo, em sua maioria homens na faixa etária de 50 aos 70 anos. “Um dos painéis avaliou que a reposição deste hormônio masculino melhora um sintoma muito comum em pessoas em tratamento: a fadiga”, comenta o Dr. Paulo Sérgio Lages, do Grupo Oncoclínicas no Distrito Federal.

Para o especialista brasiliense, esse estudo abre novas frentes na definição das condutas a serem adotadas nos cuidados gerais de indivíduos com tumores renais.

Benefícios da Imunoterapia

A imunoterapia tem sido um dos temas mais abordados por médicos e especialistas nos últimos anos. Nesse tipo de tratamento, o objetivo é fazer com que as células do sistema imune identifiquem as células tumorais, reconhecendo-as como elementos estranhos e acabe por destruí-las.

De acordo com o Andrey Soares, Oncologista Clínico do Grupo Oncoclínicas em São Paulo, duas sessões educacionais da ASCO revelaram um cenário promissor em relação ao uso da imunoterapia para o tratamento de pacientes com tumor de bexiga localizado, em estágio avançado, e de indivíduos diagnosticados com câncer de rim metastático.

“Se nos últimos 30 anos quase não tivemos evolução significativa para o tratamento do câncer de bexiga, temos visto um avanço muito importante com a chegada da imunoterapia”, comenta o médico.

De acordo com o oncologista, a partir do conhecimento mais aprofundado da biologia do tumor e com análise da medicina mais personalizada, é possível oferecer para cada paciente, de forma individualiza, novas práticas terapêuticas, medicamentos e novas opções a fim de tornar o tratamento mais assertivo. No caso do câncer renal metastático, ou seja, quando a doença sai do órgão, o oncologista reforça que a personalização do tratamento é o melhor caminho. “Sabemos que nos últimos anos algumas drogas vieram para ficar e já estão na nossa prática clínica”, explica o Dr. Andrey.

Segundo ele, embora a imunoterapia não beneficie 100% dos pacientes com esses tipos de tumor, o procedimento tem sido cada vez mais utilizado para o tratamento. “Estou muito otimista. Muito do que foi apresentado na ASCO 2018 será utilizado em breve no nosso dia a dia”, afirma.

Hábitos saudáveis em pauta

Além de novas práticas terapêuticas, as apresentações da ASCO abordaram também o impacto de hábitos comportamentais para prevenir e combater o câncer. E a importância de um estilo de vida saudável na prevenção e na redução da recorrência da doença esteve mais uma vez no centro dos debates.

“Uma orientação divulgada no congresso indicou que a combinação dieta e atividade física é capaz de evitar o aparecimento do câncer em até 40% dos casos. Ou seja, trata-se de uma medida preventiva extremamente eficaz que está ao alcance do paciente”, afirma a Dra. Renata Cangussu, oncologista-clínica do Grupo Oncoclínicas na Bahia.

A oncologista explica que a adoção desses hábitos no cotidiano beneficia também pacientes que já tiveram diagnóstico de câncer. “A rotina de comer bem e se exercitar regularmente pode diminuir a mortalidade em também 40% dos casos”, afirma a Dra. Renata, que destaca ainda outras duas recomendações indicadas no congresso: redução do consumo de álcool e uso do protetor solar.





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