Pessimismo cresce entre os presidentes.
Valor Econômico
08/08/2013

Pessimismo cresce entre os presidentes


Por Stela Campos | De São Paulo
 
Nidin Sanches/Valor / Nidin Sanches/Valor
Paulo Brant, presidente da Cenibra; Eduardo Sirotsky Melzer, presidente do grupo RBS e Sonia Hess, presidente da Dudalina participaram da 13ª edição do Fórum de Presidentes da ABRH

 

Em encontro reservado, empresários e dirigentes de empresas discutem as frustrações em relação aos resultados de suas companhias previstos para este ano, aos rumos da política macroeconômica, à perda de competitividade e ao pífio crescimento esperado para o Brasil. O clima é de desânimo. Nem mesmo o discurso "cauteloso e moderadamente otimista" do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, injeta uma visão mais positiva sobre o cenário atual.

"Existe uma diminuição clara do positivismo em relação ao Brasil", diz Alessandro Carlucci, presidente da Natura, um dos participantes do 13º Fórum de Presidentes, promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), em São Paulo. Os resultados das companhias que, em média, virão abaixo das expectativas este ano, segundo Carlucci, dão esse tom pessimista ao discurso dos gestores brasileiros. "A percepção sobre o futuro é bem ruim neste momento."

Uma pesquisa realizada com os presidentes durante o encontro reforça essa percepção dos executivos a respeito do país. Mais de 60% deles acreditam que o desempenho de suas empresas nos próximos cinco anos será somente mediano, enquanto apenas 35% esperam que seja excepcional. "Não vejo uma trajetória desastrosa para o país, mas medíocre", diz Paulo Brant, presidente da Cenibra.

A grande preocupação dos presidentes diz respeito à sustentabilidade da política econômica do governo. "Não sabemos qual a capacidade dele reagir", afirma Eduardo Sirotsky Melzer, presidente do grupo RBS. A consultora Betania Tanure, que conduziu a pesquisa durante o evento para a ABRH, diz que a grande angústia dos gestores é a impossibilidade de agir sobre o ambiente macroeconômico. Para 75% dos entrevistados, o resultado do PIB deve ser ruim e ficar entre 1% e 2% este ano. "Ficou visível que a grande crise no Brasil hoje é de credibilidade", diz a consultora Vicky Bloch, que está na organização do evento desde a primeira edição.

O Fórum, entretanto, não foi apenas um encontro para lamentações. Na pauta estava também a descoberta do papel dos gestores na busca por melhorias para o país. "O empresariado é parte do problema e da solução. Isso pede uma reflexão sobre qual será a nossa participação para que aconteçam mudanças mais estruturais", diz Carlucci, da Natura. Na opinião da empresária Sonia Hess, presidente da Dudalina, é necessário que aconteçam reformas profundas no âmbito político, tributário, fiscal e trabalhista. "O Brasil tem que ser grande, mas parece que está sempre emperrado e não consegue ir para frente."

 

 

A falta de confiança no futuro influencia o desânimo dos próprios executivos dentro das companhias. No levantamento, 41% dos presidentes consideram que seu quadro de dirigentes está apenas parcialmente comprometido - ou seja, a falta de engajamento atinge quase metade dos diretores nas companhias. Além disso, 66% agem de forma parcialmente inovadora, enquanto 22% admitem que não fazem nada pela inovação. "Essa é uma autocrítica importante e significa que nós temos muitas tarefas a cumprir. A inovação não é algo que se decide e pronto. É preciso criar um ambiente propício na empresa", diz Brant.

"Precisamos melhorar a produtividade, aplicar mais a meritocracia e olhar a inovação com seriedade. Tudo isso depende muito da cúpula da empresa", diz Alexandre Silva, presidente do conselho de administração da Embraer, que participou de um novo grupo dentro do Fórum, que este ano reuniu também presidentes de conselhos. Outro tema recorrente em todos os grupos de discussão foi o custo do retrabalho nas empresas brasileiras. "Ele está diretamente ligado à má qualidade da mão de obra que faz com que tudo precise ser refeito", afirma Silva.

A perspectiva de um futuro incerto afeta a inovação, que sempre implica em correr riscos, diz Carlucci, da Natura. "Um cenário menos otimista é menos inovador". Os dirigentes estão céticos não só quanto ao futuro do Brasil, mas também quanto à recuperação do cenário macroeconômico externo. Para 66%, ele deve permanecer como está. "Eles acreditam que os Estados Unidos estão se recuperando lentamente, a Europa deve permanecer sem sinais de melhora e a China, apesar dos soluços, tem capacidade de se recuperar", diz a consultora Betania Tanure.

O Brasil, para os presidentes, vai precisar se empenhar para não perder competitividade internacional. "É preciso que haja uma retomada dos investimentos e isso exige uma mudança na economia, hoje muito baseada no consumo e no crédito", diz Brant. "Com a proximidade do ano eleitoral, é difícil que a agenda do governo tenha foco no desenvolvimento", diz Sirotsky. Ele acredita que os empresários, diante disso, precisam fazer o que está ao seu alcance para mudar esse quadro. "Temos que investir em pessoas que vão causar impacto na organização, além de fortalecer a nossa cultura internamente."

O estímulo à criação dentro das companhias, especialmente o convívio com a nova geração de profissionais, é considerado um grande desafio pelos presidentes. "Eles estão tomando consciência de que é fundamental conquistar esses jovens, que hoje buscam uma causa e um significado no trabalho", diz Betania.

Já as recentes manifestações são vistas por 94% dos presidentes como positivas para o país e para 64% como boas para a economia. Para Alexandre Silva, ficou claro nesses protestos que as empresas precisam promover o diálogo interno e ouvir o que suas equipes estão demandando. O brado político dos jovens nas ruas também ecoa no desejo que eles têm de participar mais nas organizações, diz Brant. "A nova geração de profissionais precisa ser motivada por outros valores. Isso requer uma nova postura dos líderes empresariais."

 

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