A mente do amanhã
05/09/2018
Reúna em uma sala presidentes e diretores de organizações com atuação em segmentos distintos. Nessa rodada de discussões, tente encontrar o denominador comum entre uma instituição financeira, uma construtora direcionada ao segmento de imóveis para as classes média e média baixa e uma empresa focada no desenvolvimento de serviços submarinos para o setor de óleo e gás. Embora apenas uma delas tenha nascido no ambiente da tecnologia, nessas três organizações a expectativa de vida está diretamente ligada à revolução digital - que converge recursos como realidade virtual, inteligência artificial (IoT), robótica e big data para alcançar o diferencial competitivo.
"Hoje a tecnologia não está mais restrita à área de TI, está no 'mindset' da direção da companhia. É o topo da organização que puxa toda a conversa sobre tecnologia, que está contaminando o mundo. Está gostoso se envolver com a tecnologia, em todas as áreas de uma empresa", diz Júnia Maria de Sousa Lima Galvão, diretora executiva de administração da MRV Engenharia, focada no segmento de imóveis para as classes média e média baixa com presença em mais de 150 cidades brasileiras.

À frente de um dos segmentos mais impactados pelo avanço da tecnologia, que propiciou o desenvolvimento das fintechs, Fabio Amorosino, presidente executivo do Banco Alfa, diz que não há dúvidas de que a inteligência artificial e a robótica estarão cada vez mais presentes no ambiente financeiro. "As empresas precisam prestar atenção à velocidade dessa mudança, que é brutal. Talvez seu negócio amanhã não seja mais um bom negócio. Quem seguir pelo caminho da teimosia vai quebrar", diz.

No Brasil, com a tecnologia na pauta dos tomadores de decisão das organizações líderes, a busca dos executivos é estar em linha com os maiores pensadores de inovação do mundo. E eles afirmam que é imprescindível a mudança nos padrões mentais que guiam comportamentos e pensamentos, também conhecidos no mundo dos negócios com "mindset". Somente a ruptura de padrões mentais permitirá às organizações se manterem vivas, produtivas e competitivas nas próximas duas décadas.

Um dos maiores propagadores da necessária mudança no mindset dos empresários é o geneticista e pós-graduado em engenharia aeroespacial pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) Peter Diamandis, cofundador da Singularity University, localizada no Vale do Silício, na Califórnia (EUA). Autor do best-seller "Abundância: o futuro é melhor do que você imagina", editado no Brasil pela HSM, ele é também fundador de 15 empresas, entre elas a Human Longevity, de terapia baseada em genômica para aumentar a longevidade, e a Planetary Resources, que desenvolve uma nave espacial para a prospecção de asteróides com foco na busca de metais preciosos.

Diamandis não admite a palavra escassez em seus discursos e contagia plateias ao explicar como os avanços tecnológicos - que incluem redes de inteligência artificial, robótica com motricidade fina e uso inteligente de dados exponenciais - não são ficção e estão batendo à porta das empresas para um caminho de oportunidades bilionárias.

Na última semana de agosto, Diamandis reuniu-se no Brasil, durante dois dias, com 150 empresários e executivos no evento Abundance 360, realizado no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Diante de um grupo eclético, Diamandis falou, como se fosse velho conhecido da plateia, sobre a necessidade de maior compartilhamento de recursos entre a população do planeta e conceitos da neurociência.

Entusiasmou os participantes com colocações como "o mundo está repleto de uma enorme quantidade de 'superávit cognitivo' capaz de lidar com qualquer desafio que você possa ter" e ao prever, por exemplo, que a inteligência artificial será incorporada a tudo e chegará ao nível humano em 2029. Causou impacto ao afirmar que "o potencial da interface cérebro-computador (Brain-Computer Interface - BCI) transformará todos os aspectos de nossas vidas".

"Estamos acostumados a olhar a tecnologia de forma compartimentada, quando se junta tudo e faz sentido, conseguimos ter uma visão melhor do mundo do futuro", diz Felipe Gutterres, diretor presidente da Sistac, especializada em manutenção, inspeção e reparos subaquáticos no setor de óleo e gás, um dos participantes do evento. O executivo explica que, embora a empresa já atue muito focada em soluções de robótica e inteligência artificial, há uma grande parte da inteligência de dados que ainda precisa ser melhor explorada. "Quem tem dados tem ouro, foi uma das frases mais repetidas por Diamandis. Mas precisamos descobrir que inteligência é possível construir com base nesses dados."

Francisco Milagres, sócio da Mirach, focada na transformação de negócios, diz que a empresa trabalha com muita tecnologia de dados, mas que "a mudança do mindset é o aspecto mais importante nas organizações." Ele, que trabalhou com Salim Ismail, ex-diretor executivo da Singularity e autor do best-seller "Exponential Organizations", explica que seu grande desafio é estruturar modelos de análise preditiva na próxima década.

"Temos que trabalhar com informações que não estão estruturadas e criar modelos de análise preditiva para entender como uma empresa funciona e para onde ela caminha. Entendo que todo sistema organizacional é um sistema biológico que reage à inovação", afirma.

Marcelo Consonni Gomes, presidente da Cidade Criativa Pedra Branca, incorporadora voltada à gestão urbana, com atuação em Florianópolis, ressalta a importância de se preservar a socialização em meio à revolução digital. "Somos especialistas em urbanização e nos preocupamos com o risco de a tecnologia eliminar o contato humano, que deve fazer parte das nossas vidas em prol da longevidade", afirma Gomes.

Em sua opinião, uma boa cidade deve propiciar o encontro das pessoas, o que, hoje, o ambiente urbano não permite. "O foco é usar a tecnologia para resolver problemas localizados. Nosso objetivo como empreendedor do segmento imobiliário é buscar soluções para construir um ambiente mais interessante para a turma que vai mudar o planeta", conta.
 
Fonte: Valor




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