Receita de laboratórios do país já é 50% do setor
Valor Econômico
04/09/2013

Receita de laboratórios do país já é 50% do setor

Por Mônica Scaramuzzo | De São Paulo
 
Ana Paula Paiva/Valor / Ana Paula Paiva/Valor
Henrique Tada, presidente-executivo da Alanac: "Indústrias investiram R$ 750 milhões para adaptarem os similares"

 

O faturamento dos laboratórios nacionais já representa 50% das vendas totais do setor farmacêutico no país, de acordo com dados do IMS Health obtidos pelo Valor. É a primeira vez que a receita das fabricantes brasileiras de medicamentos alcança essa participação. No acumulado dos últimos 12 meses até junho, a receita do setor totalizou R$ 47 bilhões. Em 2000, quando os genéricos começaram a despontar no Brasil, as multinacionais reinavam soberanas, com fatia de 75% no mercado brasileiro.

Em volume, a evolução dos medicamentos produzidos pelas indústrias nacionais é ainda maior - alcançou 70% em junho. Em 2009, a participação das brasileiras era de 55%, ante 25% em 2002, de acordo com o IMS Health. Do total dos R$ 47 bilhões de receita, no acumulado de julho do ano passado e junho deste ano, a receita com genéricos ficou em R$ 13 bilhões. A dos similares atingiu no mesmo período R$ 9 bilhões. O restante R$ 1,5 bilhão inclui outros tipos de medicamentos, como os fitoterápicos, de inovação incremental e radical.

A partir de 2014, essa tendência deverá se acentuar mais para o lado das nacionais. Os medicamentos similares e genéricos, segmentos dominados por empresas de capital local, serão absolutamente iguais sob o ponto de vista sanitário, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Boa parte das multinacionais, que também atuam nessas áreas, tem uma participação maior em medicamentos de referência (com patente).

Em setembro de 2003, a Anvisa iniciou um cronograma para que os similares também fossem submetidos à bioequivalência. Quase 100% desses produtos já foram adequados à norma, ou seja, submetidos aos mesmos testes dos genéricos. A expectativa é de que esse medicamento seja também intercambiável, como já é o caso dos genéricos. "É uma questão legal, que deverá ser debatida pelo Congresso Nacional, já que está regulamentada por lei", informou a Anvisa.

 

 

Mas a discussão sobre a intercambialidade - que poderá garantir aos similares o mesmo direito que os genéricos, ou seja, podem ser prescritos como substitutos aos de referência - abre para uma questão ainda maior para as farmacêuticas: quanto vale uma marca?

Por lei, o genérico pode ser intercambiável por um medicamento de referência e seus preços têm de ser, no mínimo, 35% mais baratos, o que não ocorre com os similares.

Desde de setembro 2003, quando a Anvisa passou a exigir os testes de bioequivalência, as indústrias gastaram cerca de R$ 750 milhões para adaptarem seus produtos à resolução da Anvisa, informou ao Valor Henrique Tada, presidente-executivo da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac).

Muitos produtos de marca, que não tinham forte apelo comercial, deixaram de ser produzidos, uma vez que o preço pago pelos testes de bioequivalência não compensava manter o produto no mercado, segundo fontes de mercado. Um teste custa entre R$ 500 mil a R$ 2 milhões, dependendo do medicamento, segundo fontes informaram ao Valor. Mas por outro lado, muitos laboratórios, independentemente de ser capital nacional ou estrangeiro, têm importantes similares com marcas reconhecidas no mercado, que representam parte polpuda da receita dessas empresas.

É o caso da líder em similares no país, a Hypermarcas, que tem produtos como Resfenol e o Neosoro, que geram uma demanda espontânea no balcão das farmácias. Cerca de 20% da receita da divisão farmacêutica é gerada por produtos similares. As vendas de genéricos do grupo ficam com 8% do faturamento.

Tada, da Alanac, vê com naturalidade a questão da intercambialidade dos medicamentos. "Há categorias nas quais os similares são mais baratos que os genéricos. Depende muito do produto, da disponibilidade de cópias e da estratégia de marketing dessas empresas", disse. "Genéricos não 'roubam' vendas das redes", disse. Segundo ele, os similares têm uma participação maior de vendas nas farmácias independentes, enquanto os genéricos são mais vendidos em farmácias de rede.

Para Telma Salles, presidente-executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró-Genéricos), a convivência entre os similares e genéricos a partir de 2014 não vai mudar. "Quem tem uma marca terá que investir mais nela."

Antônio Britto, presidente-executivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), diz que há uma questão maior envolvendo essas comparações, sobretudo a de participação de receita. "As comparações entre genéricos, similares e referência ficaram prejudicadas porque quase a totalidade das empresas do setor decidiram atuar nesses três segmentos. A tendência do setor é que as empresas se dividam em produtoras com um portfólio mais amplo e as que se dedicam a produtos de nicho, como doenças raras, por exemplo."

 

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