Brasileiros aceitam colegas, mas defendem rvalidação de diploma
Por De Pedreira e Santo Antônio de Posse
17/09/2013

O cirurgião paulistano Elisir Fedri é um dos maiores interessados na contratação de mais um médico de saúde básica para o posto de saúde do bairro Popular, em Santo Antônio de Posse, o único existente em uma área onde vivem quase 5 mil pessoas. Contratado como emergencista do pronto-socorro do município, que fica na área central, ele atua há meses, em regime provisório, como clínico-geral do posto de saúde no período da tarde.

"Estou dando uma mãozinha à tarde até a coisa se acertar com os nossos visitantes", diz Fedri, em referência à doutora Sílvia, a médica cubana que chegará ao município nas próximas semanas. O nome da médica foi informado pelo Ministério da Saúde à prefeitura.

Com a chegada da doutora Silvia, o posto de saúde terá um clínico-geral fixo, principal demanda dos pacientes, que hoje só conseguem atendimento com hora marcada. "O trabalho está sendo feito normalmente, mas não é a minha área", diz Fedri. "Estou tapando buraco." O posto tem, em dias alternados, pediatra, ginecologista, dentista, psicóloga e até psiquiatra, que atende um dia por mês.

"Tendo essa médica aqui, dá folga para o pronto-socorro focar nas emergências", diz Fedri. Apesar da expectativa positiva, o médico é enfático ao defender que profissionais estrangeiros, inclusive a futura colega, façam a revalidação do diploma antes de atuar no Brasil - exigência reivindicada pelas entidades da categoria, mas que não está prevista no programa Mais Médicos.

"Eu sou contra não revalidar diploma. Não só no caso dos cubanos, qualquer um deveria revalidar", afirma Fedri, médico há 40 anos. Diz, no entanto, que a divergência de opiniões não deve ser obstáculo à boa convivência. "Da minha parte, ela será bem recebida, isso não vai influenciar. Mas acho que tem que revalidar. Se for assim, eu pego um avião e vou trabalhar nos EUA, na Suíça".

A opinião é compartilhada pelo pediatra da unidade, Naief Daud Honorio, que será vizinho de sala da doutora Silvia. "Não cabe a mim, como médico, julgar um colega. Apenas tenho que seguir a orientação do Conselho Regional de Medicina, para que apoiemos que eles façam a prova, como qualquer pessoa de nível superior que vá para outro país", diz o médico.

Para Honorio, algumas das reações mais extremas das entidades médicas aos estrangeiros, como episódios em que profissionais brasileiros vaiaram os médicos cubanos, têm sua razão de ser. "Se a vaia ocorreu por não estarem prestando prova, é até aceitável, é uma maneira democrática de dizer não a uma situação com a qual você não concorda. Ninguém é obrigado a concordar", diz.

O pediatra diz ainda não saber como funcionarão situações práticas que requerem o registro profissional, como o atestado de óbito de um paciente. Questionado sobre se haverá desconforto sobre o tema na rotina do posto, diz que não. "O Ministério da Saúde e a secretaria estão avaliando e os avalizando, não cabe a mim julgar."

Entre os demais profissionais da unidade, a expectativa é mais positiva. "Estamos aguardando ansiosos", diz Patrícia de Miranda Sanches Bergo, 34 anos, enfermeira e gerente do posto. "Não temos médico para atender à demanda dos pacientes. Muita coisa que poderíamos resolver aqui, com médico, a gente só acolhe e encaminha ao pronto-socorro", diz.

Em Pedreira, o médico do posto do Jardim Andrade, Flávio Blois de Mattos, acredita que mais um profissional será de "grande importância e grande valia" para ajudar a atender à grande demanda de um dos maiores bairros da cidade. Não esconde, porém, certo ceticismo sobre a eficácia da experiência. "A gente não conhece os profissionais que vêm. Acredito que, no começo, ela vá ter alguma dificuldade, principalmente por causa da língua. A população aqui é bem carente. Acredito que não vá ser grande o problema, as pessoas vão se adaptando. Não sei se ela, a médica, vai se adaptar", afirma Mattos.

A enfermeira-chefe Tamara Campos Faria, 24 anos, se diz ansiosa para recepcionar a colega cubana. "Queremos acolher bem, estamos muito felizes por essa ajuda. Esperamos que venha com bastante vontade de trabalhar, porque isso é o que a gente precisa. Dúvidas no início, sobre a rotina, todo mundo tem, cubano, brasileiro, sempre há essa dificuldade no início. Mas a gente dando apoio, explicando, acho que flui." (LG)







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