Brigadeiro agora vem com colágeno e antioxidantes
Por Chris Martinez | Para o Valor, de São Paulo
01/10/2013

Redondinho, bem ao seu formato tradicional, e coberto com chocolate granulado - eis o brigadeiro. Tentação para a maioria dos mortais, esse docinho bem brasileiro ganhou versões. No mercado, já se pode comprar o brigadeiro funcional, enriquecido com colágeno hidrolisado, licopeno, vitamina C e selênio. Mas a nova fórmula, aparentemente mais saudável, também engorda. Tem o valor calórico semelhante ao de um brigadeiro comum. Então por que alguém trocaria um pelo outro? Para as mulheres, o atrativo chave é o fato de que o colágeno garante firmeza à pele. Além disso, o brigadeiro em questão contém 33% da IDR - trio de letras que define a ingestão diária recomendada de antioxidantes.

A versão funcional foi desenvolvida pela divisão LifeScience - uma área do grupo brasileiro M.Cassab que pesquisa e desenvolve conceitos de produtos, com novos aditivos e ingredientes, para a indústria de alimentação. Na prática, está focada em fazer produtos que tratem a "beleza de dentro para fora". Há de tudo um pouco: "cookie da beleza", feito com colágeno, vitaminas e minerais que combatem o envelhecimento precoce da pele; "capuccino anti-TPM", elaborado com vitaminas e minerais, que combatem o estresse; e outra cesta de mercadorias, com iogurtes, balas e águas vitaminadas.

As águas são uma promessa a parte. A M.Cassab fez uma alquimia e criou versões pitorescas. Um exemplo? A "Vitamin Water da Energia", sabor guaraná e açaí, com um mix de compostos energéticos como cafeína e taurina, além de vitaminas e minerais que participam do metabolismo de energia. Ou ainda a "Vitamin Water Anti-fadiga", de sabor pitanga, que contém vitaminas e minerais que ajudam na recuperação celular e também o magna Power (mineral magnésio com creatina, que ajuda na recuperação muscular diminuindo o cansaço).

Há mercado para produtos tão diferentes? Segundo Leila Coelho, gerente de negócios da M.Cassab, sim. E muito. "O consumo de suplementos nutricionais cresceu a taxa de dois dígitos nos últimos anos, impulsionado pelo envelhecimento da população e a procura de um estilo de vida mais saudável. As preocupações com a estética, saúde e envelhecimento saudável são os principais motivos para o crescimento da indústria de suplementos alimentares", atesta.

Já não basta matar a fome ou a sede, é preciso garantir algum benefício à saúde. O setor de alimentos funcionais movimenta cerca de US$ 50 bilhões mundialmente, de acordo com pesquisa do Instituto Euromonitor, cresce a uma média de 10% ao ano, e também ganha espaço no Brasil.

O capuccino anti-TPM é elaborado com vitaminas e minerais, para combater o estresse feminino

Empresas como a M.Cassab, que faturou R$ 968 milhões em 2012, (que faz o mix de ingredientes usados pela indústria e não o produto final) acreditam que há espaço para que vários componentes utilizados em medicamentos para tratamentos de doenças possam ser comercializados na forma de alimentos - respeitando as regras da Anvisa. Tanto as fabricantes de insumos quanto as indústrias de alimentos buscam cavar espaço, vendendo alimentos saudáveis, num mercado impressionante: são sérios os avanços de problemas como obesidade. Já são 300 milhões de obesos no mundo, dos quais 40 milhões nos EUA. No Brasil, 40% a 50% da população estão acima do peso e 11% são obesos.

Mesmo que esses alimentos sejam mais caros que os seus pares sem tanto apelo saudável, a executiva diz que hoje 40% dos consumidores das classes A, B e C escolhem seus alimentos com base na relação que eles têm com a saúde e não com preço.

E que a demanda por produtos alimentícios que trazem benefícios à saúde não sofre tanta influência com as crises e quedas no consumo geral, assim como é menos sensível às alterações de preços, pois o consumidor acredita que vale a pena pagar caro por produtos que façam bem para sua saúde, ou compensem seu estilo de vida.

São mais caros porque exigem tecnologia que garante a inovação, dizem os fabricantes. A mineira GoodSoy, que produz o "cookie da beleza", sem glúten e sem lactose, diz que desenvolver a fórmula final de um produto como esse exige persistência e uma adequação à linha de produção que passa ser quase artesanal. Ela explica que, ao retirar o glúten da receita, a massa do cookie por exemplo, se desestruturava, perdendo a maciez do biscoito. Na prática, o glúten usado em vários produtos à base de carboidratos é que dá "força" e consistência à massa. Acontece que, cada vez mais, cresce o número de celíacos (pessoas alérgicas a glúten): no Brasil já somam dois milhões de pessoas, no mundo, chega a 1% da população.

Mesmo sem abrir os números, Angela Ma, diretora da GoodSoy, diz que a empresa vem crescendo a passos largos nos últimos dez anos, justamente por conta da busca da população por mais saúde. Hoje se tornou a segunda divisão em faturamento do grupo Boa Fé, que há 50 anos atua no plantio de soja, cana, pecuária de corte e de leite em Uberaba (MG). "Começamos apenas com o intuito de tirar aquela imagem ruim da soja, e viramos um negócio importante para o grupo". Hoje a GoodSoy já tem 40 produtos em seu portfólio, o que inclui até mesmo um brownie sem glúten e sem lactose.

A preocupação em torno da alimentação saudável é tanta que a empresa se surpreendeu, em julho, durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio, quando foi contratada para fornecer um milhão de produtos sem glúten e sem lactose para compor os kits dos peregrinos. (Ao fazer a inscrição no evento, os peregrinos ganhavam o kit e o Vaticano exigiu que houvesse alimentos para os celíacos). "Tivemos que postergar os lançamentos para dar conta da produção na fábrica", recorda.







Obrigado por comentar!
Erro!
Contato
+55 11 5561-6553
Av. Rouxinol, 84, cj. 92
Indianópolis - São Paulo/SP