Oracle agora vai ter mais ‘inimigos’
04/10/2019
Fãs de sagas como “Game of Thrones” sabem como essas tramas são complexas. Dezenas de personagens disputam a liderança sem que se saiba, ao certo, quem é aliado de quem. Melhores amigos podem se tornar inimigos obstinados e quem sai vitorioso em um dia pode acabar degolado no capítulo seguinte. Essa também é uma boa descrição do bilionário mundo dos softwares de negócios, no qual a americana Oracle se firmou como uma protagonista incendiária. Seu dragão, como os que aterrorizam a série da HBO, é o cofundador e chefe de tecnologia Larry Ellison - um homem que pilota jatos, disputa regatas e teria inspirado o ator Robert Downey Jr. nos filmes do “Homem de Ferro”.
 
Há duas semanas, Ellison, de 75 anos, mostrou como a Oracle planeja se expandir frente à concorrência durante o Oracle Open World, em San Francisco. Nesta edição, o evento anual da empresa reuniu 60 mil pessoas entre clientes, parceiros e fornecedores. Ellison aproveitou a atenção da plateia para detratar adversários - incluindo Amazon Web Services, SAP, IBM, Intel e Salesforce - e elogiar aliados como a VMware e a Microsoft, um ex-desafeto, com as quais anunciou acordos.
 
Com 136 mil funcionários e quase US$ 40 bilhões em receita anual, a Oracle entrou para a elite da tecnologia com seus softwares de bancos de dados, com os quais as empresas armazenam e organizam informações. A estratégia é usar essa posição dominante para se mover tanto um degrau abaixo na cadeia de fornecimento de tecnologia - o da infraestrutura - quanto um acima, o dos ERPs (sigla em inglês para Enterprise Resource Planning). Esses programas não só controlam processos básicos como vendas, recursos humanos e marketing, como unificam o acesso às demais aplicações das empresas.
 
“Quem dominar o ERP vai dominar o coração das companhias”, afirma Luiz Meisler, vice-presidente executivo da Oracle na América Latina. “Sair na frente é uma grande vantagem”, diz ele, sobre as novas tecnologias que a empresa está usando para renovar seu arsenal, como inteligência artificial, aprendizado de máquina e reconhecimento de face. “Não adianta [o concorrente] lançar a mesma coisa daqui três anos.”
 
O sistema Redwood, apresentado em San Francisco, é um bom resumo de aonde a Oracle quer chegar com seus aplicativos. Concebido pelo designer Hillel Cooperman, recrutado da Microsoft, o Redwood leva para o ambiente corporativo a experiência que os consumidores têm com assistentes virtuais pessoais, como a Alexa, da Amazon, e o Google Assistente. Na hora de jantar com um cliente, por exemplo, o funcionário só precisa perguntar ao smartphone qual seu limite de despesas para ver o valor pré-aprovado. Se precisar de dinheiro extra, pode pedir ao sistema, como se estivesse conversando com o chefe. O sistema é uma espécie de interface, que pode ser aplicada a diversas atividades.
 
O desafio para a Oracle é que ao expandir-se para várias áreas, o número de rivais também aumenta significativamente. No mercado de ERP, a maior concorrente é a alemã SAP, que costuma aparecer na frente nas pesquisas de mercado. No Brasil, a Totvs lidera o setor em número de empresas usuárias, com 34% de participação, seguida pela SAP, com 32%. A Oracle aparece em 3º lugar, com 13%, de acordo com a 30ª pesquisa anual sobre uso de tecnologia da Fundação Getulio Vargas (FGV/SP). Entre as grandes empresas, que detêm os maiores orçamentos, a SAP é dona de 50% do mercado, enquanto a Oracle responde por 18%.
 
No campo da infraestrutura, a competição mais dura é com a Amazon Web Services (AWS), embora o mercado também seja disputado por outras gigantes como Microsoft e Google. Como as demais fornecedoras de tecnologia, a Oracle está investindo na nuvem, o modelo pelo qual dados e softwares são acessados via internet e comprados na forma de serviço. O cliente paga pelo que usa. No Open World, Ellison anunciou uma plataforma autônoma, que não requer intervenção humana. Ele lembrou o incidente com o banco Capital One, que teve 100 milhões de clientes afetados por um vazamento de dados, em julho, e atacou a AWS, da qual o banco é cliente. Disse que a AWS - braço de infraestrutura da gigante de comércio eletrônico - não aceitava a responsabilidade pelos erros de configuração que levaram à invasão. E afirmou que isso não seria problema com o sistema autônomo porque ele se autoconfigura, sem erros humanos que poderiam comprometer o funcionamento.
 
 
A Oracle quer casar essas duas camadas - a de ERP e aplicações com a infraestrutura autônoma - para atrair mais clientes. No Brasil, a Refinaria Nacional de Sal, dona da marca Sal Cisne, começou a usar o ERP da Oracle em 2013 e, desde então, vem expandindo a adoção de suas tecnologias. Em 2016, levou a internet das coisas ao chão de fábrica. O sistema programa cada máquina individualmente, e de maneira automática, definindo detalhes como volume de produção e tipo de sal. “Não tem ninguém para apertar o botão”, diz Wilker Costa, gerente de tecnologia da informação da Sal Cisne. Todo o processo é automatizado, incluindo o transporte dos sacos de sal até os paletes, de onde são distribuídos. “Em tempo real, sabemos quanto está sendo produzido, e em que máquina”, afirma o executivo. “Você controla melhor as perdas, como um fardo que se rasgou, o que ajuda bastante no reaproveitamento do material.”
 
A próxima geração de usuários, ainda em formação, é outro alvo prioritário da Oracle, o que inclui de startups a programadores. Em San Francisco, a empresa anunciou que vai dar a estudantes acesso gratuito a seu banco de dados autônomo e aos recursos em nuvem. “Tudo de graça”, repetiu Ellison no palco, à exaustão.
 
Outras empresas têm cortejado estudantes, mas a Oracle se comprometeu a não limitar o tempo de uso, nem bloquear parte dos recursos, como é mais comum. “A juventude está chegando ao mercado e é uma grande oportunidade”, diz Rodrigo Galvão, presidente da Oracle no Brasil. “Se o programador começar [a trabalhar] na nossa plataforma, será mais difícil deixa-la mais tarde”, afirma.
 
O repórter viajou a convite da Oracle
 

 
Fonte: Valor




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