Pandemia mata quase 1 milhão, mas número real deve ser maior
25/09/2020

 
 

O mundo registrará oficialmente 1 milhão de mortes pela covid-19 nos próximos dias, mas o número real pode ser quase o dobro. 

As fatalidades efetivas da pior pandemia em um século podem chegar perto de 1,8 milhão, número que poderá crescer a cerca de 3 milhões até o fim do ano, segundo Alan Lopez, diretor do grupo global de doenças da Universidade de Melbourne, na Austrália. 

A rápida disseminação do novo coronavírus e sua capacidade de transmissão em pessoas que não demonstram sinal da doença permitiram ao vírus escapar das medidas que quantificam os casos com exatidão através testes de diagnósticos em grande escala. 

“Um milhão de mortes tem um significado próprio, mas a questão é se isso é verdade”, disse Lopez em entrevista. “É justo dizer que o 1 milhão de mortes, por mais chocante que seja, provavelmente está subestimado - significativamente subestimado.” 

Mesmo em países com sistemas de saúde sofisticados, está sendo difícil medir com exatidão a taxa de mortalidade. Dezenas de milhares de mortes provavelmente provocadas pela covid-19 nos EUA não foram capturadas pelas estatísticas oficiais entre março e maio, segundo constatou um estudo em julho, frustrando os esforços de rastreamento e amenização da progressão da pandemia. 

 

 
 

A falta de informações acuradas compromete a capacidade dos governos de implementar estratégias e políticas adequadas para proteger a saúde pública e promover a recuperação econômica. 

Se o número de mortos pela covid-19 chegar a 3 milhões, como Lopez prevê, isso colocará a doença entre as mais mortais do planeta. Uma subnotificação de mortes também pode dar a algumas pessoas a sensação falsa de segurança e pode permitir que governos subestimem o peso da pandemia. 

A Índia confirmou mais de 5,4 milhões de casos de covid-19, mas responde por apenas 90.020 das 967.164 mortes reportadas mundialmente para a Organização Mundial da Saúde (OMC) até quarta-feira. O país com o maior número de contágios depois dos EUA carece de um sistema nacional confiável de estatísticas para rastrear as fatalidades em tempo real. 

Em Indiana, nos EUA, pesquisadores constataram em que, embora os moradores de casas de repouso não estivessem sendo rotineiramente testados para o coronavírus, eles representavam 55% das mortes por covid-19 no Estado. 

“Sim, casos são informados diariamente em todos os lugares, mas assim que você chega ao nível seguinte, como o número de pessoas admitidas nos hospitais, vê que há grandes diferenças nos números”, diz Christopher J. Murray, diretor do Instituto de Medidas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington em Seattle. 

Os dados médicos, incluindo a duração da doença e seus sintomas, ajudam a atribuir uma provável causa da morte, diz Murray. 

Os pacientes com doenças do coração, diabetes, câncer e outras condições crônicas têm mais chances de morrer de covid-19. Alguns governos, como o da Rússia, estão atribuindo a causa da morte de alguns desses pacientes a condições pré-existentes, levantando dúvidas sobre a veracidade dos dados oficiais de mortalidade. 

Em julho, a Rússia registrou 5.922 fatalidades em razão da covid-19. Ao menos 4.157 outras mortes estavam ligadas à doença, mas não foram incluídas na contagem por uma questão de definição.. No total, a Rússia registrou 29.925 mais mortes em julho do que no mesmo mês de 2019. 

 

A OMC estabeleceu em junho diretrizes para classificar as mortes por covid-19, aconselhando os países a contar as fatalidades se os pacientes apresentaram sintomas da doença, independentemente dos casos serem confirmados ou não. Uma morte por covid-19 deveria ser contada como tal mesmo se condições pré-existentes agravaram a doença, disse a OMC. 

Mesmo assim, poderá levar tempo para os trabalhadores do setor de saúde adotarem a metodologia, segundo Lopez. “Os médicos aprendem enquanto trabalham, portanto eles não estão certificando todas as mortes decorrentes da covid como mortes por covid.” 

Embora a pandemia tenha alterado os padrões de mortalidade no mundo todo, nem todas as mudanças são resultados diretos dela, diz Lopez. As medidas de distanciamento social podem ter reduzido as mortes por acidentes de carro e as causadas pela gripe. 

No Japão, que vem sendo observado de perto pela falta de testagens amplas e pelos esforços relativamente frouxos de contenção, as mortes tiveram uma queda anual de 3,5% em maio, mesmo com o pico dos casos de covid-19 no mês. 

“A pandemia na verdade funciona de maneiras contraditórias para afetar a mortalidade”, continua Lopez. Do mesmo modo, o custo econômico da pandemia - que poderá superar os US$ 35 trilhões até 2025 - será resultado mais das mudanças nos padrões de gastos das pessoas do que pelo número de mortes e medidas de lockdown decretadas pelos governos, diz o economista Warwick McKibbin, da Australian National University. 

“Estimamos que a pandemia custará dezenas de trilhões de dólares para a economia mundial”, disse McKibbin. “A mudança nos resultados econômicos é causada pela mudança de comportamento dos indivíduos, e não porque o governo decretou um lockdown. 

 
 

 

Fonte: Valor




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