A AstraZeneca se defendeu bem da tentativa de aquisição feita pela Pfizer, que ofereceu 69 bilhões de libras (US$ 116,05 bilhões), mas agora precisa demonstrar aos acionistas que vai poder gerar mais valor por conta própria.
A defesa do laboratório farmacêutico britânico baseou-se na projeção do executivo-chefe, Pascal Soriot, de que a AstraZeneca vai elevar a receita em 75% nos próximos dez anos, com a entrada de uma série de novos medicamento da empresa no mercado.
Poucos analistas duvidam que a AstraZeneca tenha vários medicamentos promissores em desenvolvimento - em particular, contra o câncer -, mas mesmo os que são simpáticos à ideia dizem que as metas de crescimento parecem demasiado otimistas.
Depois de terem rejeitado a quarta e última oferta de 55 libras por ação apresentada pela Pfizer, Soriot e o executivo-chefe da AstraZeneca, Leif Johansson, estarão sob pressão a cada dia que as ações estiverem abaixo desse nível. Ontem, os papéis caíram 11%, para 42,96 libras, depois que investidores passaram a considerar que a hipótese de acordo estava afastada. "O preço de 55 libras vai ser como um marco em torno a seus pescoços", diz uma fonte próxima à Pfizer.
Muito se falou sobre o risco de interrupção no desenvolvimento de remédios que uma compra poderia trazer, de forma que a AstraZeneca deverá deparar-se com investidores menos pacientes com qualquer atraso ou decepção que vierem a recair sobre seus processos de pesquisa no futuro.
As receitas - em queda de 23% nos últimos três anos - devem continuar a cair por mais dois anos, à medida que remédios antigos perderem a proteção de patente, retornando apenas em 2017 aos níveis de 2013. Soriot diz estar confiante de que o crescimento será acelerado depois disso, com a chegada dos novos produtos. Os investidores, no entanto, precisam confiar nessa promessa, em um setor notório por decepções científicas e surpresas.
Alguns analistas e investidores acreditam que Soriot pode cumprir suas promessas. Andrew Baum, analista do Citigroup que há meses vem alardeando os produtos em fase de desenvolvimento da AstraZeneca, disse ontem que continua a acreditar que as perspectivas da empresa estão subestimadas.
O otimismo baseia-se em uma nova classe de terapias oncológicas. A AstraZeneca prevê vendas anuais de até US$ 6,5 bilhões para o mais avançado desses produtos, conhecido como MEDI4736, que deve entrar na terceira fase de testes, o passo final antes de requerimento para sua aprovação.
Os mais céticos ressaltam a intensa concorrência em terapias imunológicas contra o câncer, de nomes como Bristol-Myers Squibb, Merck e Roche, todas na frente na corrida por chegar ao mercado. Baum, no entanto, disse ontem acreditar que a empresa britânica ainda pode surgir com o melhor produto na categoria.
Neil Woodford, gestor de fundos no Reino Unido, diz que vem comprando ações e agora administra 450 milhões de libras em ações da AstraZeneca, em nome da St. James's Place. Segundo Woodford, o executivo-chefe Soriot transformou as perspectivas da empresa desde que assumiu o comando em 2012. "Era a que tinha a pior linha [de remédios] a ser lançada no setor e passou a ser a melhor", diz Woodford. "Se você olhar o que Pascal fez em dois anos, imagine o que ele pode fazer em cinco", afirmou..
Outros investidores são menos otimistas. Preferem destacar os riscos e incertezas inerentes ao desenvolvimento de drogas e criticar a AstraZeneca por encerrar a negociação sobre uma oferta que era 45% mais alta que o preço das ações antes de o interesse da Pfizer tornar-se público em abril.
A Pfizer também se depara com questionamentos a respeito de seu rumo a partir de agora. Ian Read, presidente do conselho de administração e executivo-chefe, insiste que sua estratégia não depende da compra da AstraZeneca. Os resultados fracos do primeiro trimestre divulgados neste mês, no entanto, evidenciam a necessidade de fontes de crescimento para substituir antigos sucessos de vendas, como o Viagra e o Lipitor.
"Muitos investidores acreditam que a Pfizer precisava deste acordo e, portanto, vão ficar decepcionados se tudo acabar desta maneira."
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