Anvisa recua em menos de 48 horas e libera volta de testes com Coronavac
12/11/2020

Menos de dois dias após determinar a suspensão dos testes clínicos com a Coronavac, vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e pelo Instituto Butantan, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou ontem a retomada dos trabalhos. 

O recuo ocorreu depois que ficou claro que o caso que levou à decisão da Anvisa foi um possível suicídio que não guarda nenhuma relação com os efeitos da vacina - a polícia ainda investiga a hipótese de uma overdose acidental. 

A suspensão, justificada pela ocorrência de um “evento adverso grave com um dos voluntários”, motivou mais uma troca de acusações entre autoridades federais e paulistas em razão da politização do assunto. E pegou de surpresa a direção do Butantan e o governo de São Paulo. 

O presidente Jair Bolsonaro comemorou em suas redes sociais o que considerou uma vitória pessoal, enquanto o governador de São Paulo, João Doria, disse que acreditava na retomada imediata dos estudos. O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia dado 48 horas para a Anvisa explicar os critérios técnicos que justificam a decisão de interromper os estudos. 

O prazo não chegou a expirar. Em nota, ontem, a Anvisa informou que recebera documentos que garantem que o evento ocorrido com um dos voluntários não tinha relação com o imunizante. 

“Importante esclarecer que uma suspensão não significa necessariamente que o produto sob investigação não tenha qualidade, segurança ou eficácia”, destacou a agência. “A suspensão e retomada de estudos clínicos são eventos comuns em pesquisa clínica e todos os estudos destinados a registro de medicamentos que estão autorizados no país são avaliados previamente pela Anvisa com o objetivo de preservar a segurança para os voluntários do estudo.” 

Após o anúncio, o governador de São Paulo comentou a decisão nas redes sociais. “A Anvisa acaba de autorizar a retomada dos testes da Coronavac no Brasil. Ficou claro para a agência que o ‘evento adverso grave’ que ocorreu com um dos voluntários não teve qualquer relação com a vacina. A Coronavac é segura, como já ficou comprovado nos testes feitos até aqui.” 

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, lamentou que o processo de produção de vacinas contra o coronavírus tenha sido politizado. “Não é bom”, afirmou em entrevista coletiva no Palácio do Planalto. Ele não quis, contudo, entrar em detalhes sobre a participação do presidente na disputa com outros políticos. 

“Isso [interrupção dos testes] é uma coisa normal num processo de você descobrir uma forma de tratar uma doença. O que não pode é politizar, infelizmente você sabe bem que esta questão está toda politizada, é do lado A, do lado B, isso não é bom”, opinou Mourão. 

Mesmo assim, os principais personagens envolvidos no episódio terão que prestar esclarecimento ao Congresso. A comissão mista que analisa ações voltadas ao combate da covid-19 no Congresso Nacional aprovou requerimento para a realização de uma audiência pública com o objetivo de colher explicações dos representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Butantan. 

Os convites foram aprovados em nome de Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa, e Dimas Tadeu Covas, diretor do Instituto Butantan. A ideia é que a audiência virtual aconteça amanhã. 

Internamente, o episódio foi lamentado por técnicos do Ministério da Saúde, que viram a politização em torno da vacina minar desta vez a credibilidade da Anvisa. A decisão de barrar os testes em São Paulo foi vista como “intempestiva”, principalmente porque não teve a chancela de um comitê internacional independente, que analisa esse tipo de situação. 

O fato de o caso que levou o veto aos testes se tratar de um suicídio aumentou ainda mais o constrangimento entre os servidores da pasta. “Em se tratando de um suicídio, para questões éticas ficou muito mal”, disse uma fonte. “Aqui dentro, comentou-se muito o quanto foi triste a fala do Bolsonaro e isso tudo ter acontecido com um caso de suicídio.” (Colaboraram Renan Truffi e Vandson Lima) 

 
 

Fonte: Valor




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