Segunda onda de covid-19 no Brasil: o que dizem especialistas e a ciência
17/11/2020
Foram 5.990 casos de covid-19 registrados na Suécia apenas na última sexta-feira. Outros 6.600 em Portugal no sábado. Na Alemanha, um recorde de 23.542 casos da doença, também na sexta-feira. A ascensão de uma segunda onda de covid-19 na Europa lançou uma dúvida sombria sobre o Brasil. O quão preparados devemos estar para lidar com a possibilidade de uma nova elevação no número de casos e mortes no país, a exemplo do que acontece lá fora?
 

O Brasil notoriamente não lidou com a pandemia como a Europa. Nossos distanciamento social e lockdown foram parciais e o país experienciou uma interiorização da doença nos meses que seguiram ao aumento de casos em grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Manaus. As taxas de infecção e de morte mantiveram um platô por meses e começaram a apresentar uma tendência de redução apenas nas últimas semanas, quando os casos começaram a diminuir aqui.

Ao mesmo tempo que vivemos a tendência de queda do número de casos em vários estados, segundo dados oficiais, o aumento de novos casos nos Estados Unidos e na Europa deixou cidadãos preocupados sobre a possibilidade de uma segunda, ou até mesmo de uma continuação daquela primeira onda. 

Alguns números no aumento de internações têm preocupado especialistas e autoridades. No estado de São Paulo a semana passada foi de aumento de internações em UTI: foram 1.009 novas solicitações, alta de 18% ante a semana anterior. Apesar disso, o número está abaixo do pico de julho, quando havia quase 2.000 novas internações diárias no estado.

 

Até às 8h da manhã desta segunda-feira, 16, o consórcio de veículos de imprensa apontava que o Brasil alcançou a marca de 165.813 mortos pela doença e 5.860.636 casos — com 138 mortes registradas nas últimas 24 horas até às 20h de domingo. A média móvel de mortes no Brasil na última semana, então, foi de 491, alta de 22% em comparação à média de duas semanas atrás. Desde 4 de junho o país não passava por uma tendência de alta nas mortes. A subnotificação pode alterar mais ainda a conta. 

Mesmo que os números pareçam baixos, eles não deixam de ser preocupantes. Para um país que enfrentava um platô de casos, a subida pode levar a um aumento no número de mortes.

Segundo o infectologista Carlos Fortaleza, professor da Unesp e membro do Comitê de Contingência da covid-19 no estado de São Paulo, o fato de não termos conseguido fazer um isolamento tão grande no Brasil quanto na Europa não é um indicativo de que uma segunda onda por aqui está descartada.

“Nada garante que não ocorra uma segunda onda no Brasil. Estamos fazendo uma série de flexibilizações, mas temos de estar preparados para voltar atrás e fechar de novo caso seja necessário”, afirma Fortaleza, reiterando que até o plano de reabertura no estado de São Paulo previa o retorno a situações de maior ou menor fechamento.

“Existe um aumento de casos na classe A e B e acredito que isso acontece porque as pessoas voltarão a ir em bares e restaurantes, e estão fazendo reuniões sociais”, explica Kalil, do Incor, que acredita que os jovens são os novos “culpados” por um novo espalhamento da covid-19 no Brasil.

 “O pessoal de maior idade, ou porque são aposentados, ou porque trabalham de casa, conseguem se isolar mais. Os jovens não aguentam. Saem mais e têm menos medo porque sabem que a doença não costuma ser tão grave assim. Os casos aumentaram por conta do grau de exposição”, diz Granato, diretor clínico do Grupo Fleury.

Para Kalil, o número de casos no Brasil deve continuar aumentando até o final do ano, em especial com festas como o ano novo e o Natal. 

“A gente vê que o brasileiro não consegue se conter, e acho que nas festas de fim de ano as pessoas não vão conseguir fazer o que deve ser feito. Tenho bastante receio do que vai acontecer no final do ano e em todo o verão, não só em lugares abertos, mas também em lugares fechados”, disse. 

Na última semana, um estudo realizado pelas universidades de Stanford e de Northwestern apontou que o risco de se infectar pela covid-19 é maior em hotéis, restaurantes, bares e academias que não respeitam regras como o distanciamento social e o uso de máscaras durante refeições ou exercícios.

E a imunidade de rebanho?

Com mais de 5,8 milhões de casos confirmados no país e algumas cidades bastante afetadas pela doença, muitos esperavam que o fenômeno da imunidade de rebanho impediria uma segunda onda da covid-19.

A imunidade de rebanho parte da premissa que imunizar parte da população — com uma vacina ou anticorpos após o corpo ter lutado contra a doença, por exemplo —  garante que a doença terá dificuldade de circular. Haverá menos pessoas que possam ficar doentes com o vírus e a incidência dele tende à queda. 

Em setembro, um estudo indicou que 66% dos habitantes de Manaus poderia ter sido infectado pela covid-19, e pesquisas indicaram que a cidade estaria entrando na chamada “imunidade de rebanho”. Não foi o que aconteceu. Pouco tempo depois, o número de casos voltou a subir na capital do Amazonas, uma alta  de 117% em outubro, na comparação com o mês anterior, o que sugere que a infecção atingiu pessoas que ainda não haviam contraído a doença.

 

Segundo Fortaleza, do Comitê de Contingência da covid-19, um inquérito sorológico na cidade de São Paulo não deve revelar mais que 30%  da população com imunidade ao coronavírus. Isso deixa 70% das pessoas suscetíveis à doença e torna factível a possibilidade de uma segunda onda.

“Nós vivemos uma situação que não justifica um lockdown agressivo e também não justifica uma volta à vida pré-pandêmica. Nossa situação é de vigilância. Temos que continuar em casa o máximo de tempo possível, sair apenas objetivamente, usar máscara e nos expor o mínimo, evitando aglomerações”, afirma Fortaleza, lembrando que o equilíbrio é observar a situação para tomar as decisões mais acertadas do ponto de vista epidemiológico.

Fonte: Exame




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