Brasil não tem ultracongeladores para armazenar vacina da Pfizer contra covid
19/11/2020

Anunciados na quarta-feira, os bons resultados dos testes concluídos da vacina da Pfizer e da BioNTech contra covid-19 trazem um desafio inédito: o armazenamento e a distribuição de um imunizante com duas doses em um intervalo de 21 dias a -70°C. Na logística brasileira, não há, hoje, ultracongeladores para isso na chamada Rede de Frio, do Programa Nacional de Imunização. 
 

Hoje, o padrão de manutenção de vacinas no mundo é feito em refrigeradores, com temperaturas que variam entre 2°C e 8°C. É o que encontramos nas geladeiras caseiras.

 

 

 
As imunizações contra a febre amarela e a poliomielite, especificamente, exigem armazenamento em temperaturas mais baixas (-15ºC a -25ºC), em equipamentos como os freezers científicos. Antes de serem ministradas, as duas vacinas migram para a temperatura "padrão" dos refrigeradores, de 2°C e 8°C, onde podem ficar por até um mês. 
 

Já a vacina da Pfizer contra a covid-19, batizada de BNT162b2, aguenta apenas cinco dias na temperatura padrão dos refrigeradores. 
 

"Não é algo trivial. Não conheço nenhum país que tenha cadeia de frio adaptada pra temperaturas tão baixas", diz Natália Pasternak, microbiologista e pesquisadora da USP. 


O Brasil tem equipamentos voltados à imunização como freezers científicos (que custam na ordem de R$ 25 mil), caminhão-baú refrigerados (na ordem de R$ 150 mil) e geradores (que passam de R$ 4 milhões). Os valores são do Fundo Nacional de Saúde. 

 

A infraestrutura, no entanto, é desigual. O país tem 484 geradores na rede de saúde com diferentes capacidades em caso de falta de energia – o Maranhão, por exemplo, só conta com um. 
 

Há 680 freezers científicos no país todo. Mato Grosso do Sul e Piauí, no entanto, não tem esse tipo de equipamento. Sete dos 31 caminhões-baú refrigerados estão concentrados em São Paulo. Os dados são do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES/Datasus). 
 

Vale lembrar que o controle térmico das vacinas já disponíveis é bem importante, porque algumas são sensíveis às temperaturas mais baixas (caso da imunização contra o HPV) e outras, ao aumento de temperatura (como a BCG). Vacinas genéticas como a da Pfizer, de acordo com cientistas, são ainda mais frágeis a variações térmicas. 
 

"Levar essa vacina à população, principalmente em países de menos recursos, monitorando as duas doses e garantindo que a vacina não perca parte da eficácia por causa da necessidade de mantê-la tão fria será um grande desafio de logística que a maioria dos países não está preparada para enfrentar", diz Denise Garrett, médica epidemiologista, vice-presidente Instituto Sabin (EUA). 
 

De acordo com a Pfizer, na ausência dos ultracongeladores, a vacina pode ser ser armazenada por até 15 dias em uma espécie de contêiner com gelo seco, desenvolvido pela própria farmacêutica, mas cujos detalhes não são conhecidos. A empresa anunciou que a ciência tem avançado não somente no desenvolvimento da vacina, mas na parte logística, armazenamento e na distribuição. 
 

O governo brasileiro já sinalizou negociação com a empresa, mas não há informações sobre o planejamento da distribuição da imunização em temperaturas tão baixas. 
 

Questionado sobre como está se preparando para o armazenamento e a distribuição de vacinas contra a covid-19 a -70ºC, o Ministério da Saúde informou, em nota, que "toda a rede de frio do Brasil dispõe de equipamentos para armazenamento de vacinas a -20°C, com exceção da instância local, que são as salas de vacinas e onde o armazenamento se dá na faixa de controle de +2°C a +8°C". A pasta não esclareceu, no entanto, como lidaria com a distribuição de uma vacina genética com complexidade inédita. 

Fonte: Valor




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