Um estudo do governo dos Estados Unidos mostrou que o novo coronavírus já circulava no país em meados de dezembro de 2019, algumas semanas antes de ser oficialmente identificado na China e cerca de um mês antes do registro do primeiro caso no país.
As descobertas reforçam as evidências que sugerem que o vírus estava se espalhando pelo mundo muito antes que as autoridades de saúde pública e pesquisadores soubessem, podendo alterar o entendimento inicial sobre o quão rapidamente ele surgiu.
Cientistas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) encontraram evidências de infecção em 106 das 7.389 doações de sangue recebidas pela Cruz Vermelha em nove Estados dos EUA, de acordo com o estudo, publicado na revista “Clinical Infectious Diseases”.
As amostras foram coletadas entre os dias 13 de dezembro e 17 de janeiro, sendo enviadas posteriormente ao CDC para que a agência descobrisse se havia nelas algum anticorpo para o Sars-CoV-2, o vírus que causa a doença.
Ao analisar as amostras da Cruz Vermelha, os cientistas encontraram anticorpos em 39 doações feitas por moradores de Califórnia, Oregon e Washington entre os dias 13 e 16 de dezembro.
Também havia anticorpos contra a covid-19 em 67 amostras coletadas em Massachusetts, Michigan, Wisconsin, Iowa, Connecticut e Rhode Island entre 30 de dezembro e 17 de janeiro.
Para os autores, as descobertas também mostram que os casos estavam ainda mais espalhados — embora ainda isolados — no início deste ano.
Os cientistas descartaram a hipótese de que os anticorpos encontrados tenham sido desenvolvidos para combater outros tipos de coronavírus, como o que provoca a gripe comum.
Outros estudos já haviam indicado que a covid-19 estava circulando pelo mundo antes do que se imaginava. Pesquisadores da França, por exemplo, encontraram evidências de que um paciente foi hospitalizado no país com a doença no dia 27 de dezembro do ano passado.
O primeiro caso nos EUA foi registrado no dia 19 de janeiro, dois dias após o início dos testes para o vírus, segundo os pesquisadores do CDC. Um jovem que voltou da China alguns dias antes suspeitou que ele pudesse estar com a doença e procurou atendimento médico.
Duas pessoas que foram posteriormente diagnosticadas nos EUA também desenvolveram sintomas em meados de janeiro.
Para os cientistas, o novo estudo mostra o valor da triagem de amostras de sangue coletadas rotineiramente em busca de evidências de que um vírus possa estar se espalhando em uma população.
Eles descobriram não apenas que a covid-19 surgiu nos EUA antes do que se sabia, mas também que o vírus muito mais disseminado no país do que os testes indicam.
Cerca de 53 milhões de pessoas nos EUA provavelmente já haviam sido infectadas pelo Sars-CoV-2 até o fim de setembro, de acordo com uma projeção publicada na semana passada também por pesquisadores do CDC. Nesse período, 6,9 milhões de casos foram confirmados.
No entanto, a maior parte da população dos EUA não foi publicada. Outro estudo do CDC, publicado no fim de novembro, estimou que entre 1% e 23% das pessoas tinham anticorpos contra a covid-19, dependendo do lugar onde viviam no país.