Desconfiança com vacina ainda é grande
08/12/2020

Os governos estão acelerando as providências para aprovar as primeiras vacinas para deter a covid-19, mas a preocupação do público com relação a segurança das doses ameaça minar esses esforços. 

Pesquisa da Universidade de Hamburgo mostrou em novembro que cresceu, para em torno de 40%, a porcentagem das pessoas que estão hesitantes ou pouco dispostas a tomar uma vacina contra covid-19 em sete países europeus. Sondagem semelhante de outubro, da Ipsos, detectou que quase 33% dos japoneses e quase 50% dos franceses disseram que não planejam tomar a vacina contra a covid. 

Em alguns países, como EUA e Itália, pessoas antivacinas estão estimulando esses temores, segundo Heidi Larson, da London School of Hygiene & tropicalMedicine e diretora do Vaccine Confidence Project, grupo que monitora a confiança nas vacinas no mundo inteiro. “Há muita angústia”, disse ela. 

Um dos maiores fatores a alimentar a hesitação é a própria rapidez com que as coisas têm acontecido. Com a escalada dos casos de covid-19, os governos do Ocidente estão sob intensa pressão para fazer com que a vida volte ao normal. O Reino Unido, que encerrou o segundo lockdown na Inglaterra na semana passada, aprovou na quarta-feira, para uso emergencial, a vacina da Pfizer - BioNTech. A imunização começa hoje. 

Nos EUA, que têm registrado recordes de casos, hospitalizações e mortes por covid-19, o chefe de Gabinete do presidente Donald Trump repreendeu o responsável pela Agência de Alimentos e Medicamentos (FDA) por não agilizar a aprovação da vacina da Pfizer. 

Por suas vacinas de combate à covid-19, empresas como a Pfizer e a Moderna reduziram o que era normalmente um processo de 10 anos de desenvolvimento e testagem para menos de um ano. 

Essa rapidez, ao lado do medo de potenciais efeitos colaterais, é, em grande medida, responsável pela queda de 4 pontos percentuais entre agosto e outubro, para 73%, das pessoas que dizem que vão se vacinar contra a covid-19, de acordo com a pesquisa da Ipsos. 

“Eles podem ter pulado fases [em detrimento da qualidade]. Poderá haver efeitos colaterais”, disse Federico Sarti, agente de viagens de 33 anos do Vêneto, que não pretende tomar a vacina contra a covid-19, embora tome todas as demais recomendadas. “A vacina assusta mais que o próprio vírus.” 

 

Para os governos, há muita coisa em jogo. Se um número suficiente de pessoas não for vacinado e o vírus continuar a circular em altos contingentes, uma volta à vida normal e ao curso tranquilo das economias será mais difícil. 

“Se a transmissão não for controlada, poderá ser difícil, por exemplo, planejar as Olimpíadas [de Tóquio] do ano que vem”, disse Satoshi Iiwata, do Conselho Especializado de Promoção da Vacinação e médico do Hospital do Centro Nacional de Câncer do Japão. 

Na Universidade de Hamburgo, na Alemanha, Jonas Schreyögg, professor de gestão de assistência médica, estima que 70% ou mais de uma população têm de adquirir imunidade para parar a transmissão do coronavírus. “Essa hesitação poderá impedir que se conheçam os potenciais efeitos das vacinas, uma vez que elas necessitam de adoção generalizada.” 

Há outros fatores também por trás da hesitação. Algumas pessoas têm objeções contra todas as vacinas. Embora seu número seja relativamente pequeno, os defensores antivacinas são ruidosos e adeptos de alimentar os temores de outras pessoas, disse Larson, do Vaccine Confidence Project, que monitora o tema nas redes sociais. 

A aceitação à vacina poderá aumentar se as taxas de infecção do coronavírus continuarem a subir e se for divulgado maior volume de informações sobre as vacinas, coisa que, segundo os pesquisadores, o que já pode estar acontecendo. 

Nos EUA, mais de metade dos consultados na pesquisa de novembro da Dentsu disseram que o anúncio da parte de empresas como a Pfizer de que suas vacinas têm alta eficácia aumentou seu interesse por tomar a vacina. 

Em última instância, talvez a melhor esperança é a de que, até chegar o período de intensificação da produção de vacinas, em 2021, os lotes iniciais terão gerado um histórico capaz de convencer pessoas hoje indecisas a tomar a vacina também, disse Larson, do Vaccine Confidence Project. 

 
“Acho que não deveríamos tentar pressionar [as pessoas] a tomar essas vacinas, e sim tentar fazer com que as pessoas tenham uma compreensão melhor sobre o que elas são, sobre o quanto foram testadas”, disse ela. 

Fonte: Valor




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