Em meio à espera da aprovação da Coronavac e do vaivém de informações sobre a documentação necessária para o uso emergencial da vacina, o governo de São Paulo apresentou ontem a logística da vacinação no Estado e admitiu a possibilidade de atrasar a aplicação da segunda dose do imunizante para que mais pessoas recebam a primeira. O governador João Doria (PSDB) reiterou que a vacinação começará em 25 de janeiro.
Na entrevista para divulgar o plano logístico, em que cerca de 2 milhões de doses serão distribuídas por semana, Doria cobrou celeridade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na aprovação da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac e detalhes do Plano Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde.
“O senso de urgência amparado pela ciência deve prevalecer”, afirmou Doria. Na visão do governador, o processo da Coronavac tem sido postergado em favor da vacina produzida pela Fiocruz/Oxford, do governo federal. “Atrasar, burocratizar para quê? Para servir qual interesse? É hora de colocar o sentimento acima de qualquer discussão política e partidária, ideológica.”
Segundo Doria, a data de início do programa de vacinação em São Paulo está mantida porque até agora não são conhecidos os detalhes do PNI, como quantas doses e qual o critério de distribuição para cada Estado. Adversário do presidente Jair Bolsonaro, o governador paulista disse que o governo federal não firma data para início da vacinação por interesse eleitoral.
Na semana passada, foi assinado um contrato de exclusividade entre o Ministério da Saúde e o Butantan que entrega toda a produção da Coronavac ao PNI. Doria não vê isso como impedimento para o início da vacinação no Estado e diz que o plano paulista pode se acoplar depois ao programa federal.
O secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, afirmou que o Estado vai respeitar o PNI, mas que, como a Coronavac é, por enquanto, a única vacina disponível, a parcela que cabe a São Paulo pode ser menor que a esperada inicialmente. Nesse sentido, o coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus, João Gabbardo, disse que há possibilidade de a segunda dose da vacinação ser postergada. “O Centro de Contingência não se posicionou sobre o tema, mas é uma possibilidade. Mesmo com um número menor de vacinas, o Estado poderia manter seu cronograma priorizando idosos e trabalhadores da área de saúde.” Pelo cronograma inicial haveria um prazo de 14 a 28 dias entre a aplicação da primeira e da segunda dose.
Segundo o plano logístico apresentado ontem, serão distribuídas aos municípios paulistas cerca de 2 milhões de doses da Coronavac por semana. O Butantan tem 10,8 milhões de doses da vacina em estoque e capacidade para produzir 1 milhão de doses por dia.
Segundo Eduardo Ribeiro, secretário-executivo da Saúde de São Paulo, as vacinas contra a covid-19 irão do Instituto Butantan para uma central logística e de lá partirão semanalmente, e de forma direta, para os 200 municípios mais populosos (com mais de 30 mil habitantes) do Estado. Os 445 municípios restantes irão se abastecer semanalmente a partir de 25 centrais logísticas.
Cerca de 77 mil pessoas estarão diretamente envolvidas na vacinação, 25 mil policiais e 52 mil profissionais de saúde em 5,2 mil salas de vacinação, que poderão ser ampliadas para 10 mil. O Butantan divulga hoje os dados de eficácia global da Coronavac. Contra casos leves, a eficácia é de 78%. A Indonésia aprovou ontem o uso emergencial da Coronavac e divulgou uma eficácia global de 65,3%.