Estados retêm 2ª dose para garantir intervalo
20/01/2021

Governos estaduais estão redistribuindo apenas metade das vacinas Coronavac aos seus municípios e guardando o restante para garantir a aplicação da segunda dose no intervalo recomendado. “A orientação do governo federal foi para que se respeitasse o intervalo de 21 a 28 dias, tanto que a sugestão foi que os Estados pudessem reter metade das doses e fazer uma segunda entrega. A maioria está fazendo assim”, disse ao Valor Carlos Lula, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e à frente da pasta no Maranhão. 

Alguns Estados, porém, optaram por enviar de uma vez todos os imunizantes proporcionais a cada cidade, como Mato Grosso do Sul e Pernambuco. Segundo a Secretaria de Saúde pernambucana, o envio das duas doses foi definido em reunião da Comissão Intergestora Bipartite (CIB), com representantes da saúde do Estado e dos municípios, sob a condição de que elas sejam aplicadas respeitando a recomendação do ministério. A secretaria informou que, se uma cidade adotar estratégia diferente, terá de arcar com as eventuais consequências. A Secretaria de Saúde de Mato Grosso do Sul disse estar em contato direto com os municípios, orientando sobre o intervalo a ser observado. 

 

Para Marco Antonio Stephano, professor de Ciências Farmacêutica da USP, é acertada a estratégia de reter metade das doses nos Estados enquanto a oferta de vacina for restrita. Segundo ele, a dose única estimularia o surgimento de anticorpos por período limitado, de seis a sete meses, sem a fixação de células de memória. “Dose única não seria um total desastre, porque alguma imunidade será conferida, mas pode ser encarada como desperdício de vacina, porque rebaixa a eficácia a patamar inferior ao mínimo (50%). É erro sanitário, imprudência com consequências que serão observadas por promotores de Justiça.” Stephano considera que é dever da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fiscalizar e notificar os aplicadores na ponta, as prefeituras. 

O fundador e ex-diretor da Anvisa, Gonzalo Vecina, concorda que a dose única limita “perigosamente” os efeitos da vacina, mas diz que isso não pode ser dimensionado porque o Butantan não divulgou informações sobre dose única. Para Vecina, no entanto, a responsabilidade de coordenar e orientar a campanha nos Estados é do Ministério da Saúde. “Deveria haver recomendação ostensiva [pela dose dupla], que não existe. Se acontecer dose única, vai ser mais uma barbeiragem logística do governo federal.” Procurado, o ministério não se manifestou. 

Fonte: Valor




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