Rede Própria, Terceirização da Gestão Hospitalar e Falência
11/06/2014 - por Por Enio Salu

As operadoras estão trilhando o caminho do SUS, e fica cada vez mais evidente que o destino será o mesmo: ‘falência múltipla dos órgãos’. O incremento de recursos próprios é um caminho obrigatório, que vai fornecer algum oxigênio durante algum tempo, mas agonizar como o SUS é questão de tempo.

Vamos nos lembrar do que aconteceu com o SUS:

 

  • Quando foi implantado não existia oferta de serviços públicos e privados para que pudesse cumprir sua missão, então começou a financiar entidades filantrópicas e expandiu sua rede própria;
  • Sentindo-se ineficiente para gerir sua própria rede começou a terceirizar a gestão com parcerias público-privadas (OSs) e em pouco tempo verificou que a forma de gestão não era o problema central;
  • Agora alguns profetas pregam que o vilão é a forma de remuneração, e defendem a ‘contratualização’ como a solução. Parecem as ‘Organizações Tabajara’ dizendo ‘seus problemas estão resolvidos’. O SUS agoniza porque boa parte do pouco recurso destinado à saúde é desviado pela corrupção, ‘custo Brasil’ e ineficiência operacional – nenhuma das grandes ações citadas acima foi de encontro ao problema, então ele só faz agravar ao longo do tempo.

Então vamos discutir a Saúde Suplementar. É público e notório que:

 

  • As operadoras se mantinham saudáveis enquanto a população era mais jovem, menor, e utilizava pouco os serviços de saúde. O envelhecimento da população vai gradativamente ‘minando’ este modelo de negócios, e a falta de recursos é cada vez maior;
  • Enquanto as operadoras lucram quanto menos o associado utilizar a rede, o hospital lucra quanto mais ‘estropiado’ estiver o paciente: idoso, descompensado, diabético, cardiopata, psicopata … tudo que a operadora reza para não cair na sua carteira;
  • A rede de serviços existente não é suficiente para acolher os usuários de planos de saúde – em muito pouco tempo passamos de cerca de 30 milhões para 60 milhões;

Operadora não sabe gerir hospitais e vice-versa.

Finalmente vamos comparar os dois sistemas e concluir:

 

  • O primeiro movimento agonizante das operadoras está sendo expandir sua rede própria para depender o mínimo possível da rede credenciada, como fez o SUS. A operadora não tem alternativa porque a ANS está pressionando os prazos de atendimento, e o sistema de remuneração pressiona com falta de recursos;
  • Mas já estamos verificando o segundo movimento: terceirização da gestão dos hospitais da rede própria (como fez o SUS) – afinal de contas operadora não é especializada nisso, porque como vimos seu modelo de negócios tem objetivos totalmente diferentes dos hospitais;
  • O terceiro movimento da agonia será a constatação de que a gestão profissionalizada dos hospitais da rede própria, além de não resolver o problema central, ainda vai gerar efeitos colaterais: hospital é um organismo vivo, e não consegue se manter engessado – vai criar mecanismos próprios que irão contra os objetivos primários da operadora, como por exemplo aumentar sua oferta de produção para terceiros para poder se manter financeiramente.

O cenário já está muito bem estabelecido.

Conheço uma seguradora, que como não pode manter rede própria está financiando hospitais filantrópicos em troca de reserva de capacidade operacional. Sabemos que isso não vai dar certo porque ela está se colocando em um cenário político (e ilegal), e quando este ingrediente aparece a ‘sopa desanda’ – basta aguardar a próxima troca de governo, mesmo que seja do mesmo partido, e todo o esforço estará perdido.

Conheço diversos planos de saúde que estão cancelando todos os contratos dos seus hospitais próprios com outras operadoras, para que tenham capacidade operacional para atender o plano e fugir de sansões da ANS. E parte deles já estão pensando no que fazer com o ‘vermelho’ na linha de baixo do balanço e do fluxo de caixa do hospital.

Quando comparamos o que acontece no SUS e na Saúde Suplementar ainda devemos lembrar que:

  • A Saúde Suplementar sofre perseguição que o SUS não tem: se o SUS não cumprir sua meta ‘fica por isso mesmo’, mas se a operadora não cumprir as regras ‘toma multa’;
  • A Saúde Suplementar é obrigada a atender milhares por ações judiciais e isso é custo direto para as operadoras e para os hospitais que atendem pacientes particulares. O SUS não sofre com isso porque seu custo é praticamente fixo e se tiver que atender um na frente do outro: ‘tanto faz’.

Enquanto a Saúde Suplementar continuar baseada em um modelo de 10 milhões de usuários, tentando atender 60 milhões, a sequência Rede Própria, Terceirização da Gestão e Falência é inevitável para as operadoras, que ao contrário do SUS não tem ‘padrinho’ para cobrir seus ‘pecados’.

Os que se salvam, se trabalharem bem o planejamento, a gestão comercial e a gestão do faturamento, são os hospitais independentes – se trabalharem para seus clientes no ‘Padrão FIFA’ !


 




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