O governo enviou uma carta à fabricante AstraZeneca na qual dá aval para que empresas privadas brasileiras possam adquirir um lote de 33 milhões de doses de vacina, desde que metade do lote seja doada ao SUS (Sistema Único de Saúde), como revelou a “Folha de S.Paulo” ontem.
Na carta, encaminhada em inglês na sexta-feira, o governo envolve o fundo de investimento BRZ na negociação.
O texto é assinado pelos ministros Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União) e José Levi (Advocacia-Geral da União), além de Élcio Franco, secretário-executivo do Ministério da Saúde. Em cópia, aparecem o fundo Black Rock Holdings, que tem ações da farmacêutica anglo-sueca, e Gustavo Campolina, da BRZ Investimentos, com sede em São Paulo.
Na carta, revelada pelo jornal “O Globo” e confirmada pela reportagem da Folhapress, o governo elenca algumas condições, como que as companhias não podem comercializar os imunizantes e devem aplicá-los de graça em seus funcionários. Além disso, deve haver um sistema de rastreamento das vacinas.
O assunto foi debatido com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na semana passada e ele autorizou a liberação de compra pelas empresas. Para conseguir efetivar a aquisição, as companhias ainda precisam conseguir autorização para importação e para uso emergencial pela Anvisa.
Segundo integrantes do governo, o Executivo decidiu não se opor à compra porque o lote que é negociado pelas empresas é muito mais caro do que o que já foi adquirido pelo Ministério da Saúde.
A dose, no acordo construído pelas empresas está na faixa de US$ 23,79, valor muito acima do praticado no mercado.
Além disso, o governo tem a expectativa de que as empresas doem ao Ministério da Saúde mais da metade do que será adquirido. Ou seja, o governo pode receber mais de 16,5 milhões de doses, suficiente para imunizar 8,25 milhões de pessoas. Havia no Executivo quem discordasse da hipótese de vacinação privada, mas foi visão foi vencida.
Embora grandes empresas tenham desistido de participar de um grupo de compra, outras companhias reuniram-se ontem e insistem na negociação com o governo. O encontro ocorreu por videoconferência e teve 72 participantes. Segundo fontes, tem crescido o número de empresas interessadas na iniciativa de imunização.