Os 5,4 mil litros de insumos necessários para a produção da Coronavac pelo Instituto Butantan deverão chegar ao Brasil nos próximos dias, enfim liberados pela China. Ontem, o anúncio da medida gerou mais um capítulo da disputa política em torno da vacinação entre o governador João Doria (PSDB) e o presidente Jair Bolsonaro.
No Twitter, Bolsonaro disse que havia sido informado pela embaixada da China da liberação dos insumos da vacina a ser produzida pelo Butantan em parceria com a Sinovac e que o mesmo deve ocorrer com os produtos para o imunizante da AstraZeneca, a ser fabricado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Doria rebateu pouco depois as afirmações do presidente, dizendo que todo o processo de negociação com o governo chinês para liberar os 5,4 mil litros do insumo foi feito pelo instituto e pelo governo paulista. “Sem parasitismo dos negacionistas e oportunistas. Até aqui só atrapalharam nosso trabalho em prol da ciência e da vida. São engenheiros de obra pronta. Vergonha!”, escreveu o governador de São Paulo.
“Não é verdade o que disse o presidente Bolsonaro em redes sociais, de que a importação de insumos da China foi uma realização do governo federal”, afirmou Doria, no Twitter e em nota divulgada por sua assessoria. O governador disse que tanto o Instituto Butantan como seu governo estão negociando com a China a importação de vacinas e insumos desde maio de 2020.
“Essa negociação é contínua e nunca foi interrompida, mesmo quando o governo federal, através do presidente da República, anunciou publicamente em mais de uma ocasião, que não iria adquirir a vacina por causa de sua origem chinesa”, disse o tucano. “Nesse período, um total de quatro lotes de vacinas e insumos foi recebido pelo governo de São Paulo sem nenhuma participação do governo Bolsonaro.”
Segundo Doria, “os frequentes ataques à China dificultaram todo o processo. Se não fosse o esforço de São Paulo e a excelente relação de respeito que mantemos com a China, o principal parceiro comercial do Brasil, não teríamos iniciado ainda a vacinação dos brasileiros”.
No Twitter, Bolsonaro agradeceu a “sensibilidade do governo chinês” e o empenho dos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Eduardo Pazuello (Saúde) e Tereza Cristina (Agricultura) pela liberação da vacina, tentando mostrar o episódio como um feito de seu governo. A mensagem de Bolsonaro foi retuitada pelo embaixador da China no Brasil, Yang Wanming. “A China está junto com o Brasil na luta contra a pandemia e continuará a ajudar o Brasil neste combate dentro do seu alcance. A União e a solidariedade são os caminhos corretos para vencer a pandemia”, afirmou o embaixador no Twitter, ao responder a mensagem do presidente brasileiro.
O Ministério da Saúde atribuiu a chegada do insumo à atuação do governo Bolsonaro. “A continuidade do recebimento dos insumos para a fabricação das vacinas pelo Butantan voltou à normalidade, graças à ação diplomática do governo federal com o governo chinês, por intermédio da Embaixada Chinesa no Brasil”, afirmou o ministério, atribuindo a fala ao ministro Eduardo Pazuello.
O governo de São Paulo informou ainda que os insumos “não estão no aeroporto, conforme equivocadamente publicado pelo Presidente da República, mas sim nas instalações da Sinovac, em Pequim”. Doria deverá ter uma reunião virtual hoje com o embaixador chinês. “
Em ato pró-vacinação com ex-presidentes promovido ontem por Doria, Michel Temer (MDB) revelou ter conversado no fim da manhã de ontem com o embaixador da China no Brasil, sendo informado de que os insumos para produção de vacinas seriam enviados ao Brasil. “A notícia que eu tive do senhor embaixador na China é que os insumos estão sendo já, digamos assim, acondicionados. Há uma pequena questão técnica lá da China, mas eles virão para o Brasil. Tanto para o Instituto Butantan como para a Fiocruz.”
A demora na liberação pela China do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) atrasou a produção de vacinas pelo Butantan e pela Fiocruz.