Falta visão estratégica de longo prazo
16/06/2014 - por Carlos Motta

Falta visão estratégica de longo prazo

Por Carlos Motta | Para o Valor, de São Paulo
 
Luis Ushirobira/Valor / Luis Ushirobira/ValorVecina Neto: "Saúde pública precisa de verbas, mas vai tirar de onde?"

 

O aperfeiçoamento do sistema de saúde pública do Brasil, com a consequente melhora do atendimento, depende, fundamentalmente, de dois fatores: tornar a sua gestão mais eficiente e obter mais recursos para o setor. A divergência dos especialistas no tema é apenas sobre qual deles é mais importante.

"Claro que a saúde pública precisa de mais verbas, mas vai tirar de onde?", pergunta o superintendente-corporativo do Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, Gonzalo Vecina Neto. "Não tem de onde tirar" ele mesmo responde, para, em seguida, apresentar a solução para esse dilema: "É necessário aumentar a eficiência em todos os setores no Brasil, não só o público, mas o privado também. Para isso deve-se atacar tudo o que impeça o crescimento, como as travas fiscais, a insegurança jurídica e a baixa poupança interna."

Além disso, para Vecina Neto, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ex-secretário de saúde municipal de São Paulo, na gestão Marta Suplicy (PT), é preciso haver um relacionamento mais transparente entre os setores público e privado e que os empresários se engajem num projeto nacional para aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde (SUS), deixando de lado as ações isoladas.

Bernard Couttolenc, especialista em gestão hospitalar e diretor-presidente do Instituto Performa, ONG dedicada a estudar a saúde pública brasileira, acha que o problema de gestão antecede o de verbas, "pois não adianta colocar mais dinheiro num balde furado."

Ele apresenta quatro sugestões para que a saúde pública brasileira atinja um nível satisfatório: "Em primeiro lugar, deve-se rever o desenho do sistema. Isso passa por definir melhor o papel do SUS e do setor privado, e principalmente, de desenhar um sistema que promova o melhor de cada setor e os articule de maneira eficiente, em vez de multiplicar as ineficiências e a competição predatória." Uma segunda sugestão é definir claramente as prioridades e "entender que nenhum sistema consegue oferecer tudo para todos de graça, como o SUS promete". Terceiro: "é preciso identificar claramente onde se pode economizar e onde é preciso colocar mais recursos. Quarto, é preciso instaurar um regime de transparência no setor, para que as decisões de pagadores, prestadores e usuários passem a se embasar em informação objetiva. Hoje, quem paga não sabe quanto paga, quem produz não sabe quanto custa, e quem usa não sabe quanto vale o que usa."

Na sua opinião, para melhorar o atendimento à saúde o país precisa adotar uma visão estratégica de longo prazo e investir no futuro, "em vez de ficar olhando para trás e correr atrás do prejuízo." Segundo ele, é preciso entender que os desafios requerem "uma organização da atenção em rede, não em torno de prestadores isolados olhando para dentro de si mesmos." E constata que "nisso o setor privado está pior que o público e vive a esperar que pacientes já doentes batam à porta."

Couttolenc enfatiza a necessidade de se adotar um conjunto de políticas nacionais de promoção e monitoramento da qualidade em todos os níveis e sugere que os prestadores, públicos ou privados, sejam remunerados em função da qualidade dos serviços que produzem e do seu impacto. "Afinal, uma pessoa doente não precisa de uma consulta ou de um leito de hospital, precisa que seu problema seja resolvido." Ele faz coro com o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, que disse que os mecanismos de pagamento existentes no setor público e no privado devem ser modificados. "Os prestadores são pagos para produzir um monte de serviços de modo desordenado, independentemente do seu efeito, se resolveram o problema ou não."

Um amplo diagnóstico de como anda a saúde pública brasileira e as sugestões do que deve ser feito para melhorá-la integram o estudo patrocinado pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), intitulado "Livro Branco: Brasil Saúde 2015", lançado em maio e produzido por uma consultoria internacional, a Antares Consulting.

Por considerar que se trata de um trabalho bastante abrangente, ele está sendo entregue pessoalmente pelo presidente do Conselho de Administração da Anahp, Francisco Balestrin, a todos os candidatos à Presidência da República e governador dos principais Estados brasileiros.

Balestrin, como Vecina Neto e Couttolenc, também acha que além da necessidade de o Brasil contar com uma estrutura hospitalar robusta, algo que ainda está distante da realidade, o país deve possuir modelos de gestão e assistência eficientes, otimizando o uso da infraestrutura. "Hoje, no Brasil, o SUS é bem concebido, mas faltam recursos, investimentos e gestão profissional. O sistema privado, por outro lado, possui recursos e investimentos, tem gestão, mas falta o modelo assistencial. Por essa razão, a integração entre os setores público e privado é uma das principais bandeiras da Anahp", diz.



 

© 2000 – 2014. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A. . Verifique nossos Termos de Uso em http://www.valor.com.br/termos-de-uso. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido por broadcast sem autorização do Valor Econômico.

Leia mais em:

http://www.valor.com.br/brasil/3580508/falta-visao-estrategica-de-longo-prazo#ixzz34pGvJohs




Obrigado por comentar!
Erro!
Contato
+55 11 5561-6553
Av. Rouxinol, 84, cj. 92
Indianópolis - São Paulo/SP