Variantes do vírus são desafio à corrida da vacina
08/02/2021

 

Os dois maiores fatos novos desde o advento da pandemia de covid-19 ocorreram num lapso de poucas semanas entre si no fim do ano passado. Um foi a chegada de vacinas eficazes. O outro foi a emergência de novas cepas do vírus que ameaçam derrotá-las. Está em curso agora uma corrida mundial entre os dois. Aquele que vencer vai determinar quando - ou se - o vírus poderá ser de fato dominado. E a corrida não estará devidamente ganha a não ser que seja ganha no mundo inteiro. 

A semana passada trouxe boas e más notícias. Em um marco simbólico, o número de doses de vacinas contra a covid aplicadas em todo o mundo ultrapassou o total de casos confirmados até o momento. Mas na África do sul resultados laboratoriais preliminares sugerem que a nova cepa do país poderá infectar algumas pessoas que já tiveram o vírus original ou que já foram vacinadas. No Brasil, uma nova cepa de Manaus também dá sinais de que terá condições de contornar a imunidade naturalmente adquirida. Cientistas britânicos disseram que a cepa mais infecciosa que assola o Reino Unido está desenvolvendo novas mutações que podem ameaçar a eficácia das vacinas existentes. 

 

Isso torna vital a obediência a medidas para evitar o contágio, mesmo se as imunizações ganharem ritmo. Mas, sobretudo, a chegada de cepas mais perigosas reforça poderosamente a mensagem de que os esforços de vacinação têm de avançar simultaneamente em todos os países. 

Já existe o forte argumento moral de não permitir que a pandemia se estenda por mais tempo nos países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos. Mas isso também é do interesse dos países mais ricos. Quanto mais disseminados permanecerem as infecções pelo coronavírus mundialmente, mais mutações ocorrerão. A persistência da pandemia nos países mais pobres corre o risco de dar origem a cepas resistentes que forçariam as economias mais ricas a entrar em “lockdown” e a ter de começar a vacinar outra vez. 

 

 
Uma das prioridades é os países desenvolvidos aumentarem o apoio ao Covax, o programa que visa entregar 2 bilhões de doses, sem custo, aos países mais pobres em 2021. O presidente Joe Biden reforçou o Covax com a adesão dos EUA ao programa, mas o financiamento de US$ 4 bilhões ainda tem de ser liberado. A China, que aderiu em outubro, ainda não prometeu recursos. A Rússia, cuja vacina Sputnik V foi confirmada em uma avaliação de pares da "Lancet" nesta semana como tendo uma eficácia de 91,6% nos testes clínicos, também deveria aderir ao esforço. Supondo-se que o financiamento dos EUA seja aprovado, ainda assim o Covax precisará de mais US$ 2 bilhões para 2021. 

Países de alta renda encomendaram 4,2 bilhões de doses de vacina, pelos dados atuais, quase o dobro do total somado dos países de média e baixa renda, mais populosos, segundo o Duke Global Health Innovation Center. Muitos deles protegeram suas apostas, ao encomendar doses suficientes para vacinar suas populações por várias vezes, para o caso de algumas candidatas falharem. Eles deveriam se comprometer a doar o excedente em relação às suas próprias necessidades para países menos ricos. Fornecer quantidades razoáveis antes de suas próprias populações estarem totalmente vacinadas pode ser politicamente indefensável - prova disso são as brigas por doses de vacinas já em curso entre os países da União Europeia (UE) e o Reino Unido. Mas os países desenvolvidos poderiam começar por doar digamos, 1 milhão de doses para cada 10 milhões de doses que aplicam, aumentando essa proporção com o tempo. 

Mas já que o bolo não pode ser dividido de forma justa, ele tem se tornar maior. As empresas farmacêuticas deveriam redobrar a cooperação internacional para aumentar a oferta de vacinas. São necessárias mais parcerias entre gigantes farmacêuticas e fabricantes capacitados do mundo em desenvolvimento, como a parceria da AstraZeneca / Oxford com o Instituto Serum da Índia. Os governos do mundo rico que ajudaram a custear o desenvolvimento das primeiras vacinas têm de fazer o mesmo para a próxima geração de imunizantes. “Estamos todos juntos nisso” se tornou um lugar-comum. Para que a velocidade das vacinações ultrapasse a das mutações, esta precisa se tornar uma realidade mundial verdadeira. 

Fonte: Valor




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