Cerca de um em cada três americanos dizem que não tomarão ou provavelmente não tomarão a vacina contra a covid-19, segundo uma nova pesquisa, o que alguns especialistas dizem ser uma notícia desanimadora se os EUA têm a esperança de chegar à imunidade coletiva e vencer a pandemia.
A sondagem do Centro de Pesquisa de Assuntos Públicos Associated Press-Norc indicou que 67% dos americanos planejam se vacinar ou já o fizeram, mas 15% têm certeza de que não o farão e 17% dizem que provavelmente não se vacinarão. Muitos têm dúvidas sobre a segurança e a eficácia da vacina.
A pesquisa indica a persistência de um ceticismo substancial após mais de um mês e meio de iniciada a vacinação nos EUA. A resistência à vacina é maior entre os jovens, pessoas sem diploma universitário, negros e republicanos.
Anthony Fauci, o principal especialista em doenças infecciosas do governo americano, estima que entre 70% e 85% da população do país precisa ser inoculada para deter a doença, que já matou perto de 470 mil americanos. Recentemente, ele disse que a disseminação de mutações mais contagiosas do vírus eleva a necessidade de que mais pessoas se vacinem, e logo.
E 67% é um percentual suficiente? "Não, não e não”, disse William Hanage, especialista em dinâmica de doenças da Universidade da Universidade Harvard. “É preciso que uma proporção bem grande da população seja vacinada antes de ver algum efeito real”, afirmou.
Quase 33 milhões de americanos, cerca de 10% da população, já receberam pelo menos uma dose da vacina, e 9,8 milhões estão totalmente vacinados, de acordo com o Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos EUA.
A pesquisa, que foi realizada com 1.055 adultos entre 28 de janeiro e 1º de fevereiro, ajuda a entender melhor o ceticismo.
Entre os entrevistados que disseram que não tomarão a vacina, 65% citaram temores sobre efeitos colaterais, apesar do histórico de segurança das vacinas ao longo dos últimos meses. Mais ou menos a mesma porcentagem respondeu que não confia nas vacinas contra a covid-19. Outros 38% disseram não acreditar que precisam de vacina, e um percentual semelhante afirmou não saber se uma vacina contra a covid-19 vai funcionar e disse não confiar no governo.
Dos que responderam que é provável que não tomem a vacina, mas não descartaram a possibilidade completamente, 63% disseram que estão na espera para ver se ela é segura e 60% que temem possíveis efeitos colaterais.
“Eu não confio em produtos farmacêuticos. E não parece que ela [vacina] é segura”, disse Debra Nanez, uma enfermeira aposentada de 67 anos de Tucson, no Arizona.
Ela contou que já tomou vacinas contra gripe e pneumonia, mas está preocupada com os rumores sobre o que foi incluído na vacina contra a covid-19, e disse que amigos sentem a mesma hesitação. “Gastarei um tempo para pesquisar sobre ela, para ter certeza de que é segura. Só não quero tomar nada que possa me prejudicar.”
Baron Walker, de 42 anos, que trabalha com instalação de materiais de isolamento, mas está sem emprego, e mora em Parkersburg, na Virgínia Ocidental, está entre os que “provavelmente não” tomarão a vacina, ao menos por enquanto.
Ele disse que, se fosse idoso ou morasse em uma área densamente povoada, poderia sentir mais firmeza sobre tomar a vacina. Mas argumentou que não o faz porque vive em uma área rural do país, tem usado máscara e praticado o distanciamento social, e acredita que há uma boa chance de o país conseguir a imunidade coletiva.
“Acho que tenho muito tempo antes de ter a chance de tomar [a vacina], para descobrir se existem efeitos colaterais ruins e mesmo se vale a pena tomá-la”, disse Walker.
Nas entrevistas, alguns americanos expressaram preocupação com a rapidez com que as vacinas foram desenvolvidas, em menos de um ano. “Acho que eles fizeram isso às pressas”, disse Walker.
O mesmo sentimento foi expresso por Matt Helderman, de 31 anos, morador de Greer, na Carolina do Sul. “Gostaria de ver mais dados sobre segurança”, disse ele, que é editor de vídeo e produtor associado de um programa cristão de TV. Acrescentou que gostaria de ter mais esclarecimentos sobre se a vacina é eficaz contra as mutações.
As autoridades de saúde têm buscado responder com ciência às preocupações com a vacina.
Fauci disse que as evidências mais recentes indicam que as duas vacinas usadas nos EUA - da Pfizer e da Moderna - são eficazes mesmo contra as novas mutações.
Além disso, embora o desenvolvimento das vacinas tenha sido extraordinariamente rápido, ele foi o ponto culminante de muitos anos de pesquisa. E as vacinas passaram por testes clínicos que envolveram milhares de pessoas, que foram monitoradas por 60 dias após receber a última dose. Estudos feitos com outras vacinas verificaram que efeitos colaterais prejudiciais quase sempre se materializam em até 45 dias após a inoculação.
“A segurança não foi comprometida, nem a integridade científica”, disse Fauci. “Muitos têm motivos para ceticismo. Mas, quando os fatos e os dados lhes são explicados, é possível convencê-los.”
A pesquisa descobriu que os americanos mais velhos, que são mais vulneráveis à covid-19, são especialmente propensos a dizer que já se vacinaram ou que vão tomar a vacina. Já 40% das pessoas com menos de 45 anos dizem que provavelmente ou com certeza não tomarão a vacina, contra apenas um quarto dos mais velhos.
A probabilidade de dizer que já tomaram ou que provavelmente ou com certeza tomarão a vacina é menor entre os negros do que ente os brancos, 57% a 68%. Dos hispano-americanos, 65% dizem que já tomaram ou pretendem tomar.
É sabido que alguns negros não confiam na comunidade médica por causa do histórico de abusos, que inclui o infame estudo de Tuskegee, no qual pacientes negros com sífilis foram deixados sem tratamento para que os médicos pudessem estudar a doença.
Entre americanos sem diploma universitário, 40% dizem que provavelmente ou com certeza não se vacinarão, contra 17% dos que têm nível superior. Entre os republicanos, 44% rejeitam se vacinar, contra 17% entre os democratas.