A falta de vacinas para iniciar novas rodadas de imunização está restrita a algumas regiões do Brasil por enquanto, mas esse é um risco generalizado para os entes da federação brasileira, afirmam entidades que representam os municípios. “O problema é localizado. Mas, até sábado, mais cidades ficarão sem vacina. Se não chegar nova remessa na semana que vem, a situação vai se tornar muito difícil”, disse ao Valor Jonas Donizette (PSB), prefeito de Campinas e presidente da Federação Nacional dos Prefeitos (FNP), que reúne municípios com mais de 100 mil habitantes.
Depois de soltar um comunicado cobrando do Ministério da Saúde metas e prazos de vacinação contra a covid-19, a FNP se reunirá hoje, às 9h, com o titular da pasta, Eduardo Pazuello, para tratar do assunto. Há expectativa de entrega de novos lotes da Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, na próxima terça-feira.
Entre as capitais, pelo menos Rio de Janeiro, Cuiabá e Salvador interromperam a vacinação contra a covid-19. Dados estaduais mostram que mais de 80% das primeiras doses distribuídas já foram usadas também em Fortaleza, Teresina, Florianópolis e Campo Grande, além do Distrito Federal.
“Pedimos essa relação mais próxima com o ministério porque este não vai ser o último problema que enfrentaremos na vacinação. É um país extenso, com uma população grande, e precisamos de um contato mais estreito para resolver mais rapidamente os problemas e até impedir que aconteçam”, diz Donizette.
Ele rebate críticas de que alguns municípios não respeitaram o Programa Nacional de Imunizações (PNI) e, por isso, ficaram sem vacina. “Nos comprometemos a fazer a vacinação e estamos cumprindo. Houve problemas pontuais, mas a verdade é que falta vacina. A maioria dos municípios imunizou corretamente.”
Com a corrida global por imunizantes, a situação não é inesperada, afirma Wilames Freire, presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). “Vai ser o ano inteiro dessa forma. Chega uma quantidade, a gente vacina, espera a fábrica preparar mais”, diz. “Teremos que conviver com essa questão o ano inteiro. Para mim, não é surpresa nenhuma.”
Em Teresina (PI), por exemplo, a vacinação caminha com a aplicação da segunda dose para os grupos prioritários que já receberam a primeira, mas não há estoque para iniciar uma nova leva de imunizações, de acordo com Gilberto Albuquerque, presidente da Fundação Municipal de Saúde da capital.
“Dose nova não tem mais. O que ainda temos é para o grupo acima de 90 anos que está em domicílio”, diz. “As vacinas que temos hoje disponíveis dão para chegar até o dia 23, que é a data de previsão de um próximo lote”, afirma Albuquerque, ressaltando, porém, que ele precisa de confirmações para estruturar o plano de vacinação.
Em Campo Grande, 81% das primeiras doses enviadas já foram aplicadas, de acordo com o vacinômetro do Estado. “A abertura de novos públicos de imunização depende do encaminhamento de novas doses pelo Ministério da Saúde”, informa a secretaria municipal de Saúde.
No Distrito Federal, 91% das primeiras doses distribuídas já foram utilizadas até ontem. A Secretaria de Saúde afirma que possui doses suficientes para atender o grupo prioritário definido até o momento e que “aguarda o envio de mais doses ao Distrito Federal pelo Ministério da Saúde”.