Sem conter vírus, colapso generalizado é provável no país, afirmam especialistas
01/03/2021

 
 
 

Medidas que estão sendo tomadas por Estados e municípios, como toque de recolher à noite, não são suficientes para controlar a pandemia e com isso o colapso do sistema de saúde deve se espalhar pelo país. Sem controle da disseminação e leitos de hospitais em falta, o número diário de mortes pode crescer de forma expressiva nas próximas semanas, segundo especialistas. 

“Esse cenário de colapso destoa das medidas que estão sendo tomadas pelo país. Nas duas próximas semanas devemos ver um efeito dominó, com os Estados entrando em colapso e uma exacerbação das mortes em casa, por falta de assistência”, afirma o pesquisador Domingos Alves, da plataforma de monitoramento Covid-19 Brasil, formada por várias universidades públicas. 

 

Para Alves, professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, há um apagão em relação às decisões necessárias para controlar a pandemia. 

Desde novembro, o grupo de pesquisadores do Covid-19 Brasil tem alertado que a segunda onda da pandemia poderia ser pior que a primeira. Na ocasião, em 12 Estados a média móvel diária de casos era maior que no pico da primeira onda. Em dezembro, esses mesmos Estados tiveram um pico de mortes maior, diz Alves. Em janeiro, a situação já tinha se espalhado para outras unidades da federação. “O que estamos vendo agora é algo que começou antes mesmo das aglomerações de Natal”, afirma. 

No Sul do país, o número de casos diários excedeu a primeira onda em mais de 30%, segundo Alves, que defende medidas bem mais restritivas que as atuais para conter a disseminação do coronavírus. 

Para ele, o espalhamento da variante brasileira do Sars-Cov-2 pode até estar por trás da aceleração dos casos, mas o problema é anterior. “A culpa é da falta de medidas de controle do vírus. Os governos nunca executaram uma política de barreiras sanitárias no país.” 

 

 

Márcio Bittencourt, médico do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, ressalta que a perspectiva de colapso geral vem da piora gradual do sistema. “Esse quadro já existe em quase todos os Estados. Não é algo pontual.” 

Ele diz ser uma abordagem simplista responsabilizar a nova variante pelo quadro atual. “Só tem variante quem não controlou a pandemia. A variante é consequência, não causa.” A “culpa”, diz, é da incompetência dos governos em tomar as medidas necessárias. 

Ambos os especialistas apontam que a vacinação não vai resolver a pandemia no país, ainda mais no ritmo lento em que está. Mas mesmo países em que a imunização corre mais rápida, como Israel, ainda há um número relevante de casos e mortes, embora menores que no auge da pandemia, e medidas de contenção seguem em curso. “Podemos até ver as mortes cair, por exemplo, à metade com a vacinação, mas eu não chamaria isso de sucesso”, diz Bittencourt. 

Nesse sentido, a ampliação de leitos de UTI como medida para lidar com o aumento de casos graves é uma “política de enxugar gelo”, se não houver medidas que de fato controlem a disseminação do vírus, afirmam os pesquisadores. 

Bittencourt ressalta que não rodou modelos preditivos, mas diz que não se surpreenderia com um número de mais de 2 mil mortos por dia em meados de março. “O sistema de saúde não será capaz de atender todas as pessoas que precisam. Quem está na enfermaria não consegue UTI, quem está no pronto-socorro não consegue enfermaria e quem está fora do sistema fica doente em casa.” 

A solução para o problema é a mesma do início da pandemia, diz Bittencourt. A lista inclui busca ativa de casos, testagem em larga escala, isolamento adequado de casos confirmados ou suspeitos, quarentena de contato, e distanciamento para pessoas que não estão doentes. “São medidas muito eficazes, menos custosas e mais impactantes que distanciamento social, seja lockdown ou não”, afirma o médico. 

 
 

Fonte: Valor




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