Possibilidade de acelerar ritmo de vacinação divide os especialistas
01/03/2021

Mesmo com a confirmação da compra das 20 milhões de doses da vacina Covaxin, da Precisa Medicamentos / Bharat Biotech, especialistas estão divididos quanto à expectativa de aceleração do ritmo de vacinação contra a covid-19 nas próximas semanas. 

Um ponto levantado é que a Covaxin ainda não concluiu os testes da fase 3 (estudos clínicos com grande número de participantes) nem tem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Como o processo pode demorar, é possível que, mesmo que a vacina de origem indiana chegue no mês que vem, como foi anunciado pelo Ministério da Saúde, não esteja liberada para ser incluída na campanha de vacinação. 

Se por um lado há mais notícias positivas sobre a eficácia de mais vacinas, ainda persiste uma dificuldade: a negociação do governo brasileiro para a compra dessas vacinas. 

Diante dos impasses, mesmo que as tratativas sejam concluídas, é possível que não haja doses disponíveis antes do segundo semestre, já que a demanda é grande por essas vacinas em todo o mundo. Por enquanto, as principais esperanças para a campanha brasileira permanecem sendo a Coronavac, do Instituto Butantan e da chinesa Sinovac, e a Oxford/ AstraZeneca, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 

“A opção da Covaxin é interessante, mas os testes da fase 3 ainda estão em andamento e precisa do registro da Anvisa. Não vejo possibilidade de uso em março, embora o cronograma do Ministério da Saúde tenha incluído 8 milhões de doses da Covaxin para março. Tem que ser muito otimista para achar que isso vai se concretizar”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), Juarez Cunha. 

Cauteloso com a expectativa para as próximas semanas, Cunha não vê um cenário de aceleração do ritmo de vacinação. Ele aponta que mesmo que avancem as negociações para acesso a outras vacinas, como as da Pfizer e Johnson & Johnson, há uma concorrência muito grande pelas doses em todo o mundo e dificilmente o Brasil terá acesso a quantidade significativa ainda no primeiro semestre. 

“Por enquanto, devemos contar mesmo com as vacinas do Butantan e da Fiocruz, que estão com ritmo de produção mais lento que o estimado inicialmente”, afirma. Cunha destaca que o país deve encerrar a semana com 15 milhões de doses aplicadas, número muito distante das 160 milhões de doses necessárias para os grupos prioritários. 

Professor da Santa Casa de São Paulo e presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Sáfadi comemora as notícias mais recentes de avanços de vacinas de outros fabricantes, mas defende que “o governo faça sua parte” para garantir que o país tenha acesso ao novo arsenal. 

“O que precisa é haver uma negociação eficiente por parte do governo. O governo tem que fazer o papel dele, que é realmente adquirir essas doses de vacina e permitir que o Brasil dê exemplo. A gente sempre foi protagonista da América Latina em programas de vacinação e agora temos países à nossa frente como o Chile, que já tem quase 20% da população vacinada e a gente está entre 3% e 4%”, afirma o infectologista. 

Sáfadi reforça que a indisponibilidade das doses de vacinas é “a única e exclusiva razão” para o ritmo lento da vacinação contra a covid-19, já que o país tem ampla experiência em grandes campanhas de vacinação. 

 
 

Fonte: Valor




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