A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está se reunindo com, pelo menos, quatro laboratórios de medicamentos veterinários para tentar viabilizar a adaptação de algumas fábricas para a produção de vacinas contra a covid-19. Se tudo der certo, as unidades poderão ajudar a ampliar o volume de vacinas produzidas no país dentro de um prazo entre 4 e 6 meses. 
 

As conversas se intensificaram após a apresentação de um projeto de lei pelo senador Wellington Fagundes (PP-MT). O texto sugere que os estabelecimentos que fabricam medicamentos para animais sejam temporariamente autorizados a produzir a vacina para uso em humanos, desde que cumpram normas sanitárias e exigências de biossegurança. 
 

“Todas as fases relacionadas à produção, ao envasamento, à etiquetagem, à embalagem e ao armazenamento de vacinas para uso humano deverão ser realizadas em dependências fisicamente separadas daquelas que, numa mesma estrutura industrial, porventura, ainda estejam sendo utilizadas para a fabricação de produtos destinados a uso veterinário”, diz o projeto do senador. 
 

Essa exigência de desagregação das unidades preocupa a Anvisa, mas não no quesito sanitário. Técnicos da agência avaliam que a operação pode ser excessivamente custosa, o que afastaria o interesse dos laboratórios. 

 
O primeiro passo dos encontros individuais será justamente entender o tamanho do ânimo das empresas em participar da iniciativa. Estão previstas para esta sexta-feira (16) reuniões com as fabricantes Ourofino, Ceva, Merck e Boehringuer. “Consideramos importante reunir individualmente com as empresas, pois há particularidades que eles só abrem em reuniões individuais”, disse a mesma fonte. 

 

A agência também tratou do assunto recentemente em reuniões com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan). A diretora Meiruze Freitas, responsável pela área de medicamentos e vacinas, participou de uma audiência no Senado onde se tratou do projeto de lei do senador do PL. 
 

Relator da Comissão Temporária do Senado que acompanha as ações de enfrentamento à pandemia, Fagundes acredita que as plantas industriais de imunizante animal poderão produzir em um prazo de 90 dias. Já a Anvisa trabalha com um prazo maior, que pode ir de 120 a 180 dias. 
 

“As plantas industriais que atendem a produção de itens para saúde animal é a mais robusta alternativa que o Brasil dispõe para fabricar as vacinas contra o coronavírus. Do contrário, vamos ficar fazendo apenas tratativas sem a certeza de quando chegará a vacina no braço do brasileiro”, disse Fagundes. “Como as empresas dominam a tecnologia a partir do 'vírus inativado', o Brasil pode ser autossuficiente na produção do IFA [Ingredientes Farmacêuticos Ativos], objeto de uma competição feroz no mercado mundial e em falta no mercado", completou o senador.