‘Big Techs’ dão suporte a estudos da covid
26/04/2021

 
Grandes empresas de tecnologia como Amazon Web Services (AWS), Google e Intel vêm atuando em parceria com hospitais e institutos de pesquisas de saúde para ajudar a acelerar estudos, diagnósticos e tratamentos ligados à covid-19 no país. 

Com a ajuda da computação em nuvem e de algoritmos de inteligência artificial tem sido possível identificar pacientes graves da covid-19 que precisarão de tratamento especial após a alta médica ou mesmo determinar o índice ideal de vacinação para erradicar casos graves e óbitos pela doença em cada município brasileiro. 

 

 

Desde setembro, o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Incor-FMUSP) realiza o estudo “Pós-Covid Incor”, que começou em setembro acompanhando 800 casos de pacientes infectados pela covid-19, atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

Do grupo inicial, metade dos pacientes seguiam apresentando sequelas. Este grupo fez consultas presenciais ou de telemedicina, além da realização de exames cardiológicos, respiratórios e de funções motoras. 

O estudo mostra que muitos dos pacientes já apresentavam comorbidades antes de contraírem a covid-19 como hipertensão (60%), diabetes (36%), artrite (28%) e apneia do sono (19%). 

Dos 400 pacientes analisados de setembro de 2020 a março deste ano, o Incor notou que 30% tiveram sinais de hipertensão pós-covid, mas não estavam no grupo de hipertensos prévios, o que indica uma sequela crônica importante. 

 

Ainda neste grupo, 26% dos pacientes continuaram apresentando dor no peito mesmo de seis a nove meses após a alta hospitalar e 30% ainda apresentam quadros de dispneia (falta de ar), sinalizando uma sequela residual da doença. “Neste ano e em 2022 vamos acelerar a busca de informações destes pacientes para aplicar um tratamento rápido”, diz Guilherme Rabello, gerente comercial e de inteligência de mercado do InovaIncor, área de inovação do hospital. 

O projeto, desenvolvido com um investimento de R$ 2,5 milhões feito pela fabricante de microprocessadores Intel no Brasil, permite que as informações sobre a evolução destes pacientes sejam armazenadas em um banco de dados integrado a algoritmos de inteligência artificial, que ajudará o Incor a entender o que motivou o aparecimento de tais sequelas e antecipar os tratamentos de doenças crônicas mesmo durante a internação de pacientes com covid. 

A Intel informa que também alocou engenheiros e cientistas da empresa para aplicar técnicas de computação de alto desempenho no processo de análise. 

Rabello conta que os pacientes mais graves internados no Incor já têm se beneficiado do estudo. “Durante a internação já conseguimos perceber pacientes que precisarão de um acompanhamento pós-alta mais atento”, diz. “A ideia é engajá-los em tratamentos de reabilitação logo após a alta e não esperar meses para fazer isso.” 

Outra meta do Incor é incluir informações de pacientes de outras regiões do Brasil em um banco de dados na nuvem. “Temos um potencial enorme de estudo pelo número de pacientes afetados”, nota Rabello. 

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) conta com um subsídio de US$ 189,2 mil do Google - US$ 76,6 mil em dinheiro e o restante em créditos de computação em nuvem - para acelerar três linhas diferentes de estudos sobre a evolução da covid-19 no país. O montante faz parte de um fundo global de US$ 8,5 milhões destinado pelo Google, em setembro do ano passado, a 31 organizações para ajudar no combate à doença com recursos de inteligência artificial. 

 

Um dos projetos busca determinar o percentual de vacinação ideal para reduzir os casos graves e óbitos pela covid-19 em cada um dos 5.570 municípios brasileiros. 

“Além dos dados da cobertura vacinal contra a covid-19 no país, estamos usando dados do Reino Unido, que tem a melhor cobertura vacinal no mundo, e dados históricos de outras campanhas de vacinação como a da H1N1”, explica Marcos Barreto, professor de Ciências da Computação da UFBA e pesquisador associado ao Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz. O resultado final da análise de dados iniciada em março está previsto para novembro. 

Barreto faz parte do grupo de 25 especialistas, entre pesquisadores, bolsistas e colaboradores, que trabalham nas pesquisas sobre a covid-19, contando com o subsídio do Google. Outra frente de análise, segundo ele, usa inteligência artificial para reclassificar e identificar óbitos que podem ter sido causados pela covid-19. “Há muitos casos inconclusivos, nos quais eventualmente foi feito um teste de detecção da covid-19, mas a causa do óbito não foi identificada”, explica o pesquisador, que espera ter dados validados até o fim de junho. 

A terceira vertente de análise da Fiocruz busca entender o grau eficiência dos municípios brasileiros nas medidas restritivas de combate à covid-19. “Houve muita desinformação ou informações descoordenadas sobre as medidas de proteção para cada município”, diz Barreto. Segundo ele, a pesquisa cruzar dados como densidade populacional, índice de desenvolvimento humano (IDH) e percentual da população idosa afetada pela doença para definir um índice de risco de cada município mostrando medidas mais efetivas de proteção. 

O projeto ainda conta com outro grupo de especialistas da Fiocruz para organizar mais de 5 mil artigos acadêmicos, notas técnicas e boletins sobre a covid-19 em um portal público para pesquisas, que deve estar disponível até fim do ano. “A ideia é que as pessoas possa extrair informações como a relação da covid-19 com doenças cardíacas, por exemplo”, diz o especialista. 

 
Em março do ano passado, bem no início da pandemia, o financiamento de US$ 5 mil em créditos de serviços de nuvem da Amazon Web Services (AWS) foi o gatilho para a criação de um teste de covid-19 em massa, chamado Varsvid, da startup Varstation, incubada pelo Hospital Israelita Albert Einstein. 

“O momento foi oportuno porque estávamos com dificuldade de financiamento interno tendo em vista a priorização de urgência para a compra de equipamentos para o tratamento da covid-19”, lembra Murilo Cervato, CEO e co-fundador da empresa de bioinformática. 

Usando amostras de saliva ou swab nasal, o método da startup permite analisar até 1.536 amostras para a detecção do coronavírus a cada 24 horas. Segundo a empresa, a análise tem a mesma acurácia do teste RT-PCR, mas com uma capacidade de processamento 16 vezes maior. “O resultado sai em 40 minutos”, informa Cervato. 

Em junho do ano passado, a Varstation conseguiu usar a tecnologia para acelerar os diagnósticos de pacientes do Einstein e também foi cedida aos Instituto de Pesquisa do Câncer de Guarapuava (PR) e ao Laboratório Sabin de Brasília (DF). 

“Se a gente não tivesse esses créditos não conseguiria fazer a prova de conceito e ir na direção que precisava”, diz o CEO da startup. 

Paralelamente, a startup desenvolveu outros dois testes mais detalhados em pacientes com sintomas graves de covid-19, que entraram em prática em agosto somente para pacientes do Hospital Albert Einstein. 

Incluindo amostras de sangue, além de saliva e swab nasal, o Viroma detecta a presença de outros vírus que atacam o sistema respiratório, como o H1N1, e o sequenciamento do genoma completo do Sars-Cov-2 identifica a cepa do vírus - africana, brasileira ou inglesa, por exemplo. Os resultados saem em três dias. 

Até dezembro de 2020, a startup analisou 600 amostras de pacientes graves. “Este ano fizemos 500 análises até agora”, diz Cervato. 

 

Por enquanto, os testes mais complexos estão disponíveis somente para pacientes do Einstein. O hospital tem investido R$ 500 mil por mês na infraestrutura da AWS para o processamento das análises da Varstation. 

O CEO da startup diz que busca outras instituições de saúde interessadas em financiar os testes da Varstation de detecção e análise da covid-19. 

O crédito em serviços de nuvem e o acompanhamento do projeto da Varstation por técnicos da AWS faz parte da Iniciativa de Desenvolvimento de Diagnósticos (DDI, na sigla em inglês), uma ação global da AWS que destinou US$ 8 milhões em créditos de serviços de nuvem a 87 organizações de 17 países, em 2020, incluindo outros projetos no Brasil, não revelados pela companhia. 

Este ano, a empresa tem mais US$ 12 milhões para dedicar a projetos, que podem ser submetidos no site da AWS, preferencialmente até 31 de julho, informa Paulo Cunha, líder de vendas para o setor público da AWS Brasil. “O investimento inclui uso de recursos de inteligência artificial, machine learning e computação de alto desempenho na nuvem da AWS”, explica. 

Fonte: Valor




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