Vacinação e retomada: esperanças para um país em luto
11/05/2021

Assim como foi 2020, 2021 é para o Brasil um ano com grandes desafios econômicos, sociais e humanitários. No entanto, graças ao trabalho da comunidade científica – que desenvolveu vacinas em tempo recorde –, as perspectivas para o segundo semestre são animadoras. 

Em 2020 os agentes econômicos viram-se em um ambiente incerto e desconhecido, onde o temor pela vida gerou mudanças de comportamento e efeitos profundos na atividade econômica. Somado a isso, os protocolos indicados para contenção do contágio da Covid-19 resultaram em forte queda do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre. Empresas adaptaram seus processos produtivos, os governos adotaram políticas fiscal e monetária extraordinariamente estimulativas. Como resultado, o tombo da economia em 2020 foi inferior ao projetado e vimos acúmulo de poupança no setor privado. 

 

A retirada dos estímulos fiscais adotados ao longo do ano passado tornou o cenário nos primeiros meses de 2021 especialmente desafiador. Nesse sentido, surpreendeu-nos a resiliência da economia nos meses de janeiro e fevereiro. O “fiscal cliff”, como é chamado o impacto negativo na atividade fruto da diminuição de gastos do governo, veio em intensidade inferior à esperada. Vimos continuidade da recuperação do setor de serviços, da criação de postos de trabalho e surpresas sucessivas na arrecadação de impostos. No entanto, a natureza singular da crise atual levou a nova deterioração do cenário. Sempre é importante lembrar que a causa do problema é exógena à economia, de modo que a resolução da pandemia é condição necessária para a retomada. O recrudescimento no número de casos e hospitalizações levou ao colapso do sistema de saúde em diversos estados. Novas restrições severas de mobilidade foram decretadas, com esperado impacto negativo na atividade. Dessa vez, no entanto, a experiência internacional indica que a magnitude desse impacto é inferior à observada na primeira onda. A curva de aprendizado exerce importante papel, com firmas e famílias adaptadas ao entorno especialmente adverso. 

Em paralelo, avançamos gradualmente no processo de vacinação. A capilaridade do Sistema Único de Saúde (SUS) permite a rápida aplicação das restritas vacinas. A tradição construída por múltiplas campanhas de vacinação ao longo das décadas auxilia na adesão da população, apesar das “fake news”. O Gráfico 1 mostra o alto grau de cobertura nas faixas etárias para as quais a vacina foi disponibilizada. Em particular, temos avançado na imunização dos grupos contra os quais a doença é especialmente agressiva. Esse avanço abre espaço para a reabertura gradual da economia. Vale a ressalva que aqui reside um risco relevante para atividade nos próximos meses. A experiência internacional recomenda cautela na reabertura, pois a velocidade de proliferação do vírus é bem superior à de vacinação da população. Em paralelo, epidemiologistas alertam para o perigo de mutação do vírus e para o fato de que jovens também são internados. Assim, para a reabertura sustentável é fundamental progredir no grande desafio que é imunizar os adultos acima de 18 anos (Gráfico 1). A boa notícia é que, sob o cenário de cumprimento moderado dos acordos de fornecimento de vacinas, calculamos que o país conseguirá completar o processo de imunização no segundo semestre. 

 Como resultado do avanço da imunização da população, as perspectivas para o segundo semestre são muito positivas. Nossos cálculos indicam que a normalização das atividades resultará em altas taxas de crescimento na segunda metade do ano. Ademais, os exemplos dos países mais adiantados nesse processo evidenciam a demanda reprimida pelo consumo de serviços em geral - as imagens de Israel e do Reino Unido são evidências anedóticas do ambiente de euforia resultante da reabertura. Além disso, a poupança acumulada pelo setor privado ao longo de 2020 é fator adicional para maior otimismo. Por essas razões, concluímos que o PIB tem potencial de crescer ao menos 4% em 2021. 
 


Esse resultado, porém, depende da manutenção de um ambiente econômico estável. O alto risco fiscal e seu impacto nos prêmios de risco geram uma dinâmica perversa, que pode prejudicar parte dessa retomada. Nesse sentido, é crítico o fortalecimento do compromisso com a sustentabilidade fiscal. Além disso, uma cruel consequência da crise gerada pela pandemia será o aprofundamento da desigualdade social nas suas diferentes faces. Em particular, é fundamental cuidar do déficit de aprendizado que nossas crianças tiveram ao ficarem mais de um ano fora das salas de aula. Caso contrário, teremos graves retrocessos na jornada rumo à conquista do país que todos sonhamos. 

O caminho, portanto, parece pavimentado para uma melhora do ambiente doméstico. No entanto, não podemos perder de vista que a concretização desse cenário depende essencialmente das escolhas que nós tomaremos daqui em diante como sociedade. 

 
 

 

 
 

 
 

 

 
 

 

Fonte: Valor




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