Se no dia da sua aplicação de segunda dose você tiver febre, ou esteja doente, os médicos recomendam que espere alguns dias até os sintomas passarem. Assim que isso ocorrer, vá a um posto de saúde para receber a segunda aplicação contra a covid-19. Verifique se na sua cidade é necessário um agendamento prévio.
Caso tenha perdido a carteira de vacinação, ou esqueceu a data, e não sabe quando tomou a primeira dose, dentro da plataforma ConecteSUS, do Ministério da Saúde, você consegue verificar a vacina que foi aplicada, lote e em que unidade de saúde. Essas informações são registradas independentemente da cidade em que foi vacinado. Para ter acesso, basta preencher um cadastro e automaticamente suas informações sobre a vacina aparecem ali.
Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, explica que o atraso da segunda dose pode comprometer não só a imunização individual, mas também coletiva porque cria um ambiente favorável ao surgimento de novas variantes do coronavírus.
“Essa eficácia protetora prometida pelas vacinas nos estudos clínicos só é atingida com duas doses. Nós precisamos de todo o esforço para vacinar mais e também para concluir o esquema. Sem isso, o programa de imunização pode não atingir o seu objetivo principal, que é o controle da doença”, diz.
Renato Kfouri, que é médico infectologista, explica que mesmo que o atraso seja grande, o esquema vacinal não começa do zero, e a primeira dose não é perdida. A orientação é tomar a segunda dose assim que puder.
“Todas as vacinas licenciadas no Brasil são muito seguras, com elevadíssima eficácia da sua forma grave. Dificilmente uma pessoa com o esquema completo vai precisar ser hospitalizada. É um evento extremamente raro. Adiar a vacinação pode representar a diferença entre se proteger e perder a vida”, afirma Kfouri.
A Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac, é a que tem um intervalo menor de aplicação no Brasil: 28 dias. O imunizante da Fiocruz/AstraZeneca tem um intervalo de três meses.
A vacina da Pfizer/BioNTech no Brasil é aplicada com um intervalo de três meses, assim como em outros países, como o Reino Unido. A bula do imunizante recomenda 21 dias, mas o próprio fabricante diz que um intervalo maior não compromete a imunização (entenda como as vacinas funcionam).
Nenhuma vacina tem eficácia de 100%, ou seja, capaz de impedir totalmente o contato com o coronavírus. Apesar disso, elas impedem que a maior parte das pessoas tenha a forma mais grave da covid-19 e, assim, nem precisem de atendimento médico. Um artigo da revista científica Lancet mostra como funciona o cálculo para estabelecer a eficácia das principais vacinas em uso no mundo.
Veja um resumo da eficácia das vacinações contra a covid-19 aplicadas no Brasil após a segunda dose na tabela abaixo:
Pfizer | 95% |
AstraZeneca | 79% |
Coronavac | 50,38% |
*A vacina da Janssen é de dose única e tem 66% de eficácia.
Várias pesquisas no mundo estudam se há a necessidade de uma terceira dose de vacina contra a covid-19. A ciência busca responder a duas principais perguntas. A primeira é se haverá a necessidade de uma dose de reforço para grupos mais vulneráveis, como idosos e imunossuprimidos. A segunda questão tenta entender se, com as variantes, a vacinação será anual, como é com a gripe atualmente.
“Não há nenhum dado no horizonte definido de quem vai precisar tomar reforço, de qual grupo, com qual intervalo, se é possível fazer intercâmbio, com formulações diferentes. Hoje é absolutamente prematuro dizer como vai ser a vacinação contra a covid-19 daqui pra frente”, diz Renato Kfouri.
Um estudo recente, conduzido pela Sinovac, fabricante da Coronavac, mostrou que a aplicação de uma terceira dose de seis a oito meses após a segunda induziu uma "forte resposta imunológica", com o nível de anticorpos neutralizantes até cinco vezes maior que após a segunda injeção.
Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, que tem parceria com o laboratório chinês, explica que este estudos não analisam a eficácia das duas doses, e sim a necessidade de uma terceira dose em um ambiente em que o vírus continua circulando e desenvolvendo novas variantes, mais transmissíveis, por exemplo.
“Existe muita confusão de as pessoas acharem que uma terceira dose completa a imunização, e não é disso que estamos falando. Nós estamos nos preparando para ter uma revacinação. Em alguns países, como Israel, já iniciaram essa aplicação. E isso só ocorre após a segunda dose, para atingir a imunidade coletiva”, disse.
Nos cálculos do epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, a imunidade de rebanho só será atingida com, pelo menos, 70% de toda a população vacinada com as duas doses. Ele ainda diz que isso deve ocorrer no fim do ano, provavelmente em dezembro.