Análise projeta danos ao SUS após pandemia nos Estados mais pobres
14/03/2022

A pandemia deixará problemas no Sistema Universal de Saúde (SUS) que vão além dos esforços já feitos para combater a pandemia. Segundo o estudo “A funcionalidade do Sistema de saúde do Brasil em meio à pandemia de covid-19: uma análise da resiliência”, de autoria de pesquisadores do FGV-Saúde e que foi publicado na revista científica “The Lancet”, houve redução considerável nos números de consultas médicas, diagnóstico, cirurgias de baixa e média complexidade e até procedimentos de alta complexidade desde 2019, fato que pode manter os hospitais sobrecarregados por mais tempo, principalmente nos Estados brasileiros onde o sistema já era mais vulnerável. 

“Os Estados em maior situação de vulnerabilidade socioeconômica foi onde registramos maior redução da produção assistencial”, comentou o médico-sanitarista e pesquisador do FGV-Saúde Adriano Massuda. “Falamos de cirurgias que não foram realizadas, mas é mais do que isso. Muitos diagnósticos que não foram feitos. Por exemplo, casos de câncer que não foram diagnosticados e já estão em estágio mais avançados e perderam oportunidade terapêutica.”

O estudo identificou que uma das questões que deixam o SUS mais exposto para o período pós-pandemia foi a distribuição igualitária dos repasses federais aos estados durante o combate à covid-19, sem levar em consideração os locais mais sufocados. 

 

“A distribuição de recursos não foi dirigida para atender as áreas de maior necessidade. Isso dialoga com as demais evidências de coordenação federal na gestão da resposta, o que aumentou as desigualdades no sistema [de saúde]”, afirmou Massuda. 

Segundo o estudo, a consequência desses repasses sem planejamento é que os Estados socioeconomicamente mais vulneráveis foram os que apresentaram a maior redução na produção assistencial de saúde. Foram analisados vários procedimentos, desde diagnósticos a cirurgias e transplantes. Os Estados do Norte e Nordeste, com destaque para Pará, Maranhão, Amazonas e Piauí, são os piores posicionados nessa correlação. Ou seja, são os que verão os seus sistemas de saúde mais pressionados devido à diminuição acentuada de atendimento assistencial não relacionado à covid durante à pandemia. 

Do outro lado, Distrito Federal e São Paulo, onde os índices de vulnerabilidade socioeconômica são menores, conseguiram manter o nível mais alto de procedimentos não relacionados à covid no período, embora também tenham registrado queda na produção. 

“A transferência federal foi igualitária. Mas se o objetivo é aumentar a resiliência do sistema é preciso aumentar a resistência de quem está enfraquecido. O governo federal simplesmente passou o mesmo per capita para todos enquanto lugares mais enfraquecidos gastam mais. Isso é exatamente o que o governo federal deveria ter evitado”, criticou o pesquisador Alessandro Bigoni, um dos autores do estudo do FGV-Saúde. 

Além da conclusão de que a gestão dos recursos foi mal executada, Massuda destaca a preocupação de que ainda não está na agenda nacional um plano para lidar com essa demanda represada de saúde. “O Ministério da Saúde não fez esse diagnóstico. Não está olhando para isso”, alertou. 

Fonte: Valor




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