ANS limita venda de novos planos da Unimed-Rio
26/07/2022
A Unimed -Rio, uma das maiores cooperativas médicas com 750 mil usuários de planos de saúde, continua apresentando grandes dificuldades financeiras - problema que se estende desde 2014 - e mais recentemente viu aumentar de forma expressiva o número de reclamações referente à cobertura assistencial. Com isso, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) proibiu, a partir deste mês, a venda de novos contratos de 12 modalidades de planos de saúde da cooperativa carioca por, pelo menos, um trimestre. 
 

Em maio, a ANS renovou o regime de direção fiscal, medida em que um diretor da agência acompanha in loco a situação financeira da operadora, por mais um ano. 

Desde 2014, a Unimed-Rio apresenta patrimônio líquido negativo, ou seja, o volume de dívidas é muito maior do que os ativos. Em 2021, esse indicador estava negativo em R$ 655 milhões e no primeiro trimestre deste ano, o montante já era de R$ 868,2 milhões. 

No ano passado, a cooperativa médica detinha um ativo circulante de R$ 572 milhões para um passivo de R$ 1,8 bilhão. Além desse descasamento, a representatividade do ativo circulante - que engloba os créditos de maior liquidez - sobre o passivo caiu de 47% para 32%, entre 2020 e 2021, numa demonstração de que a Unimed-Rio vem sofrendo com uma queda de seus créditos de menor prazo, que são os mais líquidos. 

 

A Unimed-Rio informou que o “desequilíbrio entre ativo e passivo não é decorrente do exercício de 2021, mas, sim, da gestão anterior a 2016” e que, a partir de então, houve uma troca no comando. Desde essa época, a cooperativa é presidida pelo médico Antonio Romeu Scofano Junior. 

A auditoria externa responsável pelo balanço de 2021 indicou que há “incerteza relevante relacionada com a continuidade operacional da Unimed-Rio” e que a cooperativa médica vem “apresentando capital circulante líquido negativo, passivo a descoberto e insuficiência de ativos garantidores de provisões técnicas e de margem de solvência, em relação aos patamares requeridos pela ANS”. A insuficiência na margem de solvência é da ordem de R$ 1,5 bilhão. 

Na balanço do ano passado, a cooperativa registrou um ganho de R$ 39 milhões, o que representa uma queda de 75% sobre 2020. A receita subiu apenas 3,2%, para R$ 5 bilhões, enquanto os custos médicos saltaram 20,5% no mesmo período. 

Questionada sobre a queda nos indicadores, a Unimed-Rio informou que as razões são “as mesmas que afetam os resultados de todo o mercado, quando se olha a gestão da operação assistencial. A suspensão do reajuste de planos individuais e o posterior reajuste negativo trouxeram impactos na casa de R$ 300 milhões, além de impactos também nos reajustes corporativos, uma vez que muitas empresas entenderam que o mesmo critério deveria ser aplicado aos planos corporativos, o que dificultou ainda mais as negociações.” 

A operadora argumentou ainda que a pandemia trouxe impactos severos na gestão do custo assistencial, com aumento na taxa de sinistralidade em todo o setor. “Se em 2020, houve menor utilização de serviços assistenciais, o que se observa é um aumento desordenado a partir de 2021 até o presente momento, em função de todos os cuidados e procedimentos adiados, bem como o efeito cauda longa decorrente de tratamentos pós-covid. Há ainda o atual momento do câmbio nacional, em alta, que traz reflexos diretos no aumento dos custos assistenciais, uma vez que os insumos de toda a cadeia assistencial são baseados no dólar”, destacou a empresa, por meio de nota. 

 

O caixa operacional, advindo de sua atividade principal, ficou negativo em R$ 18 milhões frente a um saldo positivo de R$ 141,6 milhões em 2020. O caixa líquido terminou o ano passado no azul, em R$ 17,6 milhões, basicamente devido à receita financeira. 

Em 2016, quando a Unimed-Rio apresentava uma situação ainda mais complicada, a cooperativa carioca assinou um termo de compromisso com os Ministérios Públicos Federal e Estadual do Rio de Janeiro. Na época, a ANS autorizou, de forma excepcional, a cooperativa a usar suas reservas financeiras para evitar quebra e provocar danos no setor de saúde, uma vez que a cooperativa tinha endividamento com vários hospitais, médicos, clínicas e laboratórios. 

O termo prevê que, caso a Unimed-Rio não consiga solucionar essa crise até 2024, a Central Nacional Unimed (CNU) e a Seguros Unimed podem assumir sua carteira e o passivo. No entanto, há receio de que se esse passivo atinja um patamar tão elevado que dificulte essa assunção. 

A Unimed-Rio informou que “vem se recuperando ano a ano, conforme os indicadores previstos no termo de compromisso, que tem vigência até 2024. De 2016 para os dias de hoje, a cooperativa quitou mais de R$ 500 milhões em dívidas assistenciais, reduziu dívidas bancárias em R$ 374 milhões, reduziu o patrimônio líquido negativo em R$ 552 milhões, recompôs R$ 235 milhões de reservas técnicas e aumentou suas aplicações financeiras em R$ 300 milhões. Desde 2016, a cooperativa registrou resultado líquido positivo em todos os anos, que tem sido incorporado para reduzir o PL negativo. A performance ano a ano da cooperativa de 2016 a 2021 mostra uma recuperação gradativa inquestionável.”

Fonte: Valor




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