É possível adotar a saúde digital na rede pública?
16/08/2022

Se em 2015 o maior objetivo do sistema de saúde era promover conforto, praticidade e qualidade de atendimento com o médico em casa, hoje sabemos que podemos fazer ainda mais via teleconsulta. Desde 2020, quando o uso da telemedicina foi aprovado em caráter de emergência pelo Conselho Federal de Medicina e, recentemente, em 2022, aprovado de maneira definitiva, a saúde digital vem crescendo significativamente.

No entanto, assim como em outros segmentos, a telessaúde tem um longo caminho a seguir em sua evolução, mesclando diferentes tecnologias em seu uso, como a análise de dados, a inteligência artificial e a realidade virtual, e permitindo que instituições distintas possam conversar, sejam elas públicas ou privadas, no Brasil ou no mundo. Chamamos isso de interoperabilidade.

Mas o que esse crescimento pode significar para o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro? É possível sonharmos com a efetivação da saúde digital na rede pública? A meu ver, sim. Após o destaque da telemedicina no Brasil, os estoques de informação gerados por empresas especializadas podem ser aplicados pela saúde pública para desenvolver programas de prevenção à saúde de doenças.

Essa universalização de dados – respeitando as regras da Lei Geral de Proteção de Dados – é capaz de indicar caminhos importantes para o sistema de saúde, inclusive na projeção de possíveis doenças decorrentes de hábitos de vida, histórico de saúde, entre outros. Já existem esforços internacionais para o compartilhamento de dados entre países, especialmente na Europa, com o propósito de suportar os sistemas de saúde locais, fomentar pesquisas e desenvolver políticas públicas.

Contudo, ainda há muitas incertezas sobre o que isso pode significar para o SUS, especialmente em um cenário de redução dos investimentos públicos no sistema de saúde brasileiro. Também não podemos fechar os olhos para a dificuldade no letramento em saúde digital à população, que visa garantir ao usuário mais autonomia e protagonismo em sua própria saúde, e para o cenário desigual em que vivemos, com questões estruturais de energia elétrica e internet precárias em diversas regiões do país.

Em uma sociedade com rápidas transformações digitais, é absolutamente indispensável cobrarmos a responsabilidade de empresas e órgãos públicos que visam a formação e a convergência digital. O próximo passo é a evolução e adaptação do setor, capacitando médico e paciente para que seja prestado um atendimento de qualidade, igual ou superior ao do presencial, também na rede pública.

 





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