O que muda para o consumidor com a venda da Amil
08/01/2024

Desde que o UnitedHealth Group (UHG), a maior seguradora de saúde dos Estados Unidos, anunciou a venda da Amil para o empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, no fim de 2023, a principal pergunta dos 5,4 milhões de beneficiários da operadora brasileira é como eles serão afetados pela mudança.

Após a venda, órgãos como o Procon-SP apressaram-se em informar que os usuários estão amparados por lei e não poderão ocorrer alterações do padrão dos serviços prestados. Esse é um fato, mas, com o tempo, especialistas têm certeza de que a empresa vai mudar – ainda que tais guinadas não representem um estorvo para os consumidores.
 

Na avaliação do analista Harold Takahashi, sócio da Fortezza Partners, assessoria de investimentos especializada em fusões e aquisições, um dos motivos que justificam as modificações é o fato de a empresa ter de reverter resultados negativos da operação, acumulados de forma recorrente. Só nos primeiros seis meses de 2023, a Amil anotou um prejuízo operacional de R$ 1,6 bilhão.
 

“É inegável que a empresa precisa de ajustes”, diz Takahashi. “Provavelmente, ela vai ter de fazer modificações na gestão, o que inclui uma nova negociação com prestadores de serviço e médicos contratados.”

Além disso, observa o analista, a nova administração terá de ser “mais racional” em seu esforço por ampliar a base de clientes. “A Amil tem sido muito agressiva na atual política de preços de venda de planos nos últimos anos”, afirma. “O novo dono tende a mudar esse quadro, não oferecendo um desconto tão grande a ponto de comprometer as margens do negócio.”
 

Verticalização

Outra tendência, algo que vale para todo o mercado mas se encaixa à perfeição na Amil, é a do maior uso por parte dos planos de saúde de redes próprias de hospitais e laboratórios. A esse modelo dá-se o nome de “verticalização operacional”. Ele oferece como vantagem, por exemplo, um controle mais fino dos custos das companhias desse segmento, não raro marcados por desperdícios.

A Amil e a Americas Serviços Médicos , que também pertencia ao UHG e entrou no negócio feito com Seripieri, têm a segunda maior rede de infraestrutura da saúde suplementar no Brasil, só inferior à Rede D’Or. A Amil possui 19 hospitais e 52 unidades de atendimento, como ambulatórios e centros de diagnóstico. A Americas Serviços tem 28 centros médicos e clínicas, além de 12 hospitais. Ou seja, há muito espaço a ser explorado na rede própria da empresa.

Prevenção

Outra medida que a Amil deve tomar – e é algo cada vez mais perseguido pelo setor – é o maior investimento em prevenção. Nesse caso, diz o analista Takahashi, a meta também é reduzir gastos. “Em vez de esperar que uma pessoa sofra um ataque cardíaco, o que representa um custo enorme com diárias de UTIs e cirurgias, a ideia é agir antes, incentivando que os beneficiários do plano, especialmente os cardiopatas e os hipertensos, mudem hábitos de vida que provocar problemas de saúde.”
 

Planos individuais

Além disso, a Amil precisa resolver uma tremenda encrenca, posta pelos cerca de 340 mil planos individuais que a empresa tem. Esse é um segmento deficitário do negócio. Por isso, em 2022, o UHG tentou se desfazer do problema, pagando cerca de R$ 2,3 bilhões para que um empresário comprasse essa carteira. No caso, a compradora era a Fiord Capital, uma empresa de investimentos do sérvio Nikola Lukic. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), contudo, vetou a transação, alegando que a mudança seria prejudicial aos consumidores.
 

Gestão mais ágil

Para o médico Carlos Lobbé, professor dos MBAs de gestão de saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio, a venda da operadora tende a ser positiva tanto para a empresa como para os consumidores. Ele afirma que o UHG enfrentou, “como é comum entre multinacionais”, dificuldades para entender o funcionamento e as especificidades regionais do mercado brasileiro de saúde. “Isso tirou agilidade dos processo de decisão”, diz. “Agora, esse quadro tende a mudar”.

Lobbé considera que o aprofundamento da verticalização, por exemplo, é um dos itens que pode oferecer benefícios aos usuários, além de permitir um melhor uso da rede por parte da companhia. “O UHG é dono do Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, no Rio, um dos melhores centros médicos do país, mas hoje ele é subutilizado pela Amil”, afirma.

O médido pondera, no entanto, que é preciso entender o objetivo da nova gestão da Amil para saber até que ponto as alterações serão profundas. “Temos que observar se os gestores não estão interessados apenas em fazer uma transição para uma nova venda”, afirma. “Ou se, ao contrário, eles vieram para assumir e solucionar as dificuldades enfrentadas pela operadora.”

Mudanças só no médio prazo
 

Apesar da necessidade de redução de gastos, que inclui táticas como a verticalização e a maior ênfase na prevenção, o analista Harold Takahashi acredita que os consumidores não serão afetados pela mudança do controlador da Amil no primeiro, ou mesmo, no segundo ano do pós-compra. “Eventuais alterações só devem atingir novos contratos e aqueles que forem renovados nos próximos anos”, diz.

O analista lembra que ainda restam etapas em aberto para a conclusão da venda da Amil. A UHG chegou a afirmar que o negócio só deve ser concluído no fim do primeiro semestre deste ano. Ou seja, entre julho e agosto. “Toda transação tem condições precedentes que devem ser concluídas”, diz o técnico. “Elas incluem diligências, conferências de números, como a análise dos dados mais recentes do balanço para que seja feito um ajuste de preço. Tudo isso ainda vai tomar tempo e exigir esforço dos dois lados.” Por falar em preço, o combinado é que Seripiere pague ao UHG R$ 2 bilhões e assuma outros R$ 9 bilhões em dívidas.

Fonte: Metrópole




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