A força da inovação
Revista Exame
14/03/2013

A força da inovação

Com a maior produtividade do mundo, os Estados Unidos mostram que educação de ponta e um ambiente propício às ideias são chave para manter-se na liderança global

A excelência atraiu profissionais qualificados de todo o mundo. Especialistas chamam a atenção para a cultura meritocrática do meio acadêmico americano, que colaborou para a velocidade do desenvolvimento tecnológico. “As universidades americanas mantiveram uma tradição em que pesquisadores jovens e talentosos são encorajados a progredir”, diz o americano Robert Gordon, professor de economia da Universidade Northwestern e um dos maiores especialistas em produtividade no mundo. “Já na Europa sempre prevaleceu uma cultura de hierarquia segundo a senioridade.”

As mesmas bases de população educada e ambiente propício à inovação impulsionaram outro período de expansão acelerada da produtividade americana nos anos 90. Naquele momento, o desempenho dos Estados Unidos descolou do de outros países ricos. Entre 1995 e 2003, a economia americana cresceu o dobro da média europeia.

Boa parte dos especialistas atribui essa fase à rápida adoção de novas tecnologias da informação. Criou-se uma espécie de éden econômico, com crescimento, mais empregos e salários mais altos — e, para completar, sem inflação. Na época, economistas — e o próprio Alan Greenspan, então presidente do banco central americano — saudaram o início de uma “nova economia”, em que a produtividade sem precedentes gerada pelos computadores seria suficiente para impedir o avanço inflacionário.

O uso da tecnologia se espalhou não apenas na indústria, mas também no setor de serviços, no qual o Walmart é o exemplo máximo. (E, diga-se, polêmico. No começo dos anos 2000, a empresa enfrentou acusações de espremer os funcionários em jornadas extenuantes em troca de salários baixos.)

“Na década de 90, a produtividade americana aumentou tanto nas fábricas como também na distribuição de produtos”, diz o economista Van Ark, que realizou um estudo a respeito do papel de grandes varejistas nesse período. É verdade que, mais tarde, os estudiosos reconheceram a avalanche de produtos importados baratos como outro fator para manter a inflação sob controle, mesmo com o aquecimento no consumo.

Ameaças à frente

O avanço mais recente da produtividade americana sofreu influência da crise. Num primeiro momento, com as demissões nas empresas, o indicador cresceu: a mesma produção passou a ser obtida com menos funcionários. Agora, esse ganho se esgotou. Outro motivo de preocupação é o aumento da desigualdade.

Por décadas, ganhos de produtividade representaram contínuos saltos na renda das pessoas. Isso não é mais verdade — ou pelo menos não no mesmo ritmo. A produtividade no país cresceu 254% de 1948 a 2010, mas o salário por hora trabalhada avançou 113% no período — as curvas desgrudaram a partir dos anos 80.

O resultado, conforme estudo do economista Emmanuel Saez, da Universidade da Califórnia, é que os 10% mais ricos da população hoje detêm 49% da renda, a taxa mais alta desde 1917. São questões de um país que discute como manter uma trajetória de sucesso à medida que vantagens históricas começam a ruir.

Os dados da produtividade mostram que o mito de que os Estados Unidos estão sumindo ainda não passa disto: um mito. Para os paranoicos, no entanto, o que vale é o fato de que, em 1990, os Estados Unidos possuíam o maior percentual global de graduados em universidades na faixa de 25 a 34 anos — e, hoje, o país está na décima posição (o líder é o Canadá). Tentar repetir a própria história, nesse caso, parece a melhor maneira de evitar um retrocesso.





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