O A.C.Camargo Cancer Center entrou oficialmente para o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), conforme publicação no Diário Oficial desta sexta-feira, 23 de maio. Essa inclusão representa um marco importante tanto para o programa quanto para a instituição.
Após 15 anos de atuação, o Proadi-SUS, inicia uma fase de expansão que reflete a crescente complexidade e demanda do SUS. A entrada do A.C.Camargo, reconhecido nacional e internacionalmente pelo tratamento e pesquisa em câncer, reforça o compromisso do programa em ampliar sua atuação em áreas especializadas e de alta complexidade.
Essa integração reforça a oncologia como prioridade estratégica para o sistema público de saúde, ao incorporar ao SUS a expertise de uma instituição referência na área. Além disso, representa um avanço importante na articulação entre os setores público e privado para aprimorar o cuidado oncológico no Brasil. Em entrevista exclusiva ao Saúde Business, durante a Hospitalar, Victor Piana, CEO do A.C.Camargo detalhou a adesão ao Proadi-SUS e os próximos passos dessa colaboração entre os sistemas de saúde.
A adesão ocorre em um momento estratégico, com o fortalecimento das políticas públicas voltadas à prevenção e ao controle do câncer. Em dezembro de 2023, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC), um marco que oficializa a doença como prioridade na agenda pública.
Atualmente, a realidade já é alarmante. “Em 700 municípios do Brasil, o câncer ultrapassou a cardiologia como a primeira causa de morte. É uma questão de tempo para que outros municípios do Brasil alcancem esse patamar”, explica Piana.
O CEO destaca que, no período pós-pandemia, o problema se intensificou consideravelmente, já que muitas pessoas deixaram de realizar seus exames durante os dois anos de pandemia. O reflexo disso está sendo observado agora, com uma demanda ainda maior de casos a serem tratados, segundo o CEO.
Diante desse contexto desafiador, o A.C.Camargo enxerga o novo cenário como um divisor de águas. “Pela primeira vez o câncer agora está sendo organizado de uma outra forma e a gente espera — assim como outras doenças que o Ministério já dedicou atenção especial, como foi o caso do cuidado dos pacientes com HIV, o cuidado materno-infantil ou os transplantes de órgãos sólidos — que o câncer vá atingir esse status também”, ressalta.
De acordo com a PNPCC, estabelecer um diagnóstico rápido; navegar o paciente pelos caminhos corretos; estabelecer novos protocolos e cuidados paliativos estão entre os principais desafios. Para Piana, uma série de elementos estruturantes da oncologia, pela primeira vez, terá a atenção coordenada em todo o país.
Com 72 anos de trajetória, o A.C.Camargo acredita desempenhar um papel estratégico no combate ao câncer. “Agora temos condição de conectar, por meio deste programa, o nosso conhecimento com as iniciativas do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS)”, revela o CEO.
No entanto, o hospital rejeita a ideia de centralização. Conforme explica o executivo, “não imaginamos que o A.C.Camargo vá cuidar de todos os cidadãos brasileiros, mas queremos ajudar a desenvolver pessoas e processos pelos Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACONs), qualificando esses centros de alta complexidade”.
O objetivo é claro e ambicioso: criar uma rede de instituições dedicadas ao câncer que acelere o aprendizado, amplie o conhecimento e gere melhores condições para que os profissionais atuem, entregando mais valor ao cidadão.
Dentro desse propósito, estão metas específicas, como a redução do tempo de espera e a elevação da qualidade dos diagnósticos. Para Piana, é fundamental “reduzir o tempo de atenção, melhorar a qualidade dos diagnósticos e trazer dados que permitam realizar investimentos mais eficientes, disponibilizando as tecnologias e infraestruturas mais adequadas para o país, com foco em custo e efetividade”.
O CEO também alerta para o desafio econômico que o câncer impõe. “É uma doença de alto custo, com grande impacto na pessoa, na família, nas empresas e na sociedade como um todo. Precisamos equilibrar: fazer o melhor para as pessoas ao menor custo possível”, ressalta.
O executivo afirma que os próximos meses serão decisivos para definir as ações do A.C.Camargo no âmbito do Proadi-SUS. A instituição aguarda que o Ministério da Saúde indique as demandas e os territórios prioritários, para então elaborar os projetos, que serão avaliados por uma comissão tripartite formada pelo Ministério, CONASS e CONASEMS.
Algumas prioridades, no entanto, já foram identificadas, a partir da PNPCC, e orientam as discussões iniciais. Entre elas, destaca-se a superação dos gargalos no diagnóstico e na navegação do paciente dentro do sistema de saúde, especialmente na transição entre a atenção básica e os serviços especializados.
Outro foco é a formação de profissionais, uma vez que há grande concentração de especialistas nas regiões metropolitanas, deixando o interior e áreas remotas desassistidos. A proposta é qualificar e fixar esses profissionais nos próprios territórios, evitando a migração para grandes centros urbanos.
Além da formação inicial, o executivo ressalta a importância do suporte contínuo aos profissionais, por meio de capacitação permanente e apoio técnico à distância, promovendo o desenvolvimento de diversas especialidades que atuam no cuidado oncológico. Ele também destaca a necessidade de investir em áreas muitas vezes negligenciadas, como patologia, radioterapia, física médica, além de equipes multiprofissionais como enfermagem e psicologia.
O CEO reforça que todo o trabalho será construído de forma colaborativa, em articulação com as sociedades médicas de cada especialidade e o Inca, que já possuem amplo conhecimento sobre os principais gargalos. “Vamos sentar juntos para construir soluções que representem a melhor perspectiva para todos”, conclui.