Modelo de saúde 100% digital da Estônia será destaque no HIS 2025
16/07/2025

O que a saúde no Brasil tem a aprender com a Estônia? Não é uma pergunta comum. Afinal, o país báltico possui apenas 1,3 milhões de habitantes, equivalente à população de Campinas, e seu território é aproximadamente 188 vezes menor que o brasileiro. Mesmo assim, conquistou o título de nação mais digital do mundo e transformou seu sistema de saúde em um modelo totalmente digital, interoperável e centrado no cidadão. 

A resposta para a primeira pergunta é claro: a Estônia demonstra que o tamanho não representa obstáculo quando existe uma estratégia bem definida. “A escalabilidade não depende de tamanho, mas de arquitetura correta desde o início. Mesmo com 1,3 milhão de pessoas, a Estônia criou plataformas reutilizáveis, com padrões abertos e integração entre entes”, afirma Raphael Fassoni, CEO e co-founder da Estônia Hub

“Uma farmácia em Tartu acessa a mesma prescrição eletrônica que um médico em Tallinn, e isso poderia ser replicado entre um hospital do SUS no Acre e uma operadora em São Paulo”, exemplifica. 

Pensando nessas oportunidades, a Estônia foi confirmada como país convidado especial do Healthcare Innovation Show 2025 (HIS), trazendo pela primeira vez ao Brasil seu ecossistema de saúde digital. 

Confira a seguir o que esta participação proporcionará ao setor de saúde nacional. 

Uma revolução digital construída com propósito 

Quando a Estônia se tornou independente da União Soviética nos anos 1990, o país tomou uma decisão estratégica que mudaria seu futuro: nascer digital. Em vez de informatizar sistemas analógicos existentes, o país construiu sua infraestrutura tecnológica do zero. 

“A Estônia decidiu digitalizar desde o início da reconstrução do Estado, nos anos 1990, após a independência da União Soviética. Em vez de informatizar sistemas analógicos existentes, ela nasceu digital: desde 2001, com o X-Road, uma infraestrutura de interoperabilidade pública que conecta todos os serviços — inclusive saúde”, explica Fassoni. 

O sistema nacional de e-health entrou no ar em 2008 e, hoje, impressionantes 99% dos dados de saúde estão digitalizados, incluindo registros médicos, prescrições, agendamentos e licenças médicas. Não por acaso, Tallinn, sua capital, foi eleita pela ONU a cidade com os melhores serviços digitais do mundo. 
 

O paciente como proprietário dos dados 

O diferencial do modelo estoniano vai além da tecnologia. Sua arquitetura coloca o cidadão no centro de todas as decisões

“Tudo na saúde digital da Estônia começa e termina com o paciente no centro. O cidadão é proprietário dos seus dados. Com o ID digital, ele acessa exames, receitas, histórico médico e consegue autorizar ou negar o acesso de profissionais em tempo real. Inclusive, é possível ver quem acessou seu prontuário e por quê”, destaca Fassoni. 

Essa transparência radical é possibilitada por uma tecnologia que muitos países ainda estão tentando implementar: blockchain. Desde 2016, a Estônia utiliza essa tecnologia para garantir a integridade dos registros médicos, permitindo rastrear qualquer acesso ou alteração nos dados dos pacientes. 

Interoperabilidade como espinha dorsal 

O X-Road, plataforma de interoperabilidade lançada em 2001, é considerado o coração do sistema digital estoniano. Ele permite que diferentes sistemas – públicos e privados – se comuniquem de forma segura e eficiente. 

“A interoperabilidade via X-Road conecta hospitais, clínicas, laboratórios, farmácias e governo com uma linguagem comum e protocolos abertos. Isso evita retrabalho, erros médicos e desperdícios”, afirma o CEO da Estônia Hub. 

Essa infraestrutura permite que 99% das prescrições no país sejam digitais e que médicos de diferentes instituições acessem o histórico completo de seus pacientes instantaneamente, economizando tempo e recursos. Estima-se que o X-Road ajude a Estônia a economizar mais de 1.345 anos de tempo de trabalho anualmente, eliminando burocracia e permitindo acesso imediato a informações confiáveis. 
 

Resultados que falam por si 

Os números do sistema de saúde estoniano impressionam. Com um gasto de apenas 7,5% do PIB, o país consegue oferecer cobertura de saúde pública para 95% da população. A expectativa de vida aumentou 13 anos desde 1994, chegando a 79,5 anos atualmente. 

O financiamento do sistema vem de 13% do salário bruto dos trabalhadores formais, com gestão centralizada no Estonian Health Insurance Fund (EHIF). O modelo de remuneração combina pagamentos por desempenho para médicos de família, com foco em prevenção e rastreamento, e contratos anuais baseados em pacotes de serviços para hospitais e especialistas. 

Inovação contínua: IA e medicina personalizada 

A Estônia tem a inovação em seu DNA. O país já está na vanguarda da aplicação de inteligência artificial e medicina personalizada em seu sistema de saúde. 

“A Estônia enxerga a IA não como substituta de médicos, mas como copiloto clínico, uma aliada para triagem, diagnóstico, prescrição e redução da carga administrativa”, explica Fassoni. 

Desde 2019, o país implementa a estratégia nacional KRATT AI, que define a visão de IA como um “servidor público digital” acessível por voz ou texto. A saúde digital está entre as cinco áreas prioritárias de implementação até 2030. 

Outro projeto revolucionário é o BioBank, criado em 2000, que contém amostras biológicas e dados de saúde de mais de 200.000 estonianos — aproximadamente 20% da população adulta. Integrado ao sistema nacional de saúde, ele permite correlacionar dados genômicos e registros médicos para desenvolver tratamentos personalizados. 

“O BioBank nacional está sendo utilizado para rastreamento precoce de câncer baseado em IA. O objetivo é tornar a medicina personalizada uma realidade para todos os cidadãos”, destaca Fassoni. 

Cooperação Brasil-Estônia 

A boa notícia é que a cooperação entre Brasil e Estônia já está em andamento. “Um dos cases mais avançados no Brasil é o do Governo do Ceará, que, em parceria com empresas estonianas como a Cybernetica, implementou o X-VALID — uma solução baseada no X-Road, adaptada à realidade brasileira, para verificação e validação de documentos e dados entre sistemas governamentais”, revela Fassoni. 

Além disso, 24 estados brasileiros já enviaram delegações oficiais à Estônia, incluindo governadores, vice-governadores, secretários de saúde e presidentes de tribunais de contas. Autoridades como o vice-presidente Geraldo Alckmin também visitaram o ecossistema digital do país. 

HIS 2025: Estônia como país convidado 

participação da Estônia no Healthcare Innovation Show (HIS) 2025 representa uma oportunidade única para que os gestores e profissionais da saúde do Brasil conheçam de perto esse modelo de sucesso. Tanel Tera, Chefe do Departamento de Gestão de e-Services no Centro de Sistemas de Informação de Saúde e Bem-Estar em Tallinn, será o Master Keynote do evento, no dia 02 de outubro. 

O público poderá esperar demonstrações reais do sistema nacional de e-health, soluções práticas para o Brasil, como interoperabilidade, ID digital e prescrições eletrônicas, além de oportunidades de networking com líderes de healthtechs e governo. 

“A Estônia prova que saúde digital não é utopia, é decisão estratégica. E está pronta para compartilhar essa jornada”, conclui Fassoni. 





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