A Frente Parlamentar Mista da Saúde (FPMS) e o Instituto Ética Saúde (IES) realizaram, em 14 de julho, a primeira reunião do Grupo de Trabalho da Comissão Temática de Inteligência Artificial da FPMS. Realizado de forma virtual, o encontro reuniu mais de 50 participantes – entre parlamentares, representantes de ministérios, conselhos profissionais e entidades da sociedade civil – com o objetivo de contribuir para a construção de diretrizes específicas para o uso da inteligência artificial na saúde.
Entre os presentes, estavam senadores, deputados federais e seus assessores; membros dos Ministérios da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Inovação; representantes do CONASS, de conselhos profissionais de diferentes áreas da saúde, da Associação Médica Brasileira, da CNI e CNC, além de associações voltadas à saúde e à inovação tecnológica.
Filipe Venturini Signorelli, diretor executivo do Instituto Ética Saúde, explicou que a criação da Comissão Temática partiu de uma demanda do presidente da FPMS, deputado Zacharias Calil, com o intuito inicial de elaborar um projeto de lei (PL) específico para o setor. No entanto, com o avanço do PL 2338/2023 na Câmara dos Deputados, o foco passou a ser o aperfeiçoamento do texto existente, com uma proposta que contemple as particularidades do setor da saúde.
“A intenção é construir um marco regulatório que seja justo, aplicável e que beneficie todos os envolvidos — empresários, profissionais e instituições. A legislação precisa servir como referência para as instâncias reguladoras, como Anvisa, ANS e os conselhos profissionais, garantindo segurança, isonomia e compatibilidade com as necessidades reais do setor e os direitos dos pacientes”, afirmou Signorelli.
Giovanni Saavedra, coordenador da Comissão Temática, — professor de Direito e pesquisador na área de IA aplicada à saúde — destacou que o PL 2338/2023 avançou no Senado e agora tramita na Câmara com melhorias importantes, como a exclusão de usos de baixo risco da regulação, preservando o espaço para a inovação. No entanto, ele pontuou que ainda faltam políticas públicas estruturadas para fomento à IA e que a infraestrutura, como data centers, está sendo tratada em outro projeto.
O PL propõe três níveis regulatórios: simplificado, intermediário e alto risco — este último aplicável a sistemas com potencial de impactar significativamente a saúde física ou mental do paciente, como diagnósticos ou decisões clínicas automatizadas. Saavedra levantou uma reflexão crítica ao grupo: “Essa classificação é suficiente? Usar IA para diagnosticar uma gripe é muito diferente de indicar uma cirurgia. Talvez seja necessário refinar esses critérios.”
Além disso, foram apresentados outros temas-chave, como governança dos sistemas de IA, avaliação de impacto algorítmico e responsabilidade civil por danos causados por essas tecnologias.
Durante o encontro, Saavedra propôs uma série de questões para reflexão e aprofundamento do debate, entre elas:
Como encaminhamento, o coordenador sugeriu incluir no texto legislativo diretrizes específicas para o setor da saúde, tais como:
As contribuições para o Grupo de Trabalho poderão ser enviadas até 25 de agosto. As propostas serão debatidas presencialmente durante o 2º Fórum Nacional de Integridade na Saúde, que ocorrerá em 27 de agosto, durante o ExpoCompliance, em São Paulo. O evento contará com representantes de agências reguladoras, órgãos de controle, instituições do setor e entidades técnicas.
A proposta do GT é construir uma legislação com caráter mais principiológico e conceitual, evitando uma regulação excessivamente segmentada para a saúde. A Comissão já solicitou participação em audiência pública na Câmara para apresentar suas contribuições ao PL 2338/2023.