Saúde Suplementar retoma rentabilidade após três anos de prejuízos, aponta estudo do IESS
29/07/2025

Após enfrentar um período de severos desequilíbrios operacionais entre 2021 e 2023, o setor de saúde suplementar brasileiro apresenta sinais consistentes de recuperação financeira, criando uma janela de oportunidade para repensar o equilíbrio e a sustentabilidade de todo o sistema. A constatação vem do estudo “Evolução Econômico-Financeira da Saúde Suplementar no Brasil“, recentemente divulgado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).

A pesquisa, que examina o desempenho econômico do setor desde 2018, abrangendo os períodos durante e pós-pandemia da Covid-19, revela que o lucro líquido das operadoras de planos médico-hospitalares atingiu R$ 6,9 bilhões no primeiro trimestre de 2025, com crescimento significativo em relação ao período anterior. O resultado operacional, indicador que reflete diretamente a atividade-fim do setor, somou R$ 4,4 bilhões. Todos os valores foram corrigidos pela inflação até março de 2025, garantindo uma análise temporal consistente.

A recuperação financeira foi impulsionada por um rigoroso processo de gestão operacional implementado pelas operadoras, com destaque para iniciativas de controle de desperdícios e combate às fraudes. O cenário macroeconômico também contribuiu positivamente, com a elevação da taxa Selic favorecendo os rendimentos financeiros das operadoras, que são legalmente obrigadas a manter níveis elevados de reservas técnicas.

“O setor atravessou um período extremamente crítico, mas a reversão dos indicadores financeiros não pode ser interpretada como solução definitiva. Persistem distorções relevantes na cadeia de valor que precisam ser enfrentadas com diálogo e responsabilidade”, alerta José Cechin, superintendente executivo do IESS.
 

Indicadores confirmam tendência de recuperação

A melhora nos principais indicadores do setor confirma a tendência de recuperação:

  • A sinistralidade recuou para 79,2%, após ter atingido picos de até 91,7% em 2022
  • A margem de lucro líquido subiu para 8,6%, representando o melhor desempenho desde o início da pandemia
  • 78,8% das operadoras registraram resultado positivo no período analisado

O estudo revela ainda que as operadoras de grande porte demonstraram maior eficiência, com sinistralidade de 79% no primeiro trimestre de 2025. Operadoras pequenas e médias, embora também tenham apresentado melhora em comparação a 2024, continuam com níveis mais elevados de comprometimento de receitas com despesas assistenciais.

Desafios persistentes exigem atenção

Apesar dos resultados positivos no agregado, o estudo aponta para tensões que ainda persistem no setor: 21,2% das operadoras continuam apresentando resultado negativo, evidenciando uma recuperação heterogênea. Outro ponto crítico é a elevada judicialização, que pressiona tanto os custos operacionais quanto a previsibilidade contratual.

“Sem segurança jurídica e regras claras, não há como planejar investimentos duradouros nem garantir a sustentabilidade do sistema”, enfatiza Cechin, que considera o momento atual propício para discutir mudanças estruturais: “É preciso utilizar esse respiro financeiro como ponto de partida para uma reconfiguração das práticas do setor. A busca por eficiência não pode se limitar ao resultado contábil, mas deve se traduzir em acesso, qualidade e resolutividade para os 52 milhões de beneficiários”.

O superintendente do IESS conclui alertando que “essa combinação de fatores conjunturais não é sustentável no longo prazo. Por isso, é fundamental que o setor avance em modelos de remuneração mais alinhados ao valor assistencial, ao desempenho e à transparência”.





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