A Neurogram, startup de tecnologia para a área de saúde, captou US$ 3 milhões (cerca de R$ 17 milhões) em uma rodada de investimento inicial (“seed”) com participação da Headline, liderada pelo empreendedor Romero Rodrigues. Segundo a executiva-chefe (CEO) e cofundadora da Neurogram, Daniele de Mari, Rodrigues e o Headline financiaram integralmente a rodada. O investimento será aplicado à expansão da plataforma e reforço da equipe. 

Essa captação sucede uma rodada de US$ 1,4 milhão levantada anteriormente em um “pré-seed” no Vale do Silício, nos Estados Unidos. 
Rodrigues foi cofundador do site de buscas Buscapé, vendido para o fundo de investimentos Naspers, em 2009, posteriormente ao Zoom e, em 2021, ao Banco PAN, como parte do grupo Mosaico. 
 

Especializada na análise de dados neurológicos, a Neurogram processou mais de 10 mil exames no primeiro trimestre e planeja alcançar 100 mil até o fim do ano, segundo a CEO. Para a expansão, a executiva se baseia em uma lista de espera com mais de 60 clínicas para entrar no sistema. Ela estima o potencial do mercado global em US$ 70 bilhões, em dez anos, envolvendo a análise de diversos tipos de doenças. Mas, para isso, precisa expandir a operação internacionalmente e fazer novas rodadas de investimento. 

De Mari, que é neurocientista, fundou a startup com o neurofisiologista Heitor Ettori em 2023. Hoje, a equipe é composta por 17 profissionais, entre médicos, especialistas em inteligência artificial e em desenvolvimento de produto. O desenvolvimento da plataforma durou dois anos. 

 

O diferencial dessa plataforma, segundo os fundadores, é que foi adaptada às regras da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), permitindo que os exames - inicialmente de eletroencefalograma - sejam processados na nuvem computacional. Para isso, foi necessário padronizar todo o sistema, implementar criptografia e adotar outras medidas de segurança. A plataforma está hospedada nos servidores do Google e da Amazon Web Services (AWS). 

De acordo com a CEO, atualmente, desde o agendamento do exame de eletroencefalograma até a entrega do resultado ao médico, são necessários de sete a oito softwares diferentes. Isso ocorre devido à baixa padronização do setor, aos gargalos operacionais e ao acesso restrito causado pelo alto custo dos equipamentos, além do baixo investimento na área. Com o novo sistema, todo o processo será realizado por meio da plataforma, dedicada à neurologia, que envia o laudo automaticamente ao médico. 

Dez clínicas e um hospital já utilizam a tecnologia, em operação desde março. Entre os clientes da Neurogram estão o Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (IEC-RJ), que usa a plataforma para apoiar pesquisas neurocientíficas, e a clínica Sinapse, que atende cerca de 40 hospitais da região Sudeste. 

De Mari disse que a tecnologia ajudará os médicos a identificar, por meio de biomarcadores, alterações cerebrais que não são visíveis a olho nu, em casos como doença de Alzheimer, transtorno do déficit de atenção (TDAH), transtorno do espectro autista (TEA) e epilepsia. 

“Vamos criar um grande banco de dados e treinar a inteligência artificial”, disse a CEO. A startup possui atualmente duas IAs generativas. Uma delas é utilizada para exames do sono, já aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e prestes a iniciar testes científicos. A outra IA é voltada ao atendimento de pacientes internados: realiza o eletroencefalograma, envia os dados à nuvem e conduz automaticamente todo o processamento. Essa ainda será submetida à Anvisa, mas já está em fase de teste real em uma rede com 50 hospitais, a maioria no Rio de Janeiro, afirmou a CEO. 

“A Neurogram ataca um problema real com uma solução tecnicamente sofisticada e ao mesmo tempo escalável”, afirmou Rodrigues, novo membro do conselho da startup, em nota. “É raro encontrar uma combinação tão forte entre profundidade científica, visão de produto e tração clínica.” Para o investidor, essa tecnologia “pode transformar a neurofisiologia no Brasil e fora dele”.