“O médico que tiver medo de inteligência artificial vai ser substituído pelo médico que não tem medo e que está com ela no bolso”, afirma Sidney Klajner, presidente do Einstein Hospital Israelita. Ele é médico-cirurgião e um entusiasta da tecnologia. Klajner conta que existem 126 algoritmos de IA no hospital, a maioria em suporte à gestão e uma minoria em suporte à decisão médica. “Estas são barreiras que lentamente estão sendo rompidas.”
Klajner é o convidado desta semana do podcast CBN Professional, uma parceria do jornal Valor Econômico com a rádio “CBN”. Os novos episódios estão disponíveis todas as segundas-feiras no
site da rádio “CBN”, nos canais do Valor e da “CBN” no
YouTube e nas principais plataformas de streaming, como
Spotify e
Apple Podcast.
O médico, que assumiu a presidência em 2016, é um disseminador da cultura de inovação no hospital, que foi inaugurado em 1971 e hoje é reconhecido não apenas pela parte de assistência em medicina, mas pela atuação na área de ensino e pesquisa. O Einstein responde por dois hospitais, 60 unidades de atendimento no setor público e privado, e também administra cinco hospitais públicos nos estados de São Paulo, Goiás e Bahia. Além disso, possui 14 unidades de ensino, com mais de 60 mil alunos matriculados. Ao todo, são mais de 23 mil funcionários.
A jornada de Klajner no hospital começou no corpo clínico. Mas ele conta que desde que ingressou no Einstein, um sonho da época de estudante, se voluntariou para trabalhar em todas as comissões no hospital. “Eu aceitava primeiro, depois eu me livrava”, brinca. O seu objetivo era nunca deixar passar uma oportunidade. “Você é visto nesses ambientes, está participando de fóruns com pessoas mais velhas, tomando exemplo de outras pessoas, você é capaz de se dedicar e se apaixonar por outras coisas que não só a medicina”, ensina.
Foi dessa forma, conhecendo vários processos no hospital, que ele passou a atuar com qualidade e segurança, assumindo a diretoria e depois a vice-presidência da área. “Grande parte da qualidade do atendimento no âmbito de um hospital está ligada à gestão de processos, você precisa entender de gestão de pessoas e de gestão do conhecimento”, afirma.
Foi a partir desse entendimento que ele diz ter se apaixonado pela administração. “Passei a me interessar cada vez mais por cursos de gestão”, conta.
Incentivado pelo então presidente do hospital Claudio Lottenberg, ele antecipou os horários em que realizava as cirurgias para poder acompanhar as reuniões da diretoria que começavam às 7h30. Isso foi em 2010. Até hoje, mesmo na presidência, ele nunca deixou de fazer cirurgias com o sol nascendo e a atender pacientes em seu consultório. “É importante ser um médico que vive o hospital todos os dias, em todos os lugares, porque a gente opera, visita a enfermaria, vai na UTI, conversa com o colaborador, toma um café, quando você chega na diretoria já escutou a rádio AM/FM lá dentro. São instrumentos de gestão. Eu tenho também a percepção do paciente no consultório”, explica.
Um de seus primeiros desafios na gestão do hospital foi fazer com que os médicos fossem aliados na transformação tecnológica da organização. “Eu não podia abrir mão de todo o legado do corpo clínico antes de mim, mas ao mesmo tempo eu tinha que usar todo esse conhecimento para fazer o futuro”, lembra. Ainda na época em que era vice-presidente de qualidade e segurança, ele já havia promovido algumas facilitações de processos usando a tecnologia. Uma delas foi investir na criação de um prontuário eletrônico. “Visitei o mundo todo para encontrar um modelo e demoramos dois anos para ‘tropicalizar’, implementando em 2017, já na minha gestão como presidente”, diz.
Ele conta que foi em uma manhã de sábado, quando viu na UTI um médico bastante experiente e famoso no hospital, de 80 e poucos anos de idade, usando o prontuário eletrônico para atualizar as informações do paciente, que pensou: “o jogo está ganho”.
Desde a criação da diretoria de inovação no hospital, ele conta que houve um grande avanço no setor de pesquisa. “A gente trouxe o conceito de o médico não ficar feliz só com o paper publicado, mas por gerar uma solução para melhorar o atendimento ou para ampliar o acesso da população”, diz. Nesse espírito, surgiu a telemedicina em 2012. “A gente atuava na época em plataformas de petróleo, em consultoria com UTIs”, diz. “Fizemos isso quando ainda era proibido fazer sem médicos nas duas pontas”, ressalta. Essa restrição mudou com um decreto na época da pandemia da covid, que permitiu com que médicos atendessem diretamente pacientes a distância.
O uso de dados só vem crescendo no hospital e trazendo avanço
s em diversos processos, segundo ele. “Com o agendamento cirúrgico inteligente para não ter sala ociosa, aumentamos o agendamento em 3 a 4 cirurgias, com a mesma infraestrutura”, conta.
Hoje, além da faculdade de enfermagem, que surgiu há 36 anos, o Einstein oferece 8 graduações, como engenharia biomédica, administração em saúde, nutrição, odontologia, medicina e psicologia. Ele diz que a abordagem e o projeto pedagógico foram pensados para formar um tipo de médico diferente. “É uma formação que busca um líder médico”, diz.
Ouça o episódio completo já disponível. Nele, Klajner fala ainda sobre os cursos de gestão que buscou para alinhar sua própria formação aos desafios atuais, como organizou novas diretorias executivas e a importância de criar uma base para sustentar uma cultura de inovação tecnológica.