No entanto, há uma outra carteira com 65,7 mil usuários de planos de saúde que moram no Estado do Rio de Janeiro, mas fora da área de abrangência da Unimed Ferj, que é a capital e o município de Duque de Caxias. As 18 cooperativas médicas do Rio reivindicam a devolução dessa carteira, que é rentável. Porém, isso não deve ocorrer a médio prazo.
Questionado sobre abrir mão apenas da carteira deficitária, o médico João Alberto da Cruz, presidente da Unimed Ferj, disse que “neste momento, não podemos nos desfazer dessa carteira do Estado do Rio, não há como perder essa receita. Ela ajuda no nosso resultado. O sistema Unimed também precisa compreender, nos ajudar.”
Os usuários fora da área de abrangência da Ferj somam 118,5 mil, representando quase 30% da carteira total. Há esse volume de clientes porque a Unimed-Rio vendeu muitos planos de saúde em outras praças, o que não é permitido nas regras do cooperativismo médico. Há no país 360 Unimeds e cada qual tem uma área predeterminada de atuação. Nos casos de empresas com funcionários em várias regiões do país, o contrato de plano de saúde é fechado com a Central Nacional Unimed (CNU).
Cruz garante que a venda em outras áreas não ocorre mais sob sua gestão, mas as demais cooperativas do Rio reclamam que essa prática permanece. No mês passado, a Unimed Leste Fluminense encaminhou reclamação ao Sistema Unimed se queixando de vendas em sua área de atuação, solicitou que os usuários sejam reintegrados à sua carteira e fala sobre uma dívida de cerca de R$ 32 milhões referente à repasses não efetuados nos meses de abril e maio, segundo comunicado do qual o Valor teve acesso. A Leste Fluminense confirmou as informações da carta.
Entre os usuários de planos de saúde da Unimed Ferj que moram em outros Estados, uma parcela era cliente da Golden Cross, que, nos tempos áureos, tinha presença nacional. A Golden teve liquidação extrajudicial decretada neste ano, mas antes disso, em 2013, vendeu sua carteira de planos individuais à Unimed-Rio, por R$ 160 milhões. Esses usuários moram em cidades como Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Brasília, São Paulo e Salvador. A previsão é que até setembro esse processo seja concluído.
Há esse pé de guerra porque as cooperativas regionais pagam os custos médicos, mas não estão sendo ressarcidas pela Ferj], que, por sua vez, recebe as mensalidades. “Esse problema acaba com a transferência da carteira. Para as Unimeds de outros Estados já ‘boletamos’ [enviaram os boletos das mensalidades] para a Unimed do Brasil”, disse Cruz.
A Unimed do Brasil, entidade responsável pelas cooperativas médicas no país, disse que “sobre comercialização de saúde há regras de governança e sistemas de informação que visam promover a sinergia entre as cooperativas.”
A Unimed Ferj tem uma dívida acordada com hospitais, clínicas e laboratórios da ordem de R$ 1,6 bilhão. Porém, Cruz questiona esse valor afirmando que já foram pagos, no ano passado, R$ 176,9 milhões e mais R$ 195,5 milhões no primeiro semestre deste ano. “Há R$ 551 milhões ainda em análise porque muitos não conseguem justificar as contas médicas. Há contratos absurdos, de 40 anos, fechados na outra gestão”, disse.
A Associação dos Hospitais do Estado do Rio de Janeiro (AHERJ) alega que o acordo, que parcelou as dívidas em até 36 vezes, não está sendo cumprido e há outros débitos de cerca de R$ 400 milhões que se acumularam desde que a Ferj assumiu, em abril de 2024.