Nesta quinta-feira (28), a Jornada Digital – Qualidade e Segurança, realizada pela Anahp em parceria com a Wolters Kluwer, encerrou a série de encontros de agosto discutindo um dos maiores desafios da gestão em saúde: alinhar eficiência, qualidade e segurança no cuidado ao paciente. O encontro trouxe também uma análise dos resultados da pesquisa “Qualidade, segurança do paciente e a importância das ferramentas de suporte à decisão clínica”, com retrato do cenário em hospitais privados.
Participaram:
Veja, a seguir, os principais pontos abordados.
Maturidade em qualidade e segurança
A terceira edição da pesquisa Anahp–Wolters Kluwer, realizada com 102 hospitais-membros da Associação, mostrou que 91% das instituições reconhecem a medicina baseada em evidências como fator decisivo para melhorar a qualidade, aumentar a segurança e reduzir a variabilidade clínica. Além disso, 81% já utilizam ferramentas de suporte à decisão clínica, enquanto 19% ainda não as adotam.
“99% dos hospitais reconhecem a relevância de ter acesso a bases de conhecimento baseadas em evidências para assegurar a segurança do paciente.” – Ariane Gagliardi
Na prática: hospitais priorizam bases de medicamentos e de referência clínica, que já demonstram ganhos na redução de erros de prescrição, prevenção de eventos adversos e maior agilidade na farmácia clínica.
Engajamento clínico: entraves e caminhos
O baixo engajamento do corpo clínico continua sendo um dos maiores desafios para consolidar práticas de qualidade e segurança, mesmo diante da boa aceitação das tecnologias. Diferenças geracionais, corpo clínico aberto e ausência de processos estruturados dificultam a adesão.
“O engajamento é multifatorial. Não adianta colocarmos todos na mesma caixinha; precisamos flexibilizar e falar a mesma língua das equipes.” – Ariane Gagliardi
“Comece pelos mais receptivos; o engajamento positivo contamina os demais.” – Luciana Karla Reis
Na prática: flexibilizar treinamentos, adaptar linguagem ao cotidiano dos profissionais, investir em integração desde o primeiro contato e usar dados e indicadores para mostrar resultados que façam sentido para médicos e equipes.
Liderança como base
Não há qualidade e segurança sem apoio da alta liderança. No Hospital Santa Rita de Cássia (ES), a participação da diretoria em rondas e planos de ação fortalece a cultura de segurança.
“A liderança forte é fundamental. Antes de pensar em tecnologia, precisamos redesenhar processos.” – Luciana Karla Reis
Na prática: envolver líderes desde o início, usar indicadores como ferramenta de diálogo e incluir médicos nas decisões para reduzir resistências.
Tecnologia a serviço do cuidado
No Santa Rita, a implantação de um robô para entrega de medicamentos mostrou como inovação precisa vir acompanhada de redesenho de processos e comunicação transparente.
“A tecnologia só faz sentido quando gera inclusão. Informação transparente facilita a adesão e engaja as equipes.” – Luciana Karla Reis
Na prática: mapear processos antes da implantação tecnológica, ouvir feedbacks da equipe e integrar inovação à estratégia de qualidade e segurança.
Programa Sepaco de Excelência
No Hospital e Maternidade Sepaco (SP), a estratégia de qualidade está estruturada no Programa Sepaco de Excelência, que reúne protocolos clínicos, governança multiprofissional e acompanhamento sistemático de indicadores. A instituição soma 250 leitos, sendo 100 de UTI, e busca alinhar eficiência e qualidade por meio da digitalização e da integração de sistemas.
“Quanto mais a tecnologia facilitar a vida das equipes, maior será a adesão. Nosso desafio é interoperar sistemas e retirar o papel do prontuário.” – Sueli Luz
Na prática: digitalizar processos, integrar sistemas (como TASI e legados), ampliar adesão ao prontuário eletrônico e monitorar indicadores de permanência e readmissão.
Inteligência artificial e futuro da assistência
A inteligência artificial é reconhecida como um caminho inevitável, mas que exige cautela. Projetos-piloto vêm sendo desenvolvidos para automatizar protocolos, enquanto hospitais buscam engajar médicos por meio de indicadores de desempenho.
“A inteligência artificial vem para agregar, mas precisa ser incorporada de forma cuidadosa, com engajamento e propósito claros.” – Sueli Luz
Na prática: criar grupos de trabalho para definir usos da IA, automatizar protocolos já existentes e usar dados para engajar médicos e equipes.
Operadoras e continuidade do cuidado
A interface com as operadoras de saúde precisa evoluir para além da lógica de glosas. No Hospital Santa Rita, relatórios de retorno passaram a ser enviados para estimular uma relação mais construtiva. No Sepaco, há avaliação da qualidade do cuidado antes da internação e após a alta, com atenção a casos de reinternações e condições preveníveis.
“Cada vez mais precisamos de interface com operadoras, para garantir continuidade e qualidade de vida.” – Sueli Luz
Na prática: criar fluxos de comunicação com operadoras, avaliar condições de chegada e pós-alta, e usar DRG e indicadores para retroalimentar processos.
Conclusões
Operadoras e hospitais devem atuar de forma conjunta para garantir continuidade do cuidado e reduzir reinternações.