Uma das empreitadas em curso é a consolidação da Rede Américas — joint venture com a Dasa, que começou a operar como tal em abril passado. O negócio teve aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em dezembro de 2024 e criou uma rede com 25 hospitais.
Nos últimos 18 meses, conta o CEO Renato Manso, a Amil investiu R$ 240 milhões em tecnologias de atendimento e na rede própria Total Care, que possui 19 hospitais e 70 unidades médicas — e que não entrou na joint venture por questões estratégicas. Em maio passado, a operadora fechou acordo com o Hospital Sírio-Libanês (na capital paulista) para que um andar inteiro seja exclusivo para seus clientes.
Essas iniciativas e ainda o fortalecimento da parceria com a rede credenciada, o reforço no uso de tecnologias para controlar fraudes e maior atenção à gestão de doentes crônicos vêm ajudando a enfrentar os custos elevados do setor. O aumento dos contratos com coparticipação e mudanças no modelo de remuneração de alguns prestadores de serviço também compõem o rol de medidas para buscar melhores resultados.
“O maior desafio do setor é compatibilizar a capacidade de pagamento das empresas e dos consumidores com os custos crescentes da medicina”, observa Manso.
Outra gigante do setor, a Hapvida, vem acelerando o crescimento orgânico para consolidar uma virada tecnológica, com medicina preventiva alavancada por dados, inteligência artificial (IA) e padronização clínica. Anunciou, no fim de 2024, investimentos de R$ 2 bilhões para construir e inaugurar dez hospitais até 2026 e unidades assistenciais, além de requalificar outras existentes.
A carteira de saúde tem mais de 8,8 milhões de beneficiários e a odontológica, acima de sete milhões. No mix de saúde, a maioria está em contratos coletivos, com pouco mais de 20% em planos individuais. A operadora foca no segmento corporativo com ofertas pensadas por região e vem fazendo ajustes de coparticipação e reajustes contratuais “calibrados”.
“A verticalização permanece central, com alto uso de rede própria em consultas, exames e internações e protocolos padronizados, o que melhora desfechos clínicos e contém a sinistralidade”, destaca Luccas Adib, vice-presidente de finanças, relações com investidores e inovação da Hapvida.
A expansão da operadora se dá com o fortalecimento da rede própria em São Paulo e no Rio de Janeiro, principais praças de crescimento, e investimentos seletivos no Norte e Nordeste. No Rio, será construído um hospital de alta complexidade, previsto para abrir em 2026, e a capacidade na região metropolitana será ampliada.
Em São Paulo e área metropolitana, serão abertos quatro hospitais, um pronto atendimento, seis clínicas, oito unidades de diagnóstico, 14 unidades de coleta laboratorial e haverá duas ampliações. Foi feita a entrega de novas unidades e modernização de outras, reduzindo dependência da rede credenciada, em São Paulo, Recife, Fortaleza, Manaus e Belém.
Adib lembra que um dos pontos que afetam os resultados do setor é a judicialização da saúde. “Para enfrentá-la, a companhia estruturou uma célula dedicada e multidisciplinar”, conta ele.
Na Bradesco Saúde, a perspectiva do setor é considerada positiva. Com cerca de 3,8 milhões de beneficiários, 97,3% deles em planos empresariais, a operadora tem colhido bons resultados com sua estratégia de focar, entre outros, em planos regionais e em pequenas e médias empresas.
A operadora vem ampliando sua atuação em mercados onde ainda não está consolidada, como o Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Lançou em junho um produto regional em Goiás. No ano passado, por exemplo, ampliou a rede de prestadores na região norte de Mato Grosso, com forte presença do agronegócio, e em Santarém e Juruti, no Pará.
“As estratégias regionais também incluem a criação de equipes comerciais especializadas da Bradesco Saúde e o fortalecimento da base de corretores”, diz Carlos Marinelli, diretor-presidente da Bradesco Saúde.
De acordo com ele, o desafio do setor está na sustentabilidade da cadeia da saúde, com atenção especial aos custos assistenciais, que exige inovação aliada à gestão eficiente. Assim, a Bradesco Saúde investe em tecnologia, fortalece a atenção primária e a prevenção por meio de programas dedicados aos temas. Em outra frente, vem oferecendo um portfólio cada vez mais diversificado e flexível. “Há opções de produtos com coparticipação, modelos com reembolsos específicos e planos regionais, com redes desenhadas de acordo com a realidade local”, destaca Marinelli.
Raquel Reis, CEO da SulAmérica Saúde & Odonto, é outra que está otimista. No primeiro semestre de 2025, o número de beneficiários chegou a 5,8 milhões em saúde e odontologia, quase 10% acima do mesmo período do ano passado. A grande maioria em planos coletivos — apenas 101 mil são contratos individuais.
Esse caminho positivo vem sendo trilhado graças a uma atenção ampla ao segmento empresarial, com portfólio flexível e adaptável ao perfil e às necessidades de cada organização. A operadora também vem criando e aumentando linhas de produtos, além de estar expandindo a atuação geográfica. Um exemplo foi o lançamento do SulAmérica Direto Nacional, um plano regional para necessidades específicas da população local, no sul do Pará.
Segundo Reis, o ano de 2025 até agora trouxe notícias boas: o país teve alta de 1,4% no PIB no primeiro trimestre e o mercado projeta expansão acima de 2% no ano. “Temos um plano estratégico robusto de investimentos que segue cada indicador macroeconômico e do setor. Nosso compromisso é manter a sustentabilidade do negócio, mesmo diante de volatilidade”, diz ela.
Para assegurar essa sustentabilidade a longo prazo, pontos como a evolução tecnológica e a longevidade dos brasileiros são acompanhados de perto, levando a ajustes na precificação dos planos. “Também investimos fortemente na experiência digital dos beneficiários, com a telemedicina, um exemplo claro de conveniência, agilidade e redução de custos assistenciais.”
Em Minas Gerais, a Unimed-BH segue em crescimento. Com mais de 1,6 milhão de beneficiários, principalmente em planos empresariais, aposta na manutenção da base de clientes e no fortalecimento da presença regional. Em julho passado, a operadora incorporou a Unimed Sete Lagoas e ampliou sua área de atuação de 34 para 46 municípios da região metropolitana de Belo Horizonte e cidades vizinhas.
Frederico Peret, diretor-presidente da Unimed-BH, diz que enfrentar pressões como inflação médica, envelhecimento populacional, judicialização da saúde, aumento do custo de vida e políticas regulatórias rígidas requer uma gestão cada vez mais criativa, eficiente e adaptativa.
“Temos adotado uma abordagem integrada, com foco em eficiência operacional, inovação, ampliação da rede própria e valorização da experiência do cliente e do profissional de saúde”, frisa o executivo, acrescentando que há investimentos em curso, como o hospital de Contagem, sua quinta unidade do gênero, que será entregue ano que vem.
Além dos R$ 350 milhões aportados nessa empreitada, outros R$ 180 milhões já foram comprometidos com outro hospital, em Nova Lima, com previsão de entrega em 2027. Junto com a verticalização, outras iniciativas estão ajudando o negócio, como o uso consolidado da telemedicina e produtos alinhados às necessidades dos diferentes perfis de clientes.
A qualificação dos prestadores por meio dos programas de excelência assistencial e um programa para apoiar médicos cooperados na gestão eficiente dos recursos também integram o rol de iniciativas para superar as dificuldades do setor e crescer de forma sustentável. Há ainda um modelo de remuneração variável para os médicos, que considera indicadores específicos, com metas compartilhadas entre os cooperados.
Dedicada a um público que muitos no setor consideram problemático devido à maior incidência de problemas de saúde — acima de 49 anos —, a MedSênior tem 240 mil clientes na modalidade individual e está abrindo o leque de sua atuação. No fim de 2024, iniciou a venda de planos empresariais e coletivos por adesão, ainda sem representatividade expressiva no negócio.
“Observamos que a retomada gradual da empregabilidade, associada ao envelhecimento da população economicamente ativa, abre espaço para o nosso crescimento”, salienta Maely Coelho Filho, vice-presidente-executivo da operadora.
De acordo com ele, há um conjunto de ações que ajudam a controlar custos, melhorar indicadores assistenciais e ampliar a receita: a verticalização, com investimentos em rede própria, uso de tecnologia de gestão de saúde e ampliação de programas de prevenção que reduzem a necessidade de atendimentos de alta complexidade.
A MedSênior, que mantém uma política de produtos sem coparticipação, entrou neste ano no Nordeste, começando a atuar no Recife (PE). Também abriu novas instalações em Vitória (ES) e no Rio de Janeiro e, em setembro, será a vez do Distrito Federal e São Paulo.
Para Gustavo Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), o setor deve fechar 2025 com aproximadamente 53,2 milhões de beneficiários, 1,92% acima do número de janeiro passado. Para o ano que vem, a estimativa preliminar aponta para cerca de 53,9 milhões de usuários.
O aumento da clientela é importante para o desempenho financeiro do setor, que também depende dos índices de reajustes, da incorporação obrigatória de tecnologias e da alta dos custos médicos. Além disso, de acordo com o presidente da Abramge, a judicialização e as fraudes são dois obstáculos para a obtenção de melhores resultados: “Entre 2019 e 2024, por exemplo, os custos com judicialização cresceram 183%, o que representou um acréscimo de R$ 6,8 bilhões nas despesas dos planos de saúde”.
Essa judicialização é apontada por Bruno Sobral, diretor-executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), como um desafio que permanece, a despeito da recuperação do setor. De acordo com ele, o momento favorável para os planos de saúde reflete o esforço das operadoras em controlar custos, renegociar contratos, revisar preços e combater fraudes.
Sobral diz que a retomada do setor, depois de um período de grandes prejuízos operacionais, deve ser vista com cautela. Ele analisa a evolução dos resultados. Aponta o lucro de R$ 6,9 bilhões das operadoras no primeiro trimestre de 2025 trazendo margem de 8,6%. “Nos últimos 12 meses, essa margem é mais estreita, de 4,4%”, salienta. Ele tem expectativa de continuidade da trajetória positiva em 2026, baseada na manutenção das medidas de gestão implementadas nos últimos anos e pelo cenário macroeconômico favorável.
Na visão de Rudi Rocha, professor da FGV-Eaesp, a resposta aos desafios do setor não está apenas em controle de custos, com iniciativas como verticalização, mas também em reconstruir a lógica de um financiamento coletivo sustentável. “Estratégias como coordenação do cuidado, uso intensivo de dados e redes integradas são também importantes, mas precisam ser sustentadas por modelos de financiamento sólidos e bem regulados”, observa.
Alta sinistralidade, inflação médica, envelhecimento da população e as exigências regulatórias exigem das operadoras uma revisão profunda de seus modelos de gestão, diz Marcos Laredo, sócio-diretor da KPMG. “É essencial o investimento em tecnologia, prevenção e coordenação do cuidado. O uso de dados para gestão de risco e a atenção primária estruturada são alguns caminhos viáveis.”