O Brasil vive um momento estratégico no setor de saúde digital. Segundo o último Anuário da Associação Brasileira de Startups de Saúde e Healthtechs (ABSS), o país concentra 64,8% das startups de saúde da América Latina, número que o posiciona muito à frente de mercados como México (16,2%) e Argentina (5%). Essa liderança se deve à combinação entre a alta demanda do Sistema Único de Saúde (SUS), o apetite do setor privado para inovação e os avanços regulatórios que vêm estimulando a criação de novas soluções.
Entre os principais motores deste movimento está a Inteligência Artificial (IA). Impulsionadas por tecnologias de deep learning, processamento de linguagem natural (NLP) e cloud computing, as healthtechs brasileiras estão criando soluções capazes de personalizar o cuidado, prever riscos e apoiar a decisão clínica. “Estamos diante de uma nova fase em que a IA não apenas otimiza processos, mas transforma a experiência do paciente e redefine o modelo de assistência”, aponta Bruno Borghi, presidente da ABSS – Associação Brasileira de Startups de Saúde e Healthtechs.
O anuário mostra que o modelo de negócios predominante é o SaaS (41,2%), oferecendo soluções em nuvem com assinaturas e integração hospitalar, enquanto o B2B (39,3%) se mantém como público-alvo principal, com foco em hospitais e operadoras. Ainda assim, cresce a presença do B2C (35%), que leva teleatendimento e apps de bem-estar diretamente ao paciente.
O contexto reforça a importância da inovação: o Brasil possui hoje mais de 313 mil leitos públicos e 141 mil privados, mas enfrenta um índice médio de ocupação hospitalar em torno de 77% a 80%, segundo dados do relatório BTG Healthcare Bible 2025. Além disso, os custos com hospitalizações já representam 41,9% das despesas dos planos de saúde, sinalizando que eficiência e tecnologia são vitais para garantir a sustentabilidade do sistema.
A ABSS, que em 2024 ultrapassou a marca de 480 associados, tem atuado como hub de inovação e articulação institucional, promovendo eventos como Demodays, missões internacionais e debates sobre temas regulatórios — da prescrição eletrônica ao sandbox da Anvisa. “Nosso papel é conectar empreendedores, hospitais, operadoras e investidores, criando um ecossistema colaborativo que acelere a transformação digital em saúde no Brasil”, reforça Borghi.
Com o envelhecimento da população e a pressão crescente sobre hospitais e planos, o país encontra nas healthtechs não apenas inovação, mas também uma resposta concreta para os desafios de acesso, qualidade e sustentabilidade.