O que a Saúde pode aprender com outros setores sobre engenharia de dados?
02/10/2025

No primeiro dia do Healthcare Innovation Show, executivos voltaram os olhares para além das fronteiras do setor da saúde. Em um painel dedicado à engenharia de dados, no palco Gestão de Dados e Insights, Olivier Devaux, diretor da Serasa Experian, e Paulo Ishibashi, diretor executivo de Growth da Amil mostraram como práticas consolidadas em segmentos como finanças e telecomunicações podem inspirar a transformação digital da saúde.  

O debate trouxe reflexões sobre precificação inteligente, personalização extrema, protagonismo do paciente e combate a fraudes, apontando caminhos para que a indústria aproveite o poder dos dados, sem abrir mão da ética e da proteção das informações sensíveis. 

A experiência com dados em larga escala 

A Serasa Experian é líder em inteligência de dados e serviços de informação na América Latina, focada em ajudar empresas de diversos segmentos a tomar decisões de crédito e a gerenciar as finanças, com o objetivo de ajudá-las a proteger, desenvolver e recuperar seus negócios.  

Para isso, processa mais de 90 bilhões de dados diariamente, atendendo mais de 70 milhões de consumidores ativos. Essa capacidade de processamento massivo de informações tem permitido à Serasa Experian criar campanhas mais relevantes, reduzir desperdícios e aumentar a confiança na comunicação com clientes.  

Segundo Devaux, essa expertise pode ser diretamente aplicada ao setor de saúde, aonde os desafios vão além de cliques e conversões, envolvendo adesão a exames, tratamentos e mudanças de hábitos de prevenção.  

Veja os principais insights do debate: 

1. Precificação inteligente e segmentação de clientes 

O diretor da Serasa Experian destacou que a posição neutra da empresa no mercado permite observar tendências urgentes em diferentes áreas. No setor financeiro, por exemplo, as instituições evoluíram de uma visão binária e momentânea para análises contínuas, incorporando múltiplas dimensões além do score de crédito tradicional, incluindo risco reputacional, risco de negócio e até preços de commodities. 

Neste sentido, a capacidade de processamento em tempo real oferece insights valiosos para o setor de saúde, que enfrenta desafios crescentes de custos médicos e necessidade de precificação mais assertiva.  

Devaux explicou que o setor de telecomunicações também oferece referências importantes por meio da segmentação granulada de clientes, criando clusters analíticos constantemente monitorados. Essa abordagem permite prever qual produto é mais relevante para cada cliente, determinar campanhas mais relevantes e identificar momentos de risco de rotatividade, práticas que podem ser adaptadas para operadoras de saúde. 

O diretor enfatizou a evolução para o conceito de “segmento único”, onde cada paciente recebe campanhas e recomendações personalizadas através de modelagem avançada. Essa personalização extrema já é realidade em telecomunicações, onde sistemas identificam automaticamente quando um usuário chega a um aeroporto internacional e oferecem planos de roaming específicos. 

2. Protagonismo do paciente na gestão de dados 

É preciso trazer o paciente para o protagonismo da indústria de saúde. Ishibashi ressaltou que o plano de saúde está sempre entre os primeiros desejos dos brasileiros, junto, por exemplo, com casa própria, mesmo com a existência do Sistema Único de Saúde. 

De acordo com os executivos, a abordagem é utilizar os próprios dados do paciente e sua adesão aos tratamentos para devolver melhores ofertas e oportunidades. Essa estratégia personalizada pode transformar a relação entre operadoras e beneficiários, criando um ciclo virtuoso de engajamento e cuidado preventivo. 

O setor da saúde, porém, esbarra na da Lei Geral de Proteção de Dados, que representa um desafio existencial para empresas que trabalham com dados sensíveis. Devaux enfatizou que a Serasa desenvolveu uma cultura de extremo cuidado, onde todos os colaboradores são responsáveis coletivamente pela proteção dos dados. 

“A legislação é muito bem-feita, porque regula, mas não proíbe o tratamento, o trabalho com dados”, afirma. Devaux ressaltou a importância de explicar claramente os benefícios do compartilhamento de dados, não apenas para a empresa, mas principalmente para o paciente. 

3. Combate a fraudes com inteligência artificial 

O combate às fraudes também foi discutido, um problema transversal que afeta diversos setores da economia. A Serasa já atua com várias operadoras de saúde, oferecendo soluções que vão desde detecção de inconsistências cadastrais até mapeamento de redes criminosas. 

Devaux explicou que fraude não é algo pontual, mas um padrão que exige detecção de repetições e conexões entre diferentes dimensões. A empresa desenvolveu ferramentas visuais que permitem aos analistas detectar inconsistências e redes criminosas em tempo real, transformando o que antes demandava centenas de horas de análise manual. 

4. Oportunidade de crescimento a partir de dados 

A convergência entre engenharia de dados avançada e cuidados de saúde representa uma oportunidade transformadora para o setor. A capacidade de processar grandes volumes de dados em tempo real, combinada com técnicas de personalização e segmentação já comprovadas em outros segmentos, pode revolucionar tanto a experiência do paciente quanto a sustentabilidade financeira das operadoras de saúde. 

A implementação dessas tecnologias requer não apenas infraestrutura técnica adequada, mas também uma cultura organizacional que priorize a proteção de dados e a ética no uso de informações sensíveis, elementos fundamentais para o sucesso da transformação digital na saúde. 





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